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domingo, 1 de março de 2009

O Tempo em Benjamin Button analisado por um Físico


A VIDA A ANDAR PARA TRÁS?

O filme “O Estranho Caso de Benjamin Button”, baseado num conto de Scott Fitzgerald, que acaba de ganhar três óscares da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas (melhor caracterização, melhores efeitos visuais e melhor direcção artística), mostra a vida de Benjamin Button a andar para trás. O personagem, interpretado por Brad Pitt, nasce velho e morre novo. Em vez de lhe aparecerem rugas desaparecem-lhe as rugas. Será isso possível na vida real? Será possível que a vida ande para trás?

A resposta a esta pergunta é “não” e é por isso que foram necessárias boas caracterizações, bons efeitos visuais e boa direcção artística. A lei da física que impede o rejuvenescimento natural é a Segunda Lei da Termodinâmica, cujo desconhecimento foi equiparado por Charles P. Snow há cinquenta anos (a sua conferência sobre “as duas culturas” foi proferida em Cambridge a 7 de Maio de 1959) ao desconhecimento da obra de Shakespeare. Essa famosa lei afirma a irreversibilidade dos processos naturais. Quer dizer, em todos os fenómenos reais – e não apenas nos fenómenos da vida – não se pode andar para trás. Tudo acontece do modo a respeitar a seta do tempo, caminhando do passado para o futuro e não no sentido contrário. O filme da vida de uma pessoa, mostrando a evolução dela ao longo do tempo, resultará, de facto, muito estranho se for corrido ao contrário. Mas o filme “O Estranho Caso de Benjamin Button”, se for corrido ao contrário, já mostrará uma evolução plausível de Button, embora implausível dos outros.

Os físicos criaram uma grandeza para distinguir o passado do futuro. Essa grandeza, a que chamaram “entropia”, é uma medida da desordem. De acordo com a Segunda Lei, a entropia cresce necessariamente nos sistemas isolados: a desordem é maior no futuro do que no passado. Trata-se, contudo, de uma lei estatística, o que significa que são hipoteticamente possíveis violações pequenas e por pouco tempo dessa lei. A vida de Button a andar para trás não é uma violação admissível, porque é grande e por muito tempo...
CARLOS FIOLHAIS in DE RERUM NATURA/SOL
SÁBADO, 28 DE FEVEREIRO DE 2009

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