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segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Defenestração precisa-se...

Maluda - janela de Lisboa
... para quem tem o mau gosto e a triste ideia de abolir do calendário dos dias comemorativos aquele que foi o da restauração da independência de Portugal. Espanha já pousava aqui o seu poder desde há 60 longos anos. E chegou o dia de dizer basta!
Sem o dia 1 de dezembro de 1640, já todos falaríamos castelhano há muito tempo, já não seríamos país e nenhuma das outras datas que ainda nos restam seriam comemoradas.
Conseguiram abolir dois dos mais simbólicos feriados para a identidade de Portugal: o 1 de dezembro e o 5 de outubro; e assim, com eles, numa penada só, remeter para as brumas os ideais republicanos e a ideia de independência.
Depois das demências sebastiânicas, temos os desmandos de um bando de imbecis que só vêem cifrões diante do nariz e para quem até os mais significativos eventos da História bem podem ser apagados da memória coletiva. 
São uns tristes, para quem a cultura é um superavit de luxo para distração de intelectuais! E nós que os aturemos!

Sobre o dia mundial de luta contra a SIDA

Gustav Klimt - Water serpents 
Portugal continua a ser campeão dos infetados por VIH na União Europeia; uma vergonha e uma tristeza. 
Este ano foi diagnosticado um milhar de novos casos. Haverá falta de informação sobre esta doença? Nem por sombras! 

Dos estudos realizados, a maioria das pessoas inquiridas, em amostras de população diversificadas, conhece os riscos, as formas de transmissão e os procedimentos a adotar para a contenção desta epidemia.

As populações mais jovens, nomeadamente nas Universidades, são as que mais conhecem sobre a doença, desde os sintomas até às formas de contágio, mas são também as que mais assumem comportamentos de risco. 

Isto para mim constitui um paradoxo e, como todos os paradoxos, é irresolúvel. 
Segundo relato de especialistas, esses jovens confessam em consulta que sabem os riscos que correm, assumem-nos, e vão fazendo testes de despistagem de 3 em 3 ou 4 em 4 meses, a fim de driblar aquilo que eles calculam como ‘período de janela’ do vírus. 

Isto é como andar a dar voltas na borda do poço da morte em busca da adrenalina.
Mas o paradoxo não fica por aqui: esses indivíduos, muitas vezes de origem socio-cultural média ou elevada, um dia recebem um teste de VIH positivo e depois indignam-se com as situações de discriminação social com que mais tarde ou mais cedo se deparam.

Os estereótipos e o preconceito ainda por aí andam instalados e estes doentes continuam muitas vezes a ser conotados com os anteriormente designados “grupos de risco”, conceito hoje em dia obsoleto. A prostituição, os consumidores de drogas (por via intra-venosa) e os homossexuais masculinos foram inicialmente os grupos onde a doença mais se difundiu. Hoje em dia estas são situações cujos envolvidos passaram a proteger-se muito mais, o que fez com que o número de infetados tenha vindo a diminuir drasticamente. Primeiro nos EUA e depois em toda a Europa.

É no continente africano que o problema persiste de forma mais grave em todas as faixas da população, inclusivamente com muitas crianças a nascerem já infetadas. A escassez de meios de combate à doença, mas também as dificuldades profundas no âmbito da educação para a saúde, com todo um desfazer de mitos que isto implica, são os maiores obstáculos.

No mundo ocidental hoje já não se fala em grupos de risco, mas continua a falar-se em comportamentos de risco. E esses continuam a existir, e muitas vezes com consciência, à revelia de todas as campanhas e avisos por parte das instituições de Saúde, técnicos especializados e publicidade institucional. 
Em Portugal nem ONGs como a Abraço ou outras, têm conseguido com as suas campanhas, mudar este estado de coisas.

As relações sexuais fortuitas desprotegidas e o número elevado de parceiros são a principal causa de transmissão do VIH entre a população jovem portuguesa; a frequência de prostitutas e o subsequente contágio da parceira são a maior causa de disseminação da doença entre a população idosa (consideremos, para facilitar, os maiores de 65 anos). Ainda assim, as pessoas sabem disto. 

Sabemos que é muito difícil alterar comportamentos nas camadas mais idosas. Mas seria de esperar que as gerações mais jovens, mais esclarecidas, pudessem ter uma consciência maior da necessidade de assumir certos hábitos saudáveis, tanto sobre a educação para a Saúde, como a consciência de Cidadania que consiste em não se estar nas tintas para o outro com quem se está. Quer esse "estar" signifique uma vida, um ano ou apenas uma noite.

Faço questão de chamar a atenção dos meus alunos para o sentido de responsabilidade que deve estar associado à sexualidade, nas aulas de Educação Sexual. Mas parece não ser suficiente quando chegam à Universidade. No meio das praxes e dos copos, não se sabe bem, mas parece que tudo pode acontecer.

Poderemos neste ponto perguntar: - E as faixas etárias intermédias, como estão? As dos trintões, quarentões, cinquentões? Ou já se safaram entre os pingos da chuva e entretanto ganharam juízo, ou já morreram, ou então ainda fazem parte dos que continuam a jogar à roleta russa… Até um dia!