"Num relatório divulgado esta semana, a revista Forbes lançou uma lista dos 20 países 'mais felizes' do mundo e uma outra com os 20 países 'mais tristes'. A Noruega lidera a primeira, enquanto a República de África Central se assume como líder da segunda."
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Verdadeiramente, esta notícia não constitui para mim qualquer surpresa. Nem acerca dos mais felizes nem dos mais tristes. O que faz traçar inevitavelmente uma relação entre a "felicidade", ou o que dela se entenda, e a riqueza per capita. As condições de vida concretas determinam o bem estar dos povos, e, desde logo, a sua saúde, física e mental. A pessoa deve sentir-se bem na sua integralidade, tal como o determina a OMS, para poder considerar-se saudável. E isso implica condições de higiene, alimentação, habitação e segurança, à cabeça. Ninguém pensa em construir bibliotecas ou salas de concertos se não tiver um leite e um pão para comer ou uns sapatos para calçar. É isso infelizmente o que ainda vem acontecendo em alguns países de África, sobretudo aqueles que estão mais sujeitos à desertificação.
A Noruega em épocas mais remotas foi um país pobre e conheceu tempos de miséria e fome. Noutros tempos os Vikings vieram por essa Europa abaixo roubar e pilhar devido à fome, às dívidas e às más condições de vida numa região de clima duríssimo. Após anos de ocupação nazi, o país estava de rastos, mas conseguiu levantar-se graças a muito trabalho e persistência. Mas não só: a Natureza foi generosa, apesar de o clima não ser fácil. Foi a descoberta de jazidas de petróleo no Mar do Norte que permitiu à Noruega ser o que é hoje: um país rico. Assegurando uma gestão equilibrada dos recursos naturais, a política tem uma vertente marcada de consciência social e sentido de cidadania. Assim, os lucros do Estado são entendidos como lucros dos cidadãos. E isto faz toda a diferença em relação à forma de encarar a riqueza, comparando, por exemplo, com países como Angola, em que a par de uma população faminta e descalça, se encontram fortunas privadas fabulosas.
Na Noruega não se deita abaixo uma árvore; a madeira que é necessária para as casas é comprada à Suécia. As florestas estão virgens, os rios impolutos, a Natureza em estado puro, com poluição próxima do zero. Igualmente próxima do zero está a corrupção e a criminalidade. Não fosse o desmando do louco do Breivik e a criminalidade norueguesa continuaria a nem sequer ser falada. Cada norueguês tem no Banco 100 mil euros em coroas atribuídos pelo próprio Estado, como participação nos lucros do país. E ainda atribui ajudas externas, como por exemplo, a Portugal! Onde é que isto já se viu?
A exportação do bacalhau e dos salmões, que são criados em viveiros nas águas tranquilas e frias dos fiordes, também ajudam os cofres do país.
As contrapartidas deste desafogo económico sentem-se em vários aspetos. Se por um lado os cidadãos dispõem de assistência médica e escolaridade praticamente gratuitas e reformas exemplares, por outro, pagam taxas muito altas sobre os seus - também muito elevados - salários. (Os professores, por exemplo, têm um salário três vezes superior aos de Portugal.) As rendas de casa de um apartamento pequeno em Oslo são altíssimas e o custo dos bens de consumo elevado. Mas, mesmo assim, compensa, pois o desemprego é muito baixo, a mortalidade neo-natal também e a escolaridade e a cultura das pessoas muito elevada, assim como a consciência cívica. Estes são indubitavelmente marcadores daquilo que pode constituir o bem estar de um povo e logo a sua "felicidade". Ou não?
Dos dois referendos já realizados sobre a entrada na UE, resultou um "não" dos noruegueses. Não me admira. Eles estão bem e são felizes. Apesar da loucura terrorista e xenófoba que manchou de sangue o seu "pacific way of life".
Seria o meu país de eleição para viver, não fossem os 18º negativos em Oslo no Inverno.
Pensar que o meu pai esteve por um triz para emigrar para este país connosco... Só não po fez, por uma razão: patriotismo. Como era no tempo da "outra senhora e a Noruega tinha relações diplomáticas cortadas com o salazarismo, nós, os filhos, seriamos obrigados a mudar de nacionalidade (e não era dupla nacionalidade, pois isso o meu pai aceitaria)... Enfim... Serve de algums coisa amar a nacionalidade que se tem? Olhem agora o PPC a aconselhar a emigração... :((
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