Flor Bela Lobo nasceu e morreu no mesmo dia: 8 de dezembro, o dia da Imaculada Conceição, que hoje a Igreja assinala. Do Alentejo (Vila Viçosa) em 1894, até Matosinhos em 1930, o seu percurso de vida durou apenas 36 anos.
Poetisa maior da língua portuguesa, Florbela Espanca parece ter sido marcada por um destino trágico. Vida e morte andaram sempre a par, desde o seu nascimento. A doença, a infelicidade, a inquietação, a busca e a iminência do fim próximo, sempre acompanharam esta mulher de uma sensibilidade rara e de uma enorme ousadia para a sua época.
Desde a infância Florbela teve problemas: com a saúde, com a família, mais tarde com os amores. A sociedade da época não compreendeu esta mulher de excepção, que nos deixou cedo demais. Apesar disso, ficaram-nos belíssimas poesias, particularmente sofridas, como os sonetos, alguns deles carregados de paixão e arrebatamento, como este que faço questão de partilhar convosco.
O Meu SonetoEm atitudes e em ritmos fleumáticos,
Erguendo as mãos em gestos recolhidos,
Todos brocados fúlgidos, hieráticos,
Em ti andam bailando os meus sentidos...
E os meus olhos serenos, enigmáticos
Meninos que na estrada andam perdidos,
Dolorosos, tristíssimos, extáticos,
São letras de poemas nunca lidos...
As magnólias abertas dos meus dedos
São mistérios, são filtros, são enredos
Que pecados d´amor trazem de rastros...
E a minha boca, a rútila manhã,
Na Via Láctea, lírica, pagã,
A rir desfolha as pétalas dos astros!..
Florbela Espanca, in "A Mensageira das Violetas"
Erguendo as mãos em gestos recolhidos,
Todos brocados fúlgidos, hieráticos,
Em ti andam bailando os meus sentidos...
E os meus olhos serenos, enigmáticos
Meninos que na estrada andam perdidos,
Dolorosos, tristíssimos, extáticos,
São letras de poemas nunca lidos...
As magnólias abertas dos meus dedos
São mistérios, são filtros, são enredos
Que pecados d´amor trazem de rastros...
E a minha boca, a rútila manhã,
Na Via Láctea, lírica, pagã,
A rir desfolha as pétalas dos astros!..
Florbela Espanca, in "A Mensageira das Violetas"
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