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quarta-feira, 31 de março de 2010

Suicidou-se mais um professor

Para ler aqui a crónica realista de Santana Castilho.

Em sua homenagem e porque a hora é de silêncio e consternação, privo-me de palavras e deixo fluir a tristeza que sinto ao som do Notturno de Grieg, como se de um requiem se tratasse.




Cortesia de Luís Alves da Costa

Domus Aurea Neronis


Nero ficou tristemente célebre na História por ter mandado incendiar Roma e incriminar os seguidores do cristianismo. Até ao seu suícidio, em 68, o Imperador nunca deixou de perseguir os cristãos.

Ontem caiu mais um pedaço do seu antigo palácio. Podemos agora "visitá-lo" em segurança com um tour virtual pela casa de Nero, na Roma Antiga.


Nesta viagem virtual pelo Palácio de Nero podem ver-se as luzes, o ouro, as cores e tudo o que o tempo e as pilhagens apagaram da "Domus Aurea". Através da reconstituição virtual restitui-se, na medida do possível, a residência desejada por Nero e da sua área circundante, baseada em pinturas do Renascimento, escritos e estudos arquitectónicos.

Quando Nero viu terminada a construção do seu sumptuoso palácio declarou a sua aprovação somente com estas palavras:

"Finalmente, começarei a viver como um homem!"


Vídeo Aqui

Vídeo enviado pela Becas.

Sínodo de emergência no Vaticano?


"Há um sentimento de desconforto neste momento no Vaticano. Cargos da Cúria sentem-se cercados pelos media internacionais ao verem que estão a tentar atingir o Papa", disse fonte da Santa Sé, ao correspondente deste diário britânico, John Phillips. DN

Este incómodo do Vaticano só peca por tardio.
E espero que os media e os os blogues não se calem até estarem punidos todos os pedófilos conhecidos e comprovadadamente culpados. É tempo de não calar, de não abafar, de não branquear o mais hediondo de todos os crimes sexuais - o abuso de crianças. Aqueles que pertencem às fileiras da Igreja, por maioria de razão, devem ser exemplarmente punidos, já que são pregadores da virtude, da moral e dos bons costumes.

Estou farta de más nódoas em supostamente bons panos!

Amanhecer



Vídeo enviado pela nossa colaboradora Carmela.

Música do excelente Grieg, dedicado ao meu amigo Renny BA da Noruega.

Professor Director de Turma em 2030


Foto enviada pelo Miguel Loureiro.

"Quantos Twits é que eu já terei enviado hoje aos Encarregados de Educação a comunicar as notas?"

segunda-feira, 29 de março de 2010

Enid Blyton, racista e xenófoba?


Não sei responder a esta questão. As minhas leituras dos "Cinco" foram escassas e já perdi do seu conteúdo as memórias na lonjura do tempo. Não lhes sentia muito o apelo, talvez por não ser muito dada a aventuras, como via em mocinhas da minha idade, que devoravam os livros dessa colecção, com a mesma voracidade que hoje aos 10 ou 11 anos devoram "O Bando dos Quatro".

Parece que as reedições hoje estão a retirar expressões não admissíveis, como "nigger", num quadro do politicamente correcto.

Racista e xenófoba? Talvez, já que parecia simpatizar com Hitler...
Disgusting, Mrs. Blyton!

Para ler no Público.

"Prós e Contras" sobre o Estatuto do Aluno


Hoje na RTP1, com pais, professores e alunos.
Abordar-se-á certamante a questão da violência escolar.
Ponto negativo: a hora tardia deste programa, em época de reuniões de avaliação às 8:00 da manhã seguinte...


Imagem do Kaos.

domingo, 28 de março de 2010

Domingo de ramos


Tinha dito que durante este dia não escreveria aqui mais nada. Só depois me apercebi que hoje é assinalado pelos cristãos o domingo de ramos. Segundo a tradição, este dia marca o início da semana santa e último domingo da quaresma, celebrando a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, aclamado pelo povo.

Estou um bom bocado de costas viradas para a Igreja Católica, ou melhor, para os seus representantes máximos, pelo laxismo e inexplicável tolerância para com os crimes de pedofilia que se somam e seguem de forma impune, contra crianças e jovens em vários países do mundo.

Sem querer de forma alguma atingir os católicos a quem respeito, aos responsáveis do Vaticano apetece-me dizer: "Shame on you!"

