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quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Tempo - o 366º dia


“ Não sei o que é o tempo
Não sei qual a verdadeira medida que ele tem, se tem alguma.
A do relógio sei que é falsa, divide o tempo especialmente, por fora.
A das emoções sei também que é falsa: 
divide não o tempo, mas a sensação dele.
A dos sonhos é errada; neles roçamos o tempo, 
uma vez prolongadamente, outra vez depressa,
E o que vivemos é apressado ou lento 
conforme qualquer coisa do decorrer cuja natureza ignoro.
Julgo, às vezes, que tudo é falso, 
e que o tempo não é mais que uma moldura
para enquadrar o que lhe é estranho.”
Fernando Pessoa
Enviado por Tita Fan 

Rossini nasceu há 220 anos, a 29 de fevereiro

Rossini, o grande compositor italiano de música erudita nasceu no dia 29 de fevereiro de 1792, ano bissexto. Faria portanto hoje 220 anos.


É o autor de óperas famosas como Guilherme Tell, Cinderella, A Pega Ladra, Uma Italiana em Argel ou O Barbeiro de Sevilha.


O que é um ano bissexto?

100 a 140 milhões de meninas mutiladas


Este é o número estimado de meninas que sofreram mutilação genital no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde. É alarmante esta verdade que, apesar da crueldade que a prática implica, continua a existir debaixo dos nossos olhos distraídos.

Estão referenciados 28 países africanos onde a mutilação genital feminina é prática corrente e socialmente aceite, mais uns quantos no resto do mundo, como a Indonésia. Portugal é considerado pela OMS como um país de risco. Esta ação tem lugar entre nós, por muito que nos custe a acreditar, assim como na vizinha Espanha, apesar de ser considerada crime.

A jornalista Conceição Queiroz apresentou um trabalho de reportagem a 28 de Março de 2011 sobre este flagelo, depois de ter andado por África a fazer um levantamento da situação. Numa região entre o Quénia e o Uganda encontrou uma província em que 90% das meninas eram mutiladas. E numa determinada comunidade propuseram-lhe algo como “se quiser, nós fazemos, para a sua reportagem”. Tratava-se de uma menina de três anos! A jornalista, não só evidentemente não quis, como nunca mais voltou ao Quénia.

Em Portugal, mais concretamente na região de Lisboa, a sua equipa de reportagem organizou uma simulação com câmara oculta para, fingindo-se interessada, encontrar o rastilho dos seus praticantes. Foi-lhe indicada uma mulher da Guiné, a viver no Cacém. Não chegaram a combinar o preço, mas o contacto disse-lhe que, “se ela não pudesse fazê-lo, ele conhecia quem poderia.”

Casos existem em que as meninas, quase sempre africanas, embora muitas vezes nascidas em Portugal, são levadas pelos familiares em período de férias aos seus países de origem para serem submetidas a esta barbaridade.  Há épocas propícias, à luz das culturas africanas, para a realização das mutilações: nalguns países é na época das chuvas, noutros no inverno, o que coincide com o período do nosso verão.

Quando estas meninas sobrevivem, crescem e acabam por casar e ser mães, em Portugal ou noutro país europeu. E nos serviços de saúde pode ocorrer um fenómeno tão bizarro quanto chocante: num número significativo de casos, os técnicos de saúde, por exemplo na sala de partos, não identificam as cicatrizes ou a dificuldade de dar à luz destas mulheres como sendo decorrentes de uma mutilação genital na infância; atribuem frequentemente estas anomalias a malformações de nascença ou partos anteriores realizados de forma incorreta! 
Como me custa a acreditar que tais sinais anatómicos não sejam por demais evidentes, pergunto: não será mais “confortável” não querer ver, do que encarar uma realidade que é chocante e com a qual não se sabe exatamente como lidar???

No Egito, país onde esta prática parece remontar ao tempo dos Faraós, alguns dos médicos adotaram a seguinte medida, que eles consideram profilática: já que a mutilação genital se faz, então que se faça com instrumentos cirúrgicos esterilizados, para evitar infeções. Na realidade, a OMS proibe que os médicos pratiquem qualquer mutilação que não seja por razões estritamente médicas e sempre para salvar uma vida, nunca para arruiná-la!

As “comadres”, “tias”, “avós” ou curandeiras, que normalmente fazem isto nas aldeias, podem usar desde facas, até lâminas de barbear, latas, cacos de vidro ou qualquer objeto cortante que tenham à mão. Estirpam o clítoris e os pequenos lábios da vulva das meninas e posteriormente cosem-na com uma agulha e uma linha.
Evidentemente que existe um grande número de meninas que morre por hemorragias ou infeção generalizada. Outras contraem infeções pélvicas graves, com sequelas crónicas de esterilidade. Outras ainda contraem hepatite B ou VIH, acabando por morrer também, ou contaminar os seus bebés, se chegarem a tê-los, contribuindo assim para espalhar o flagelo da SIDA em África.

