Os Omnibus, Os americanos, O Chora e a Carris
Na Lisboa dos nossos avós a deslocação por via motorizada era um verdadeiro sonho. Em meados do século XIX começaram a circular os primeiros transportes coletivos de tração animal.
Por volta de 1835, foram os “omnibus” (em latim, transporte para todos) os primeiros transportes coletivos que começaram a circular dentro da cidade. Eram carros grandes e desajeitados, com janelas de cada lado e porta nas traseiras, com lotação para 15 pessoas sentadas em bancos corridos, puxados por duas parelhas de animais.
A rede alargou-se em 1845 aos arredores (Lisboa-Belém, Lisboa- Sintra, Lisboa-Mafra).
Entre 1860 e princípios da década de 1890 os transportes públicos foram assegurados por 15 companhias de omnibus e uma companhia de transportes a CCFL.
Contemporâneos foram os “Char-à-bancs” e os “Ripperts”, que eram abertos e só para o verão e ainda o Jacinto, o Florindo e o Chora.
O escritor Luciano Cordeiro e seu irmão Francisco, diplomata, obtêm os direitos de um sistema de transporte do tipo americano denominado “viação-carril urbana” a força animal, cuja concessão trespassaram a um grupo de investidores brasileiros em 1871 (a Empresa Companhia Carris de Ferro teve sede no Brasil até 1876).
Em 17 de Novembro de 1873 foi inaugurada a primeira linha de “Americanos” (comprados a uma firma de Nova Iorque), que ia desde a Estação da Linha Férrea do Norte e Leste (Sta. Apolónia) e o extremo Oeste do aterro da Boa Vista (Santos).
Em 1878, Eduardo Jorge, então com 18 anos, vindo, como tantos, do interior pobre, empregou-se como moço de cavalariça nos “americanos”.
Em 1888, criou a sua pequena empresa de transportes, que fazia a carreira entre o Intendente e Belém, com tarifas económicas. Era o “Carro do Chora”, que veio a tornar-se o mais famoso concorrente dos "americanos". “Chora” foi a alcunha que lhe puseram os colegas por frequentemente se lamentar de ao fim de cada dia os seus ganhos serem sempre poucos.
Em 1892 foram eliminados os “”omnibus” e iniciou-se a monopolização progressiva da rede dos transportes públicos por parte da Carris.
Em 1900 Eduardo Jorge tinha já 24 carros “Chora” em Lisboa.
Chegaram a circular em simultâneo os “Americanos”, o “Jacinto”, a “Lusitânia”, e o ”Chora”.
Em 1901 apareceram os elétricos, os “amarelos”, da poderosa Carris e todos se lhe juntaram menos o “Chora” e o Jacinto, que preferiram continuar sozinhos. Eduardo Jorge colocou nos seus carros um letreiro “Esta Empresa Não Se Vende”.
A partir de 1905 toda a rede estava eletrificada, “os americanos” desapareciam de Lisboa, mas o Chora resistia.
Em 1910, tinha 38 carros e o Governo da República, reconhecendo o seu contributo para o desenvolvimento da cidade, reduziu os impostos à sua empresa. Resolveu, então, fazer uma distribuição pelos seus colaboradores, correspondente a 50% do que poupava com essa redução.
Veio a guerra e vieram as dificuldades, contudo, o Chora só renunciou aos seus carros em 1917. Vendeu os cavalos e as mulas, pagou ao pessoal e incendiou todos os carros, para não irem parar à Carris, sua eterna rival.
De todos os concessionários de carreiras urbanas, somente Eduardo Jorge o “Chora”, conseguiu, à força de persistência e luta, circular os seus carros de tração animal, durante três décadas, sem nunca ter aumentado os bilhetes, ficando os seus carros tão conhecidos, que ainda hoje são lembrados.
Aos 69 anos veio viver para a Venda Nova, Amadora, onde fundou uma nova empresa de viação, mas já com camionetas, todas iguais, amarelas, tal e qual como os carros elétricos, aos quais não perdoava a sua derrota.
Em 1929 inaugurou a primeira carreira entre as Portas de Benfica e Amadora, que depois se prolongou até Queluz.
Em 1937 entrou com as suas carreiras em Lisboa, de onde, contra sua vontade, havia saído.
Morreu em 1940, mas as carreiras Eduardo Jorge continuaram ainda por muito tempo…
Fontes: “Páginas da História da Amadora” de Vasco Callixto;
“História da Carris” (página da internet);
“Lisboa Desaparecida”- Volume 3
Tita Fan
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