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terça-feira, 7 de maio de 2013

Do exame da 4ª


(c) Olinda Gil, Sereia do Ilhéu

Agora é o 4º ano da escolaridade obrigatória. Com exame e tudo, como antigamente, na 4ª classe. 
Estive por lá, vi e participei, apesar de não ser professora do ensino básico.
Logo pela manhã, aportaram à Escola Secundária onde trabalho, magotes de crianças ruidosas, entre o entusiasmado e o curioso, pela novidade. 
Não só o espaço era novo  para aquelas crianças, como os professores e até o mobiliário. 
À sua dimensão, tudo se afigurava um pouco monumental, gigantesco mesmo; cerca de metade destes meninos passaram duas horas com as pernas a balançar no ar, os pés sem chegar a tocar no chão, numa posição de evidente desconforto. Tudo era tão estranho que houve mesmo quem chorasse e não fizesse nada de jeito. Outros, mais maduros, ou com mais capacidade de adaptação, lá se desenrascaram.
Vamos aguardar pela publicação dos resultados para ver quais são os ganhos efetivos que a introdução deste exame veio trazer. Ou se o show-off se saldou apenas por mais uma gigantesca operação de propaganda deste governo, o único que conheci até hoje a mandar pôr o seu símbolo nos cabeçalhos das provas.   
Não faço ideia quais os gastos que toda esta operação de logística acarretou, mas às vezes os gastos para este governo parecem importar muito, outras vezes, não faz mal! 
Na minha Escola várias centenas de alunos ficaram sem aulas e voltarão a ficar na sexta-feira, mas parece que também não faz mal. 
Faz de conta que veio um Papa e se deu tolerância de ponto, prontos!
Escolas houve em que se organizou visitas de estudo em massa para entreter os alunos cujas salas de aula estavam ocupadas com os seus colegas da primária a fazer exame.
Quanto se gastou? Quantas aulas se perdeu? Ora, isso não interessa nada! 
O que interessa é que se introduziu mais uma "medida de rigor", para preparar a criançada para a vida, ora pois! 
E, sobretudo, nada de confiar nesses "zecos" que enrouquecem nas salas de aula, para fazer das crianças homenzinhos e mulherzinhas, cultos e educados q.b. 
Essa malta, a quem o cabelo teima em embranquecer, e que despede a família às noites e aos fins-de-semana para fazer autênticas maratonas de correção de provas, na realidade só precisava era de uma boa desculpa para atrasar em cerca de dois dias mais uma dessas etapas, deixando no repouso da mesa de trabalho umas resmas de papel. 
E os alunos sempre estavam a precisar de uns feriados, pois isto de União Europeia só tem o nome e por cá nem sequer há férias de neve; assim sempre deu para um salto a Carcavelos a apanhar um valente escaldão! 

2 comentários:

  1. Confesso que tinha uma ideia do Nuno Crato um bocadinho melhor do que o que tem mostrado.
    Mana de acreditar nas pessoas. O problema é que, em calhando, já é tarde para nos emendarmos.

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    1. Também eu tinha essa ideia, meu amigo.
      O problema é que, depois de chegar ao poder, o discurso muda quase sempre, e para pior. Os males feitos muito tarde ou nunca terão retrocesso. E mesmo que tenham, as feridas custarão muitos anos a sarar e vão deixar vítimas pelo caminho. As primeiras são os professores, a entrar primeiro em burn-out e depois num processo de empobrecimento acelerado.
      Um abraço (preocupado).

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