Do ponto de vista da integridade física, aquelas raparigas nunca aprendem a lidar com o seu corpo como algo que dá prazer, pois sempre associam a sexualidade à dor. São mulheres que não estão (nem estarão nunca) inteiras. Também as sequelas psicológicas são incalculáveis. Sentimentos de frustração, rancor e  ódio aos seus carrascos são frequentes. Muitas vezes ao pai, pois embora a prática seja levada a cabo por mulheres, é incentivada pelos homens.

A deformidade resultante de uma mutilação genital pode ser ligeiramente atenuada com uma cirurgia plástica de reconstrução, o que pode custar cerca de 15 mil euros. Mas a mulher nunca chegará a obter prazer sexual, o que resulta numa incapacidade para ultrapassar completamente o traumatismo.

Há que alertar as consciências para esta barbaridade e não há outra forma senão a denúncia sistemática e contundente destas práticas. Há quem lhes chame “medievais”, mas têm a sua raíz muito mais para trás da Idade Média. Perde-se no tempo e nos mais remotos ritos tribais ancestrais, desde há pelo menos 3000 anos.

Há do meu ponto de vista uma componente machista nesta prática, pois a mulher mutilada é uma mulher que não tem prazer no sexo; logo, não procurará outros homens e a função dos seus órgãos será meramente reprodutora. Daqui podemos inferir que ela passa a ser um bem patrimonial, mas não um ser com direitos iguais, que poderia até desejar outros homens. Então, a mulher mutilada confere ao homem uma espécie de "garantia" de propriedade e de fidelidade! Logo, a continuidade das mutilações convém à mentalidade machista, reinante nas sociedades fortemente patriarcais.

As organizações ativistas neste campo alertam para o facto de que esta prática está mais difundida em países onde as meninas são impedidas de ir à escola, têm menos direitos que os seus irmãos rapazes e a quem é vedada uma série de direitos: à instrução, ao emprego, à autonomia e à cidadania, pois muitas vezes nem registo de nascimento possuem.
Portanto, como muitas vezes acontece, é o atraso civilizacional e o atavismo das mentalidades retrógradas a atentar contra os direitos humanos.

Mito, religião, magia? Não sei, mas a Cultura e as Tradições não podem justificar tudo. Nem tudo o que é “cultural” é aceitável do ponto de vista dos Direitos Humanos. Esta prática é intolerável sob todos os pontos de vista: físico, psicológico, social, cultural, ético e religioso.

O Sheik Munir, Imã da mesquita de Lisboa, foi ouvido a este respeito e afirmou categoricamente que tal prática não está enquadrada em sítio algum do Corão. E acrescentou ainda que “o próprio profeta Maomé teve várias filhas e nenhuma delas foi mutilada”. Também não há na Bíblia ou em qualquer outro livro sagrado apelos a esta prática, pelo que tentar fundamentá-la na religião é um argumento falacioso.

O pessoal médico deve ser alertado, assim como os governantes, os legisladores, os professores e toda a comunidade: uma prática que implique um desrespeito pelos valores da vida humana e da integridade dos indivíduos, física ou psicológica, deve ser pura e simplesmente banida e criminalizada, tanto à luz das leis dos países como do Direito Internacional.
 Lelé Batita
(Ilustração de autor que não foi possível identificar)

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

A palavra é "desejo, amor, comprometimento"



Ouçam até ao fim o depoimento da psicóloga Conceição Nogueira
É hora de banir preconceitos. Porque a questão é de preconceito; nada mais.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Pérola de Cultura vista por mão de artistas

(c) José Ruy 2012
Expressamente concebido para o 3º aniversário do Blogue
(c) José Ruy 2010


(c) João Amaral 2010

(c) Em@ - 2010

(c) Tacci 2010



Por ocasião do 3º aniversário do Blogue, cabe recordar alguns momentos altos das colaborações generosas por parte de amigos que gostam de frequentar estas páginas. 
Refiro neste momento alguns dos trabalhos que recebi no âmbito das artes plásticas: todos eles são tão belos, especiais e únicos, que se tornaram para mim verdadeiras preciosidades! 
São estes (e outros) amigos que, persistentemente, fazem com que este espaço continue.
Muito obrigada, do coração.

"O Artista" ganhou 5 Óscares

Contrariamente a tudo o que é habitual em Hollywood, desta vez o grande vencedor dos Óscares foi um filme que não é americano. 
"O Artista" é franco-belga, basicamente mudo e a preto e branco. Algo está a mudar na Academia? 