Receita para quando estiverem doentes, para lá de cansados e sem paciência para rigorosamente nadinha


Salada para duas pessoas, posso chamar-lhe PRIMAVERA

INGREDIENTES:

1 embalagem de 100 gr de salmão fumado
2 ovos cozidos duros
200 gr de tomatinhos-cereja
1 pepino
1 abacate maduro
Folhas verdes jovens a gosto (alface, rúcula, ou agrião)
Sumo de uma lima, ou meio-limão
1 colher de chá de maionese
1 colher de chá de mostarda
1 colher de sopa de endro

PREPARAÇÃO:

É só cortar o salmão em tiras finas, o pepino em rodelas finas, os tomatinhos ao meio, o abacate e os ovos em cubinhos, juntar as folhas, adicionar os temperos e mexer como manda a tradição.

Se não estiver a tomar um diabo de um antibiótico, é sacramental acompanhar esta salada com um belo vinho branco (maduro ou verde) bem gelado. Se estiver, faça um bom copo de sumo de laranja espremida na hora. Esta delícia de sabor escandinavo deve ainda fazer-se acompanhar de uma fatia de pão escuro de centeio, ou na falta dele, alentejano de trigo, de preferência do dia anterior.

Tempo de preparação: 15 minutos

Tenham um excelente domingo. Bon appétit!

Como se pode transformar uma belíssima canção numa chachada execrável



Tadinhas, dão pelo nome de "Cascada" e, à falta de saberem cantar... enfim!

Já agora, ouçam a música original dos Savage Garden, é belíssima, aqui; foi desactivada para não se poder incorporar nos Blogues.

Deixem-me usar os provérbios

Os provérbios são a grande reserva da sabedoria popular e por vezes a única prosa que me apetece usar em situações caricatas.

Em Blogues de Professores, aparecem-me figuras de recente protagonismo, com estes epítetos:

"Futuro primeiro-ministro de Portugal"




"Futuro Presidente da República de Portugal"



Será prudente dar a derrota do PS como "favas contadas"?
Não estarão a "pôr o carro à frente dos bois" e a "embandeirar em arco" antes do tempo?
"Deixem-me rir" e usar provérbios!

Earth Hour 2010, o apagão mundial

(Foto da Pérola de Cultura - na sua ostra durante o apagão)


Muitos foram os monumentos que se apagaram às 20:30 locais, a começar pela ponte de Sydney, na Austrália (pioneira da iniciativa em 2007), logo seguida da torre de Hong-Kong, já que o movimento se inicia a Leste.

Cá deste lado vimos apagar-se o Big Ben e o Parlamento inglês, a Torre Eiffel, os Jerónimos e a Fonte Luminosa em Lisboa e as Pontes do Porto. Outros se seguirão daqui a pouco nos EUA, Canadá, México e Brasil.

Foram 121 os países que declararam a sua adesão ao apagão pelo planeta e estima-se que este ano haja mais de um bilião de cidadãos a apagar as luzes das suas casas em pelo menos 6000 cidades do mundo.

Dos Bloggers que conheço, Renny B.A. da Noruega fez um extenso post sobre a Hearth Hour 2010 no seu Terella, que podem ler aqui.


Aqui o vídeo oficial desta iniciativa:

sábado, 27 de março de 2010

Hora do Planeta - apagão mundial


Está marcado para hoje um apagão simbólico de 60 minutos, que a WWF (World Wide Fund for Nature) chamou a "hora do planeta". Consiste numa acção concertada de apagar todas as luzes durante 60 minutos, simbolicamente, contra o aquecimento global. Estima-se que no ano passado as 4000 cidades que aderiram tenham conseguido reduzir o consumo de energia eléctrica em cerca de 5%, o que não é nada, mas constituiu um acto simbólico, que este ano se crê possa ser seguido por muito mais pessoas e entidades.

Sem pôr evidentemente em risco locais onde a electricidade é fundamental como hospitais e prisões, pode-se contudo apagar todos os monumentos simbólicos das cidades, como se fará nos Paços do Concelho, na Estátua do Marquês, Mosteiro dos Jerónimos, Ponte 25 de Abril (Lisboa), Cristo-Rei (Almada), Mercado do Bolhão, Torre dos Clérigos e Sé, Pontes D. Luís e D. Maria (Porto) e o monumento classificado pela UNESCO como Património Mundial, Convento de Cristo (Tomar). E muitos mais monumentos se apagarão, num total de 25 municípios que aderiram a esta iniciativa, o dobro dos do ano de 2009.

É o seguinte o texto do apelo em Portugal:

"Desligar as luzes durante uma hora é não só contribuir para a preservação do nosso planeta, mas também fazer parte da maior plataforma voluntária de cidadãos contra o aquecimento gçobal. o ano passado aderiram 1.2 mil milhões de pessoas em 4000 cidades à volta do mundo e mais de 2000 empresas. Contra o aquecimento global, uma acção global. Junte-se a nós. Não lhe estamos a pedir muito:é só mexer um dedo. Desligar a luz".

