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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Atenas e a simbologia do fogo

(c) Bicanski/Getty Images

Ver o que se está a passar em Atenas causa-me tristeza e apreensão. A cidade-símbolo da cultura helénica, que tanto ofereceu ao mundo ocidental, em chamas, é arrepiante e a sensação é a do fim de um ciclo que se aproxima.
Ao ver Atenas a arder não posso deixar de pensar no fogo como o arché de todas as coisas de que Heraclito falava: uma substância geradora de ciclos de criação e mutação, transformadora do ser das coisas. 
Pode ser essa a alegoria de Atenas nestes dias. A de uma cidade que quer desesperadamente transformar a vida e os seres noutra coisa. E usa o fogo como símbolo dessa vontade indomável. Manifestamente, algo está em permanente, ou iminente, mudança.

Não sei se era ou não possível  evitar cair neste momento na vertente trágica que os gregos carregam no seu ADN. Mas se o crescendo de tensão que se vive na pólis levou a que as coisas chegassem a este ponto, nada ficará como era dantes. 
Então, que os filhos de Atena façam do fogo a sua substância redentora, o seu arché primordial, criador de uma nova era. E que haja a suficiente clarividência para fazer emergir uma nova ordem a partir do caos.

"Heraclito atribuiu o fogo como princípio de todas as coisas. "O fogo transforma-se em água, sendo que uma metade retorna ao céu como vapor e a outra metade transforma-se em terra. Sucessivamente, a terra transforma-se em água e a água, em fogo." Mas Heraclito era mobilista e afirmava que todas as coisas estão em movimento como um fluxo perpétuo. Ou seja, usa o fogo apenas como símbolo de todo este movimento. Heraclito imaginava a realidade dinâmica do mundo sob a forma de fogo, com chamas vivas e eternas, governando o constante movimento dos seres."
Heraclitus-Johannes Moreelse

"πάντα ῥεῖ " (Tudo flui), Heraclito de Éfeso, 535-475 a.C.

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