"A película franco-belga dirigida por Michel Hazanavicius, venceu nas categorias de melhor filme, melhor realizador, melhor ator (a estatueta foi entregue a Jean Dujardin), melhor banda sonora original e melhor guarda-roupa." (notícia aqui)


Meryl Streep ganhou, pela terceira vez, o Óscar de Melhor Atriz pelo filme "A Dama de Ferro" sobre Margaret Thatcher. 



Woody Allen foi o vencedor do Óscar para o Melhor Argumento Original" pelo filme "Meia-Noite em Paris", mas, como já aconteceu em circunstâncias idênticas, não compareceu à cerimónia...

(Há uma Infografia interativa na Visão com todos os premiados em nas categorias principais.)

Memórias do Cinema

Em noite de festa na Academia de Hollywood, nada melhor do que honrar a 7ª Arte neste dia, recordando a grande Elizabeth Taylor, data em que ela faria 80 anos.


Na Europa, o Cinema ficou mais pobre, pois no dia 25 o ator Erland Josephson, com 88 anos; era um dos preferidos do realizador sueco Ingmar Bergman (em filmes como A Hora do Lobo, Lágrimas e Suspiros, Cenas da Vida Conjugal, A Flauta Mágica, Sonata de Outono, Fanny e Alexandre e no seu último filme, o magnífico Saraband em 2003). Josephson também interpretou filmes do cineasta Andreï Tarkovski (Nostalghia e O Sacrifício).

Noite de Óscares em Hollywood


Veja aqui os nomeados e acompanhe a atribuição dos prémios em direto. 

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Metáfora

Trago nas mãos um búzio ressoante
Onde os ventos do mar se reuniram,
e das mãos, ou do búzio murmurante,
alastra em cor e som irradiante
A beleza que os olhos despiram
JOSÉ SARAMAGO, in OS POEMAS POSSÍVEIS (Portugália, 1966) 
Ilustração: José Saramago, desenhado por Pedro Covo

Terá ele estado sexta feira na AR?

O Papa Bento XVI diz que (do DN Globo):

Matrimónio heterossexual é único "digno" para procriar  


O papa Bento XVI afirmou hoje que a união entre um homem e uma mulher no matrimónio é o único "lugar digno" para trazer ao mundo um novo ser humano, procriação que é expressão da sua união biológica e espiritual.

Fotografia © REUTERS/Giampiero Sposito

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Escrever é terapia


Escrever é terapia
tenha-a, assim, sempre à mão
Antiga sabedoria
Quer se acredite, quer não!

A amizade corre, corre
"Pérolas" quer encontrar
E foi tanta a sorte minha
Esta apareceu pr'a ficar!

Por escrever o que sinto
Não penso que sou poeta
Certo é que nunca minto
E tento não ser pateta!

Tita Fan

Memórias de uma aula no Liceu de Setúbal


Barreiro, 4 de Outubro de 1967
(Quarta-feira)

Segundo dia de aulas. Continua o desassossego, com o pessoal a trocar beijos, abraços e confidências, depois desta longa separação que foram 3 meses e meio de férias. Estávamos todos fartos do verão, com saudades uns dos outros. A sala é a mesma do ano passado, no 1º andar e cheirava a nova, tudo encerado e polido, apesar do material já ser mais do que velho. Somos o 7.º A e como não chumbou nem veio ninguém de novo, a pauta é exactamente igual à do ano passado. Eu sou o n.º34, e fico sentada na segunda fila, do lado da janela, cá atrás, que é o lugar dos mais altos.

Hoje tivemos, pela primeira vez, Organização Política e apareceu-nos
um professor novo, acho que é a primeira vez que dá aulas em Setúbal,dizem que veio corrido de um liceu de Coimbra, por causa da política.
Já ontem se falava à boca cheia dele, havia malta muito excitada e contente porque dizem que ele é um fadista afamado. Tenho realmente uma vaga ideia de ouvir o meu tio Diamantino falar dele, mas já não sei se foi por causa da cantoria se por causa da política. A Inês contou que ouviu o pai comentar, em casa, que o homem é todo revolucionário, arranja sarilhos por todo o lado onde passa. Ela diz que ele já esteve preso por causa da política, é capaz de ser comunista. Diferente dos outros professores, é de certeza. Quando
entrou na sala, já tinha dado o segundo toque, estava quase no limite
da falta. Entrou por ali a dentro, todo despenteado, com uma gabardine na mão e enquanto a atirava para cima da secretária, perguntou-nos:
- Vocês são o 7.º A, não são? Desculpem o atraso mas enganei-me e fui parar a outra sala. Não faz mal. Se vocês chegarem atrasados também não vos vou chatear.
Tinha um ar simpático, ligeiro, um visual que não se enquadrava nada com a imagem de todos os outros professores. Deu para perceber que as primeiras palavras, aliadas à postura solta e descontraída, começavam a cativar toda a gente. A Carolina virou-se para trás e disse-me que já o tinha visto na televisão, a cantar Fado de Coimbra. Realmente o rosto não me era estranho. É alto, feições correctas, embora os dentes não sejam um modelo de perfeição e é bem parecido, digamos que um homem interessante para se olhar. O Artur soprou-me que ele deve ter uns 36 anos e acho que sim, nota-se que já é velho. Depois das primeiras palavras, sentou-se na secretária, abriu o livro de ponto, rabiscou o que tinha a escrever e ficou uns cinco minutos, em silêncio, a olhar o pátio vazio, através das janelas da sala, impecavelmente limpas.

