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quarta-feira, 2 de maio de 2012

Pingo muito pouco Doce

As imagens da afluência às lojas da cadeia Pingo Doce difundidas hoje pela televisão, são bastante inquietantes. Tendo em conta os níveis crescentes de desemprego e endividamento excessivo de um grande número de famílias portuguesas, fiquei perplexa por ver a enorme massa de gente que se precipitou para as compras para adquirir toneladas de géneros, como se vivesse em pleno desafogo económico.
Consideremos que 50% de desconto é dinheiro. Mas a poupança só poderia funcionar em despesas superiores a 100 euros. Analisemos então por partes a questão.
Primeiro de tudo, é preciso ter mais de 100 euros disponíveis para gastar num só dia, sem que isso vá colocar em cheque o equilíbrio dos dias seguintes; segundo, um grande número de famílias gastou quantias acima dos 400 euros, algumas mais de 800 euros; terceiro, esgotou um grande número de bebidas alcoólicas, o que está muito longe de ser um bem de primeira necessidade e ainda mais para um povo com tantos desempregados e endividados. 
Felizmente (ainda!) não é o meu caso, mas sinto-me empobrecer gradualmente desde o ano passado e embora não precise de passar fome, também não me passa pela cabeça atafulhar a despensa da casa, como se viesse aí a guerra ou um qualquer cataclismo amanhã.
Pergunto-me: terão essas compras sido maioritariamente em débito direto ou a crédito? Como terão ficado os plafonds?
A minha avó costumava dizer um provérbio engraçado e que aqui serve como uma luva: "de tanto que te queres benzer, ainda partes a cara!" 
Como farão os açambarcadores que, soberba e egoisticamente, limparam tudo quanto havia nas prateleiras, (rompendo stocks e deixando à míngua quem só lá foi à procura de pão ou leite), para gerir os cartões de crédito?
De duas uma: ou têm muito dinheiro e não há problemas de plafond, e, nesse caso, também não precisam de ir aos saldos de comida; ou não têm, e se endividaram, o que é manifestamente um disparate, ainda mais na presente situação.
Sou frontalmente contra que haja supermercados e quejandos abertos aos feriados, ainda por cima no dia 1º de maio, em que os trabalhadores de todo o mundo reivindicam o direito a descansar. 
Por outro lado, a empresa em questão está a incorrer numa concorrência desleal para com as suas congéneres que eventualmente tenham encerrado. 
Por fim, penso que não se deve comprar a não ser aquilo de que se precisa. Só porque há desconto, vamos atafulhar o carrinho de compras de tudo e mais alguma coisa? Para quê? É o espetro da fome ou um consumismo desenfreado? Em qualquer dos casos é grave e sério e deve deixar-nos a pensar.
Haverá ainda resquícios de outras épocas, em que as populações se viram forçadas ao racionamento dos géneros alimentares mais básicos? Ou, pelo contrário, estes comportamentos decorrem de anos mais recentes em que algum desafogo económico instalou maus hábitos de consumo nos portugueses?
Por todas as razões e mais algumas, o que se passou hoje deixa-me preocupada e inquieta, também pelos sinais que deixa transparecer: histeria, descontrole, falta de auto-regulação, falta de educação e de civismo, tendo chegado nalguns casos à violência física. Uns comiam tudo o que podiam sem pagar, outros partiam garrafas de bebidas, outros saqueavam: o Caos!
Já não vou aos estádios de futebol há muitos anos. Não me obriguem a começar a ir aos hipermercados de capacete e joelheiras. Ou passarei a fazer compras apenas nos mercados tradicionais, pois estas cenas não me assistem!


(Imagens do FB, cuja autoria não foi possível identificar)

Ver a notícia do Público: "Parece o fim do mundo"

6 comentários:

  1. concordo com este teu post, o que se passou ontem (o que vi na tv) é inquietante pois revela por um lado a ganancia/desespero das pessoas, por outro o consumismo que se instala quando há estas promoções em que as pessoas compram por comprar e não para poupar e gastam o que têm e o que não têm. li algures que houve quem fosse pedir dinheiro emprestado para aproveitar os 50% de desconto. Se esta campanha fosse feita a meio do mês, duvido que a afluência fosse a mesma.enfim...

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    1. "as pessoas gastam o que têm e o que não têm" e isso é preocupante e grave...

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  2. Gostei muito do seu post.
    "Roubei" uma das imagens.
    Cordiais saudações,
    Eduardo Martinho
    (blog Tempo de Recordar)

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    1. Obrigada.
      As imagens não são minhas, desconheço a sua autoria.
      Nesse sentido, também foram "roubadas"...
      Saudações também.

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  3. Permita-me minha amiga que subscreva uma a uma todas as suas palavras e reflexões e também as suas preocupações. Sou do tempo das senhas de racionamento e já nesse tempo horrível quem tinha bons contatos safava-se melhor.Por estranho que pareça não vi nem soube de nada ontem. Nem me passava pela cabeça se o soubesse ir fazer compras, só se fosse algum remédio urgente à farmácia de serviço. Mesmo hoje só ouvi e li algo. Tanta luta pelo dia do trabalhador e agora só egoismo, umbiguismo, falta de formação e de dignidade. Não há em minha opinião, crise, desemprego ou dificuldades que expliquem o que se passou. Só o ser humano no seu pior desempenho!

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    1. Sim, infelizmente, cenas quase dignas do chamado terceiro mundo... :-(

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