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quarta-feira, 18 de março de 2009

Novamente Bach no CCB na Festa da Música


O CCB cheio de Bach e de todos os que olharam para o seu legado

Bach, sim, mas um Bach em linhas para a frente e para trás no tempo e no mundo. Nos Dias da Música deste ano, com 79 concertos em três dias no Centro Cultural de Belém (CCB) - a 24, 25 e 26 de Abril -, homenageia-se Bach mas revisita-se sobretudo a marca deixada noutros por um dos mais prolíficos compositores da história da música.

Mário Laginha, que sempre adorou Bach e admirou as fugas, com a sua complexidade técnica mas imensa facilidade comunicativa, decidiu a dada altura experimentar esta forma musical, permeando-a com as suas influências jazzísticas pessoais - foi o álbum "Canções e Fugas", de 2006, que passará pelo Pequeno Auditório (dia 25 às 20h). A António Pinho Vargas foi encomendada uma obra inspirada no "Concerto Bradenburguês" - a sua resposta foi "An Impossible Task" (à letra, "uma tarefa impossível"), em estreia absoluta no concerto de encerramento (dia 26 às 21h30) e com passagem também pelo concerto inaugural (dia 24, às 20h), ambos no Grande Auditório.

Mas estas são apenas duas das presenças nacionais - ainda Bernardo Sassetti a cruzar Bach com Thelonius Monk (dia 25, às 14h), os contrabaixistas Carlos Bica e Carlos Barretto com um "Bica Bach Barretto" (dia 26, às 15h), o pianista Miguel Henriques com prelúdios e fugas de Bach e Schostakovich (dia 25, às 22h).... Depois, há os intérpretes internacionais. Nomes como o do holandês Pieter Wispelwey com suites para violoncelo de Bach mas também Britten, o violinista russo Kirill Troussov com Bach e Eugéne Ysaÿe, e o cravista norte-americano Kenneth Weiss, com as "Variações Goldberg" e uma visita ao que esteve antes de Bach, um legado que este compositor barroco se dedicou a reunir - Franz Tunder, J. Kasper-Fischer, Johann Kunau, Dietrich Buxtehude, Georg Böhm...

Isto, e propostas mais inesperadas, peças raramente tocadas, como a "Suite nº 2 para orquestra", de Georges Enesco, neste caso pela Orquestra Sinfónica Nacional da Ucrânia, sob direcção do maestro Volodynyr Sirenko, ou a celebração, com uma interpretação ao vivo, dos 50 anos passados sobre a gravação do álbum "Play Bach" pelo Jacques Loussier Trio, que, à época, vendeu mais de seis milhões de cópias - Jacques Loussier ao piano, André Arpino na bateria e Benoit Dunoyer de Segonzac no contrabaixo.

Tomou-se em conta o actual momento de crise: "Chegámos a desenhar cenários de grande contingência, mas estamos bastante satisfeitos com os resultados", disse na quarta-feira António Mega Ferreira, presidente do Conselho de Administração do CCB na conferência de apresentação do programa. Com um orçamento de 700 mil euros de despesa e de 450 mil euros de receitas previstas, entre patrocínios e bilheteira (160 mil euros), Mega congratulou-se pela participação de dois parceiros institucionais, a Câmara Municipal de Lisboa e a Rede Eléctrica Nacional.

Num evento que em 2008 teve uma taxa de ocupação de 88 por cento e que, este ano, tem mais 10 concertos, há expectativas de melhorias - por exemplo no que toca à prestação e recepção da Orquestra Sinfónica da Ucrânia, que em 2008 esteve em Portugal com pouco êxito. Expectativas, também, do regresso, em 2010, da Orquestra Sinfónica Portuguesa que, segundo Mega Ferreira, estava este ano indisponível, mas já confirmou presença no próximo ano. Até lá, fazem-se percursos alternativos. Como o proposto por um programa especificamente desenhado para a celebração de um Bach pedagógico e por cujo legado passa qualquer instrumentista ou compositor: em "As Lições de Bach", alunos de escolas de música de Norte a Sul do país entre os 8 e os 24 anos estão a ser escolhidos para estar no CCB integrados em concertos colectivos de cerca de 45 minutos, uma espécie de audição pública em que talvez toquem dois a três minutos. Uma entre muitas iniciativas ligadas ao público infantil.

"É uma chapelada a esse enorme monstro da música que foi Bach", disse a dada altura Mário Laginha, que esteve na conferência de apresentação do programa. Mega repetiria: "Uma chapelada." E que não acaba nos Dias da Música: a 4 de Abril, em véspera de Páscoa, a orquestra Divino Sospiro interpreta no Grande Auditório a "Paixão Segundo São Mateus", uma das 26 paixões que Bach dirigiu entre 1723 e 1750 enquanto "Kantor" da Igreja de São Tomás, em Leipzig.

Escrita em 1727 e apresentada na Sexta-feira Santa desse ano executada por dois coros, dois órgãos, duas orquestras e cinco solistas, a "Paixão segundo Mateus", foi apresentada fora de Leipzig apenas a 11 de Março de 1829 pela Sing-Akademie de Berlim, conduzida por Felix Mendelssohn no que foi o princípio da globalização de Bach. É também a única das suas paixões, a par com a "Paixão segundo São João", que chegou intacta aos nossos dias.

Vanessa Rato -PÚBLICO.PT -18.03.2009

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