Enquanto ele estava nesta espécie de marasmo nós começámos a bichanar uns com os outros, cada um emitindo a sua opinião, fazendo conjecturas. Às tantas, o bichanar foi subindo de tom e já era uma algazarra tão grande que parece tê-lo acordado. Outro qualquer professor já nos teria pregado um raspanete, coberto de ameaças, mas ele não disse nada, como se não tivesse ouvido ou, melhor, não se importasse. Aliás, aposto que nem nos ouviu. O ar dele, enquanto esteve ausente, era tão distante que mais parecia ter-se,efectiva-mente, evadido da sala. Quando recomeçou a falar connosco, em pé, em cima do estrado, já tinha ganho o primeiro round de simpatia.

Depois, veio o mais surpreendente:

- Bem, eu sou o vosso novo professor de Organização Política, mas devo dizer-vos que não percebo nada disto. Vocês já deram isto o ano passado, não foi? Então sabem, de certeza, mais que eu.

Gargalhada geral.

- Podem rir porque é verdade. Eu não percebo nada disto, as minhas
disciplinas, aquelas em que me formei, são História e Filosofia, não
tenho culpa que me tivessem posto aqui, tipo castigo, para dar uma
matéria que não conheço, nem me interessa. Podia estudar para vir aqui desbobinar, tipo papagaio, mas não estou para isso. Não entro em palhaçadas.
Voltámos a rir, numa sonora gargalhada, tipo coro afinado, mas ele ficou impávido e sereno. Continuava a mostrar um semblante discreto, calmo, simpático.

- Pois é, não vou sobrecarregar a minha massa cinzenta com coisas absolutamente inúteis e falsas. Tudo isto é uma fantochada sem interesse. Não vou perder um minuto do meu estudo com esta porcaria.

Começámos a olhar uns para outros, espantados; nunca na vida nos tinha passado pela frente um professor com tamanha ousadia.

- Eu estudaria, isso sim, uma Organização Política que funcionasse,como noutros países acontece, não é esta fantochada que não passa de pura teoria. Na prática não existe, é uma Constituição carregada de falsidade. Portugal vive numa democracia de fachada, este regime que nos governa é uma ditadura desumana e cruel.

Não se ouvia uma mosca na sala. Os rostos tinham deixado cair o sorriso e estavam agora absolutamente atónitos, vidrados no rosto e nas palavras daquele homem ímpar. O que ele nos estava a dizer é o que ouvimos comentar, todos os dias, aos nossos pais, mas sempre com as devidas recomendações para não o repetirmos na rua porque nunca se sabe quem ouve. A Pide persegue toda a gente como uma nuvem de fumo branco, que se sente mas não se apalpa.

- Repito: eu não percebo nada desta disciplina que vos venho leccionar, nem quero perceber. Estou-me nas tintas para esta porcaria.Mas, atenção, vocês é outra coisa. Vocês vão ter que estudar porque,no final do ano, vão ter que fazer exame para concluírem o vosso 7.ºano e poderem entrar na Faculdade. Isso, vocês tem que fazer. Estudar.
Para serem homens e mulheres cultos para poderem combater, cada um onde estiver, esta ditadura infame que está a destruir a vossa pátria e a dos vossos filhos. Vocês são o amanhã e são vocês que têm que lutar por um novo país.
Não vão precisar de mim para estudar esta materiazinha de chacha,basta estudarem umas horas e empinam isto num instante. Isto não vale nada. Eu venho dar aulas, preciso de vir, preciso de ganhar a vida,mas as minhas aulas vão ser aulas de cultura e política geral. Vão ficar a saber que há países onde existem regimes diferentes deste, que nos oprime, países onde há liberdade de pensamento e de expressão, educação para todos, cuidados de saúde que não são apenas para os privilegiados, enfim, outras coisas que a seu tempo vos ensinarei.
Percebem? Nós temos que aprender a não ser autómatos, a pensar pela nossa cabeça. O Salazar quer fazer de vocês, a juventude deste país, carneiros, mas eu não vou deixar que os meus alunos o sejam. Vou abrir-lhes a porta do conhecimento, da cultura e da verdade. Vou ensinar-lhes que, além fronteiras, há outros mundos e outras hipóteses de vida, que não se configuram a esta ditadura de miséria social e cultural.
Outra coisa: vou ter que vos dar um ponto por período porque vocês têm que ter notas para ir a exame. O ponto que farei será com perguntas do vosso livro que terão que ter a paciência de estudar. A matéria é uma falsidade do princípio ao fim, mas não há volta a dar, para atingirem os vossos mais altos objectivos. Têm que estudar. Se quiserem copiar é com vocês, não vou andar, feita toupeira, a fiscalizá-los, se quiserem trazer o livro e copiar, é uma decisão vossa, no entanto acho que devem começar a endireitar este país no sentido da honestidade, sim porque o nosso país é um país de bufos, de corruptos e de vigaristas.
Não falo de vocês, jovens, falo dos homens da minha idade e mais velhos, em qualquer quadrante da sociedade. Nós temos sempre que mostrar o que somos, temos que ser dignos connosco para sermos dignos com os outros. Por isso, acho que não devem copiar. Há que criar princípios de honestidade e isso começa em vocês, os futuros homens e mulheres de Portugal. Não concordam?
Bem, por hoje é tudo, podem sair. Vemo-nos na próxima aula.

