quinta-feira, 19 de maio de 2011
Os partidos sem representação parlamentar
Este Blogue muito raramente se aventura na análise política, fazendo raramente comentários acerca de actividades político-partidárias. Não é essa a sua vocação. Ao contrário de vários colegas da blogosfera docente, que vão puxando a brasa aos seus partidos de eleição, este Blogue não faz campanha por ninguém e não dá indicações de voto. Porém, vê-se que os que o fazem, se centram nos cinco partidos com assento no parlamento. Pela Lei de Hondt, os pequenos partidos nunca deixarão de o ser e as hipóteses de eleger deputados são mínimas.
A propósito do debate de ontem na RTP1 com responsáveis de partidos sem representação parlamentar, decidi partilhar convosco o meu sentir a respeito das diversas prestações. Para mim, o debate revelou aquilo de que já suspeitava: alguns deles mereciam, sem dúvida lá estar, constitundo uma mais valia para a democracia parlamentar, enquanto outros é melhor que de lá continuem arredados.
- Garcia Pereira do PCTP/MRPP foi o mais eloquente, assertivo e certeiro; dono de uma capacidade retórica difícil de ultrapassar, é um jurista muito bem conceituado no mundo do Direito do Trabalho e tem muitos anos de experiência na militância política. Daí que não seja surpreendente a sua eficácia no discurso sobre os problemas que mais afligem o país neste momento.
- Paulo Borges, do PAN (Partido pelos Animais e pela Natureza) foi o maior defensor da Ética. Filósofo de formação humanista, tem vasta obra de reflexão sobre Agostinho da Silva, Fernando Pessoa e muitos outros. É professor universitário de Filosofia e presidente da União Budista Portuguesa, seguindo muitos dos ensinamentos do Dalai-Lama.
- Rui Marques, do Movimento Esperança Portugal, tem uma intervenção notável ao nível da Juventude, da Emigração e de várias causas sociais e humanitárias. Defende os direitos de protecção à família.
- Pedro Quartin Graça, do Movimento Partido da Terra, defende uma linha de ambientalismo antropocentrista, como partido ecologista que é, com provas dadas.
- Paulo Estevão do Partido Popular Monárquico, defende uma monarquia constitucional, com aliança aos valores da Igreja e a manutenção do número de deputados por distrito.
Todos estes representantes estiveram bem, demonstrando estar perfeitamente à altura de participar num debate televisivo. Foram correctos, esclarecedores, educados, respeitando as ideias alheias.
Chegámos a José Manuel Coelho, do Partido Trabalhista Português, e ficou tudo, mas mesmo tudo estragado: provocação, insulto, boçalidade, impreparação, enfim, uma participação ao mais baixo nível. Estas atitudes fizeram por mais de uma vez perigar a continuação do debate. Deplorável!
Por fim o representante do sector mais à extrema-direita, como eu pensava já não existir em Portugal: José Pinto Coelho, do Partido Nacional Renovador puxou dos valores mais retrógrados que se possa imaginar, defendendo a saída da zona euro, o fechamento das fronteiras aos emigrantes, imputando-lhes a culpa da criminalidade crescente em Portugal, a revogação da lei do aborto e do casamento dos homossexuais, chamando-lhes aberrações; sempre numa perspectiva de regresso ao nacionalismo, em tudo faz recordar o isolamento dos tempos de Salazar, em que vivíamos "orgulhosamente sós". Uma tristeza sem tamanho, fora do tempo e de toda a razoabilidade, como se o tempo pudesse, alguma vez, voltar para trás!
Espero muito sinceramente que estes dois partidos não elejam um único deputado. Para bem da democracia e da liberdade, num caso, e do civismo e educação para a cidadania, no outro.
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Não vi o debate, a minha saude e paciência já não consentem. Contudo, gostei imenso de ler as suas apreciações, que constituiram para mim uma digna fonte de informação.Conhecendo, eu, quase todos os intervenientes e o seu percurso parecem-me muito adquadas e pertinentes e concordo plenamente com as suas conclusões.
ResponderEliminarTitaFan