A Pérola de Cultura junta-se a este apelo.
O apagão deverá ter lugar entre as 20:30 e as 21:30.
Em Lisboa há um encontro de cidadãos aderentes junto da Fonte Luminosa de Belém.

Se quiser ficar em casa, aproveite para fazer aquele jantar especial à luz da vela que já andava a planear há tanto tempo. Cozinhe-o com tempo. Compre velas bonitas que tenham tempo de duração superior a uma hora. Sirva os copos, ponha as travessas na mesa e depois, apague todas as luzes e disfrute esta refeição especialmente romântica com o seu amor ou os seus amigos.

Vai ver que é uma ocasião especial e o planeta agradece!


Para mais informações sobre esta iniciativa, locais de encontro em outras cidades, etc., consulte: www.wwf.pt

Livro de Diferr e Martin em Abril


Será editado em Portugal pelas Edições ASA e na Bélgica pelas Éditions Casterman o álbum da série Les Voyages de Loïs "Le Portugal", da autoria de Luís Diferr (textos, desenhos e pesquisa) sobre a personagem Loïs, criada por Jacques Martin, recentemente falecido.

Este último autor é mais conhecido em Portugal pela série Alix, que vai ser objecto de reedição conjunta ASA/Público.

Deixo aqui um fragmento da entrevista feita pelos Enfants d'Alix a Maria José Pereira, editora responsável de Banda Desenhada da ASA e a Carlos Pessoa, jornalista do Público especialista em Banda Desenhada:


Enfants d’Alix: Une dernière question pour Maria José (Pereira) et Carlos (Pessoa). L'album de Luís Diferr "Les voyages de Loïs - Le Portugal": Superbe album pour ce que nous en avons déjà vu et qui a demandé pas moins de deux à trois ans de travail à Luís de plus il a tout fait seul) sortira très prochainement chez nous mais aussi chez vous, pensez-vous qu'il permettra de mieux découvrir ou redécouvrir votre beau pays ?

Maria José Pereira: L’album de Lois « Le Portugal » n’est pas une édition conjointe ASA/PÚBLICO, mais un livre que sort seulement sous le label ASA. Ça veut dire que la diffusion de ce titre ne se fera que sur les librairies (seulement les livres édités avec Público son diffusés aux kiosques et aux librairies). Je pense qu’il y a beaucoup d’information que la plupart d’entre nous ne connaissent pas et qu’il s’agit d’un livre très utile pour les Portugais qui veulent agrandir leur « savoir » au sujet de leur pays. De plus, je pense qu’il s’agit d’un livre « historique » dans son double sens. Il s’agit d’un livre au sujet du Portugal et d’un auteur portugais qu’a eu le privilège de travailler avec Jacques Martin.

Carlos Pessoa: Je l’espère bien. Luís Diferr est un bon professionnel et on peut s’attendre à un bel album avec plein d’informations. Mais je ne pourrai me prononcer en detail qu’après sa parution."

Posté par Stéphane Jacquet à Alix.Mag 25 Mars 2010

Imagem da capa (c)Luís Diferr/Jacques Martin/Éditions Casterman

Dia Mundial do Teatro


"O actor é um advérbio que ramificou
de um substantivo.
E o substantivo retorna e gira,
e o actor é um adjectivo.
É um nome que provém ultimamente
do Nome.
Nome que se murmura em si, e agita,
e enlouquece.
O actor é o grande Nome cheio de holofotes.
O nome que cega.
Que sangra.
Que é o sangue.
Assim o actor levanta o corpo,
enche o corpo com melodia.
Corpo que treme de melodia.
Ninguém ama tão corporalmente como o actor.
Como o corpo do actor.
Porque o talento é transformação.
O actor transforma a própria acção
da transformação.
Solidifica-se. Gaseifica-se. Complica-se.
O actor cresce no seu acto.
Faz crescer o acto.
O actor actifica-se.
É enorme o actor com sua ossada de base,
com suas tantas janelas,
as ruas -
o actor com a emotiva publicidade.
Ninguém ama tão publicamente como o actor.
Como o secreto actor.
Em estado de graça. Em compacto
estado de pureza.
O actor ama em acção de estrela.
Acção de mímica.
O actor é um tenebroso recolhimento
de onde brota a pantomina.
O actor vê aparecer a manhã sobre a cama.
Vê a cobra entre as pernas.
O actor vê fulminantemente
como é puro.
Ninguém ama o teatro essencial como o actor.
Como a essência do amor do actor.
O teatro geral.
O actor em estado geral de graça."


Herberto Hélder

Poema enviado por L.A.