Espantoso. Quando ele terminou estava tudo lívido, sem palavras. Que fenómeno é este que aterrou em Setúbal?
Já me esquecia de escrever. Esta ave rara, o nosso professor de Organização Política, chama-se Zeca Afonso.

Hélida Carvalho Santos

Pudding terapêutico

(Foto da web cuja autoria não foi possível identificar)


"Pudding era apenas mais um gato abandonado quando a norte-americana Amy Jung decidiu, num ato de impulso, adotá-lo. A recompensa pela boa ação não tardou em chegar: nessa mesma noite o animal salvou a nova dona de um ataque hipoglicémico."

O resto da história aqui.

Melhor do que os de certos humanos, este comportamento leva-me necessariamente para a Filosofia Budista, segundo a qual todos os seres sensíveis devem ser reconhecidos pelo homem como sendo dignos de  respeito. 
Neste caso, mais do que respeito, ternura e gratidão. Pudding revelou muita sensibilidade, inteligência e capacidade de tomar decisões rápidas e acertadas. É caso para dizer que só lhe falta falar e marcar o 911. 
Cada vez mais se salienta a importância dos animais de companhia, sobretudo para os doentes, os solitários e os cidadãos considerados idosos. Talvez casos como o de Pudding possam levar as pessoas ligadas à Ciência a começar a encarar acerca dos animais hipóteses até aqui nunca equacionadas: por exemplo, qual a real inteligência dos nossos amigos de quatro patas.

Incrível, Melga! Fantástico, Mike!

"O projecto de lei do BE sobre a adopção homossexual foi rejeitado com os votos contra do PSD, do CDS e do PCP e de apenas nove deputados do PS." (Daqui)


O PCP a fazer "coro" com os partidos de direita no voto contra a adoção de crianças por casais homossexuais! Assim, não admira que tenham dado os pêsames pela morte do ditador da Coreia do Norte.
Os pormenores aqui.

Balanço, contas e conclusão



- Estou há 3 anos a escrever para um auditório basicamente desconhecido;
- a estatística revela 10000 visitas por mês;
- houve (publicados) 3000 comentários;
este é o post número 2300;
- publico com alguma frequência materiais enviados por colaboradores regulares;
- eles têm entre 40 e 80 anos e estão ligados profissionalmente às Artes e/ou à Educação;
- reúno essa equipa pelo menos uma vez por ano: não é necessário falar muito;
- não usufruímos de quaisquer proveitos materiais ou outros pelos textos ou desenhos;
- todos amamos a beleza, o conhecimento, a arte, a cultura;
- todos defendemos a liberdade, a criatividade, a verdade, a justiça e o humanismo;
- enquanto responsável principal, já pensei várias vezes em fechar o Blogue para não "pagar a fatura", mas enquanto a vista permitir e o pensamento se impuser sobre outros interesses ou qualquer forma de comodismo (ou conformismo), continuarei embora sem compromisso de regularidade ou quantidade;
- encaro esta iniciativa como um serviço cívico de difusão cultural;
- ah, já me esquecia, muito obrigada por continuarem a gostar.
Fiquem muito bem. Eu já estive pior e vou melhorando.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

3 pérolas, contra ventos e marés!


Pearl no 3º aniversário do Blogue

             Pearl - Ilustração de (c) Luís Diferr para o 3º aniversário de Pérola de Cultura


Aproveito a ocasião do aniversário para agradecer aos colaboradores deste Blogue a sua extraordinária dedicação e generosidade, sem as quais estas páginas já teriam há muito encerrado. 
Aos meus amigos, que com o seu talento preenchem este espaço com sabedoria e arte, o meu profundo agradecimento, sobretudo pelo incentivo e persistência em manter de pé um Blogue, sem qualquer contrapartida que não seja o prazer da partilha e o gosto pela Cultura. 
Obrigada também aos leitores do Blogue, cujo interesse justificou a sua existência ao longo de três anos.

