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terça-feira, 7 de setembro de 2010

Triste rentrée


Decidi mesmo não falar no escandaloso processo Casa Pia e não voltar a abordar a não menos escandalosa impunidade persistente dos incêndios que assolam este país todos os anos durante o Verão.

Vou por isso ater-me a deixar dois ou três apontamentos do que de mais irritante marcou o fim das minhas férias:

- O fim do Ensino Recorrente;
- O fim da Escola Móvel;
- O encerramento de muitos cursos de Música.

Todas elas medidas economicistas, ditadas pela poupança forçada de recursos na Educação, constituem de algum modo perdas significativas.

O Ensino Recorrente foi durante muitos anos a única forma de algumas centenas de jovens de classes mais desfavorecidas poderem completar o ensino básico e secundário, já que, tendo de trabalhar durante todo o dia, só à noite podiam frequentar a Escola Pública. Era inegável o papel positivo desempenhado por este ensino, muito anterior ao logro das Novas Oportunidades.

Fui durante alguns anos professora destes jovens ou adultos, muitos dos quais, ajudei a entrar nas Universidades e a alterar, por vezes de forma significativa, o seu percurso. E não há nada mais gratificante para um professor que acredita no papel do saber como motor da transformação da vida.

A ministra da Educação disse que "O Ensino Recorrente acabou porque era incompatível com os horários de trabalho dos alunos". Ó Sra. ministra, deixe-me rir!...

A Escola Móvel era a única forma de acompanhar as crianças em situação de nomadismo forçado, por exemplo, os filhos dos feirantes ou dos artistas de circo.
Não sei que alternativa vai o país dar a estes jovens, que, independentemente da sua vontade, não têm residência fixa.

Last but not least, a Música faz falta; e o seu ensino, ao invés de ser restrito, antes deveria ser cada vez mais generalizado e difundido. Assim como o Teatro e as Artes Plásticas. Teremos por força de formar só gestores, técnicos de informática ou cientistas?

Também parece não fazer grande mal estarmos a deixar decapitar as Humanidades, como a História e a Filosofia e a deixar agonizar o Francês. Temos um novo Estatuto do Aluno que nos vai entreter a atenção durante algum tempo, enquanto não vem o novo cabaz de grelhas da Avaliação de Desempenho Docente.

Não faz mal, não é preciso lutar por saberes sérios, não é preciso conhecimentos consolidados no património cultural que herdámos de Homero ou Platão. Não é preciso aprender a compor melodias ou tornar-se dramaturgo. O que é preciso é distribuir diplomas aos milhares para mascarar as estatísticas da União Europeia!

3 comentários:

  1. Todas elas irritantes, sem qualquer dúvida. As de que não falaste ultrapassam o tolerável.
    Bj

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  2. E muitas mais haveria para falar...

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  3. No meio de tanta violência na internet, quando encontramos pérolas como o seu blog, não podemos deixar de comentar e dizer:
    maravilhosamente perfeito e gratificante aos olhos, parabéns por todas as postagens.
    Eunice Fernandes

    www.felicidadeamorpaixao.blogspot.com

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