sexta-feira, 27 de maio de 2011
Dois Passos atrás (2)
Não vale a pena ter ilusões. Depois de mais este tiro no pé, o eleitorado porventura indeciso vai recuar para o PS. Passos Coelho não precisava nada de se meter em temas fracturantes. Ou quer catapultar à força os votantes do CDS, de maioria católica, ou realmente não tem noção daquilo que lhe pode causar, mais à esquerda, perda de votos.
A lei do aborto foi aprovada depois de dois referendos e vários anos de discussão, tanto no parlamento como na sociedade civil. Esta, juntamente com a lei que proibe o consumo de tabaco nos espaços públicos, transportes e na maioria dos estabelecimentos ligados à restauração, foi das poucas medidas positivas implementadas pelos governos PS. Voltar atrás é um tremendo erro de saúde pública, que custou no passado a vida de milhares de mulheres, vítimas de um comércio clandestino infame.
Passos já se tinha espalhado com a política educativa do seu programa, que afinal em nada correspondeu às expectativas: fez a apologia dos mega-agrupamentos escolares, defendeu uma carreira para os directores à margem da carreira docente e o aumento do peso das autarquias nos Conselhos de Escola. Esperava-se que seguisse os conselhos avisados de Santana Castilho, mas ficou muito arredado disso, conforme critiquei aqui.
Este pretenso recuo a respeito do aborto é mais uma ideia-peregrina que lhe pode vir a custar uma desconfiança em certos sectores mais ou menos indecisos, mas não de todo retrógrados.
A seguir a isto e à abolição dos feriados, só falta querer revogar a lei dos casamentos gay e restaurar a carreira de professor titular.
Com estas propostas de Passos Coelho e mais aquela antiga de Paulo Portas para que se cantasse o hino nacional nas salas de aula, corre-se o risco de vir a ter um crucifixo por cima do quadro da sala de aula e tornar a Religião e Moral disciplina obrigatória.
Para mim isto significa um namoro descarado aos católicos e ao eleitorado da direita, um bocado como quem atira chumbo grosso, um pouco para todos os lados, para ver em quem é que se acerta. Nalguns, certamente! Mas outros tantos mais à esquerda, talvez até mais, fujirão com medo. Para já não falar da insegurança que gera nos eleitores um líder, que, embora seja simpático e afável, tem avanços e recuos quase diários, como se fosse um catavento.
Pode ler aqui uma notícia a este respeito.
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Pois se o fulano é mesmo de direita, o que se há-de fazer?!
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