Que se cumpra o «Dito Fado»

Fevereiro, mês importante
Uma “Pérola”, então, nasceu!
Sua Estrela era brilhante
Na Cultura se acolheu.
Três anos passaram…
E sempre, sempre a brilhar
Porque as «Fadas» a fadaram:
“Cultura irás partilhar!”
À “Pérola” meus parabéns
Mais anos aí virão…
À “Musa” muita saúde
Pr’a lutar com energia
Vencer qualquer situação
Conseguir realizar
O que sempre for sonhado!

Que se cumpra o «Dito Fado»

Tita Fan

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

25 anos sobre a morte de Zeca Afonso

(Foto: Wikipedia)


Passam hoje 25 anos sobre a morte do Zeca, aquele que dizem ter sido o maior cantor de intervenção em Portugal. Fez escola e deixou discípulos à altura; foi resistente anti-fascista e preso. 
Nasceu em Aveiro a 2 de Agosto de 1929, formou-se em Coimbra em Histórico-Filosóficas e morreu em Setúbal a 23 de Fevereiro de 1987, vítima de esclerose lateral amiotrófica.
Last but not least, foi professor de História. Na sua condição de ateu, o seu funeral não saiu da igreja, mas da Escola Secundária de S. Julião, em Setúbal.
Em sua memória realizam-se hoje concertos e recitais um pouco por todo o país e também em Barcelona, ou não fossem os catalães um povo de resistentes e baladeiros.
A Associação José Afonso tem muita informação complementar sobre estas evocações.
Também aqui na Pérola de Cultura o recordo com saudade (parece que foi ontem), no seu último concerto no Coliseu de Lisboa, onde tive a felicidade de estar presente. 
"Os Vampiros" é uma canção que poderia ter sido escrita hoje, em tempos de crise económica.



Post atualizado às 11:27

A morte saiu à rua num dia assim, há 25 anos

Amigo maior que o pensamento


"Um abraço eterno para o Zeca, que morreu faz hoje 25 anos . Parece-me ontem.
Sim parece ontem que fui a Setúbal enterrar o homem que foi meu exemplo, meu mentor, meu guia, meu amigo, meu farol de exemplo, probidade e independência. Um momento de mim fica com ele todos os dias, sobretudo submerso nestas desgraças que nos mergulham no lixo e na ausência de um Portugal cultural. E pergunto-te Zeca que dirias tu a isto tudo. Morrias outra vez de susto e tristeza eu sei. Por isso te lembro com tanta fraternidade a presença eterna.
Fica a imagem do teu sorriso imenso, engelhando os olhos de ironia, por detras dos oculos antiquados. E das tuas distracções e descuidos, que nos divertiam. Ninguem foi um farol de referência tão grande para a sua época como tu foste. Amigo maior que o pensamento. Abraço-te daqui comovido e próximo. Até um dia destes. A gente vê-se.
E cantaremos enfim, hossanas heróicas e cantigas de um pais maior do que a diferença, um outro dia, noutra cidade. Fica combinado".
Pedro Barroso


Adoção de crianças por casais homossexuais

O tema é fraturante e não é nada pacífica a sua discussão na sociedade. A iniciativa vai à Assembleia da República por via do Bloco de Esquerda e dos Verdes, que consideram a presente proibição "inadmissível".  


BE defende apadrinhamento civil e procriação medicamente assistida para casais do mesmo sexo. 
"Queremos resolver uma situação inadmissível. Portugal é o único país do mundo que legalizou o casamento entre pessoas do mesmo sexo, impossibilitando, no entanto, a adopção”, referiu Cecília Honório. (Notícia Daqui )


A deputada do Bloco de Esquerda Cecília Honório defendeu hoje no parlamento dois projetos de lei, com base no facto de que me Portugal há 23000 crianças que são criadas por homossexuais ou casais homossexuais. 





(Post atualizado dia 24, às 18:00)

Inéditos de Fernando Pessoa editados hoje


"Quarenta e três textos inéditos de Fernando Pessoa sobre sebastianismo e o Quinto Império foram encontrados na sua famosa arca pelos investigadores Pedro Sepúlveda e Jorge Uribe e publicados com outros 58 já conhecidos sobre o mesmo tema. O resultado estará a partir de quinta-feira nas livrarias portuguesas, numa edição da Ática, chancela da Babel, sob o título “Sebastianismo e Quinto Império”, mais um volume da Nova Série de Obras de Fernando Pessoa, coordenada pelo pessoano colombiano Jerónimo Pizarro".
Ler mais aqui.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

José Ruy no Centro Nacional de Cultura


“O grande mestre, José Ruy, brilhou no Centro Nacional de Cultura na sessão intitulada "Do Analógico à Litografia Digital: 1947-2012" na presença de Guilherme d'Oliveira Martins. Mais uma vez o seu talento e vasta experiência partilhado com todos os presentes, revelaram o talento ímpar de quem muito contribuiu para o desenvolvimento das artes gráficas no país e que, apesar da sua idade, tão bem se adaptou às novas tecnologias, tirando delas um invulgar partido, sem perda de qualidade no seu traço. (...)
Amanhã, dia 23 às 21h, no Centro Nacional de Banda Desenhada e Imagem, na Amadora, José RUY participa no encontro "Por esta Peregrinação acima" , em homenagem ao seu trabalho em BD da belissima obra de Fernão Mendes Pinto que conta com a participação de Fausto e da sua música "Por este rio acima".
Gloria Lambelho

A letra oficial dos documentos do MEC

Têm surgido dúvidas sobre a ordem emitida pela DEGRHE sobre não só a aplicação do Acordo Ortográfico em todos os documentos de serviço, como também a sua formatação em letra Trebuchet MS 10. Não tenho nada contra esta letra, penso até que é de fácil legibilidade, mas, francamente, corpo 10, faz-me supor que, dentro de pouco tempo, todos os professores tenham de usar lupa para ler e escrever.

Os tipos de letra que mais frequentemente utilizo estão aqui: nos documentos pessoais ou de serviço, nos e-mails, no blogue, etc. 
É interessante compará-las. 
As Atas eram em Arial Narrow, que o Blogger não consegue reproduzir.


A letra que sublinhei a cor, será aquela que, pelos vistos, teremos de usar a partir de agora no serviço.


Pérola de Cultura                     Arial 10
Pérola de Cultura                      Calibri 10             
Pérola de Cultura      Courier New 10
Pérola de Cultura                          Georgia 10
Pérola de Cultura                     Tahoma 10               
Pérola de Cultura                               Times New Roman 10
Pérola de Cultura                     Trebuchet MS 10
Pérola de Cultura                  Verdana 10

Querem-nos formatados, como maçãs parafinadas de igual calibre, provenientes dos mercados da UE, tão brilhantes quanto insípidas. Onde fica a criatividade? Não pode existir, sob pena de o trabalho correr o risco de ser demasiado personalizado. 
Onde é que eu já vi algo parecido?

Pavilhão tailandês em Belém


Sempre desejei conhecer a Tailândia. Por muitos motivos, tal nunca se concretizou. Talvez por isso, sempre que me foi possível visitar exposições internacionais, procurei visitar os pavilhões daquele país, numa tentativa de absorver um mínimo da sua cultura e da sua estética. Foi o caso da Expo 98 em Lisboa e da Expo 2000 em Hannover. 
Agora, acaba de ser inaugurado um pavilhão no Jardim de Belém, pela princesa da Tailândia,  Maha Chakri Sirindhorn, que se juntou a Maria Cavaco Silva e ao presidente da Câmara de Lisboa António Costa ontem. A efeméride foi integrada nas comemorações dos 500 anos das relações diplomáticas de Portugal com aquele país.

Notícia aqui.

Planta jurássica

Foi descoberta em tocas de esquilos, congelada, há 30.000 anos. Cientistas russos conseguiram ressuscitá-la.
Notícia aqui.

Pontos de vista

(Cartoon cuja autoria não foi possível identificar)

A importância dos textos

 " Les textes peuvent maintenant être lus non plus comme un résultat d’un don ou d’une inspiration divine mais bien comme le produit d’un ensemble de taches qui, répertoriées, explicitées, théorisées, deviennent accessibles à quelqu’un qui veut apprendre à écrire à partir des lectures qu’il fait. 
Claudette Oriol-Boyer
(Cortesia de Cátia Barroso

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Diplomas carnavalescos


(imagem de autor que não foi possível identificar)

O Blog de Ar Lindo remete hoje para as publicações do novo Estatuto da Carreira Docente e do novo regime de Avaliação de Desempenho Docente. 
Parece partida de Carnaval, mas não é. 
Na verdade, quando ontem o ministro Nuno Crato dizia na televisão que nesta altura (referia-se à pausa letiva de Carnaval), os professores "podem fazer tarefas que não impliquem a presença dos estudantes nas escolas, como preparar aulas ou fazer reuniões", esqueceu-se de acrescentar "ou estudar o novo ECD e o novo regime de ADD".
Assim se explica porque o dia de Carnaval não poderia este ano ser feriado: o Diário da República ia publicar diplomas de suma importância para a vida dos professores.
Boa leitura; tenho a certeza que vão divertir-se.

La Nuit des Masques



Com música de Chico Buarque de Holanda.

Pearl no Carnaval

Pearl no Carnaval - (c) Luís Diferr


Esta imagem foi especialmente produzida para este Blogue no dia de Carnaval de 2011, por Luís Diferr, um dos seus colaboradores permanentes. 
Republico-a este ano, considerando que se trata de uma bela imagem, que não perdeu o sentido nem a atualidade. O Carnaval está moribundo em Portugal, mas não em Veneza...
Em 2011 o dia de Carnaval coincidiu com o Dia Internacional da Mulher e o Luís revelou um pouco mais da Pearl, a musa da Pérola de Cultura, como forma de exaltar a beleza do corpo feminino.
Pode ver o post dessa altura, chamado "Carnis Valles".
Apesar de este ano o dia de Carnaval não ser concedido como um "feriado" nem o espírito do país e das pessoas ser propriamente de festa, desejamos a todos os leitores e amigos um Carnaval feliz.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Um fenómeno chamado Adele


Confesso que só agora me detive a escutar com atenção a sua voz. Compreende-se porque arrecadou cinco Grammys de uma só vez! Foram eles: "melhor canção", "melhor letra" e "melhor videoclip de curta duração" para o tema "Rolling in the Deep", "melhor álbum do ano" e "melhor álbum pop" para o seu segundo disco "21", e "melhor performance pop a solo" com "Someone Like You". Ouçam.

José Ruy e a Litografia digital


Centro Nacional de Cultura, quarta-feira, dia 22, às 18,30.
Rua António Maria Cardoso, Lisboa
Técnico de artes gráficas, decorador, autor de Banda Desenhada, ilustrador e pintor, José Ruy nasceu a 9 de maio de 1930.Esteve particularmente associado a muitas das mais importantes revistas da BD nacional e tem editados perto de quarenta álbuns, o que o torna num dos autores mais produtivos de sempre.Importante também é o seu trabalho como ilustrador, tendo participado em vários livros e revistas, como Mundo Feminino, Almanaque Alentejano, Almanaque do Algarve, Seleções de Mecânica Popular e Diário de Notícias.

Fausto Bordalo Dias e José Ruy no CNBDI

Fausto Bordalo Dias e José Ruy no CNBDI, na próxima 5ª feira dia 23 de Fevereiro, pelas 21H.


Em 7 de Dezembro de 1957, A Peregrinação de Fernão Mendes Pinto foi capa do nº 310 do Cavaleiro Andante anunciando a história que José Ruy desenharia ao longo das setenta e cinco semanas em que as viagens e as aventuras de Fernão Mendes Pinto apaixonariam os pequenos leitores. Fausto Bordalo Dias foi uma das crianças que, pelo traço de José Ruy, conheceu e se encantou com as histórias da Peregrinação.

Anos mais tarde, em 1982, Fausto criou Por Este Rio Acima uma das mais extraordinárias obras da Música Popular Portuguesa, o primeiro volume de uma trilogia continuada em Crónicas da Terra Ardente (1994) e completada em 2011 com Em Busca das Montanhas Azuis. Também em 1982 José Ruy reunia em álbum as pranchas publicadas 25 anos antes no Cavaleiro Andante e, em 1983, a BD de José Ruy e a música de Fausto voltariam a cruzar-se em encontros e tertúlias um pouco por todo o país.

Desde então ficou uma forte amizade sedimentada no cruzamento de ambas as artes e a promessa da concretização de outras iniciativas em torno do fantástico livro de viagens e aventuras que é a Peregrinação.

Agora, e quase três décadas passadas, é tempo de ver cumprido um sonho, mais uma etapa desta amizade traduzida na animação em vídeo das pranchas de José Ruy com música de Fausto Bordalo Dias



 Integrado na actividade "Às quintas falamos de BD". A não perder.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Um domingo às avessas


Não, não é cansaço... 
É uma quantidade de desilusão 
Que se me entranha na espécie de pensar, 
E um domingo às avessas 
Do sentimento, 
Um feriado passado no abismo... 
Não, cansaço não é... 
É eu estar existindo 
E também o mundo, 
Com tudo aquilo que contém, 
Como tudo aquilo que nele se desdobra 
E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais. 
Não. Cansaço por quê? 
É uma sensação abstrata 
Da vida concreta — 
Qualquer coisa como um grito 
Por dar, 
Qualquer coisa como uma angústia 
Por sofrer, 
Ou por sofrer completamente, 
Ou por sofrer como... 
Sim, ou por sofrer como... 
Isso mesmo, como... 
Como quê?... 
Se soubesse, não haveria em mim este falso cansaço. 
(Ai, cegos que cantam na rua, 
Que formidável realejo 
Que é a guitarra de um, e a viola do outro, e a voz dela!) 
Porque oiço, vejo. 
Confesso: é cansaço!... 

Álvaro de Campos