(Retrato de Herberto Helder de pintor que não foi possível identificar)

sexta-feira, 26 de março de 2010

A violência da ignorância - José Gil


"Quaisquer que sejam as suas causas, as duas mortes recentes de um aluno e de um professor estão relacionadas com a violência nas escolas. Multiforme, ela nasce e desenvolve-se invariavelmente entre os alunos, contra eles próprios ou contra os professores. Raramente destes contra aqueles.

Estas mortes não são casos «excepcionais» (a não ser pelo carácter trágico do acontecimento), mas inserem-se num contexto geral de indisciplina, desrespeito e violação geral das regras que devem assegurar uma aula normal e mesmo das regras tácitas de conduta de um ser em sociedade. Estou certo que a grande maioria dos portugueses ignora o que se passa nessas aulas – onde o clima «bárbaro» não permite às vezes a mínima aprendizagem.

Não estou a dramatizar. Esta situação verdadeiramente patogénica – que provoca as mais variadas doenças psíquicas e somáticas nos docentes, depressões, stress, síndromas de pânico, traumas, sentimentos de repulsa e desistência perante a perspectiva de continuar a viver «esta vida e esta profissão» (no dizer de tantos professores) – levou milhares deles a aposentar-se antecipadamente, mesmo sofrendo graves penalizações materiais.

Para este clima contribui, certamente, um sem-número de factores - desde a «demissão dos pais» à própria violência que atrai os adolescentes, etc. Mas vem também da progressiva desagregação da autoridade dos professores e de uma política laxista e ignorante do que é ensinar e educar, feita mais para reduzir as despesas do Estado e facilitar a vida aos pais do que para formar e transmitir conhecimento aos filhos. Uma política que tanto deseja uma «sociedade do conhecimento» e que pouco ou nada faz para impedir a desdignificação ou «dessacralização» do conhecimento. A violência que circula livremente nas escolas deriva também da ignorância dos alunos e da negligência (ignorância) dos responsáveis.

COMO MODIFICAR ESTA SITUAÇÃO? Antes de mais, é preciso que se diga a verdade sobre a realidade concreta, quotidiana da vida escolar. Dizer a verdade sobre uma situação desastrosa. Para tanto, é preciso vencer o que se tomou quase um hábito, um modo geral de fazer política – que é dar-nos uma imagem sempre positiva, sem falhas, boa e tendencialmente perfeita do nosso país em todos os domínios. E porque não se diz a verdade? Se é exacto que o discurso político, por natureza, não é um discurso de verdade, esta pode e deve ser dita esporadicamente, em momentos de crise, por exemplo, e sobre matérias limitadas.

Se o fizesse, o Governo ganharia credibilidade e receberia uma adesão maior. Não o faz porque tem medo que o mal confessado contamine a imagem inteira da sua governação e a exponha a uma condenação global – o que é certamente um fantasma permanente. Mas, não o fazendo, comporta-se exactamente como os que o criticam sempre (com o discurso do «bota abaixo»), tão criticados, por sua vez, pelo próprio Governo. São afinal dois discursos complementares – ambos rígidos, dogmáticos, dizendo sempre o bem indefectível ou o mal radical em que vivemos. Mantendo-se os dois, porém, no plano da não-verdade da retórica política, que não restitui fielmente a nossa realidade, respondem, afinal, ao que o povo (em parte) também quer ouvir.

QUE SE COMECE POR DIZER a verdade sobre a situação que se vive nas nossas escolas – e um novo ânimo acordará talvez, ainda, forças nos mais desesperados. Mudar o espírito da educação, restituir a autoridade dos docentes, dar-lhes condições (materiais e imateriais) para ensinar, valorizar o conhecimento com uma cultura de
exigência, recusando a falsa democracia do facilitismo - tudo isto, que não existe, pode contribuir para transformar o clima de violência que se desenvolve actualmente nas nossas escolas."


José Gil, filósofo

VISÃO, nº 889, 18 de Março de 2010

quinta-feira, 25 de março de 2010

1 em 5 - só a ponta do icebergue


"Um em cada cinco portugueses sofre de perturbações psiquiátricas, constata o primeiro estudo que faz o retrato da saúde mental em Portugal. Em comparação com dados de outros seis países europeus Portugal é o que tem a prevalência mais alta, com números que se aproximam dos Estados Unidos, "o país com maior prevalência de perturbações de psiquiátricas no mundo", disse hoje o coordenador nacional de Saúde Mental, Caldas de Almeida."

Ler o artigo completo no Público.

Provavelmente esta estimativa é sobre os casos notificados clinicamente. Acredito que haja muito mais patologias mentais do que aquelas que são conhecidas e objecto de medicação.

Existem na sociedade portuguesa muitos sociopatas não detectados e nem tratados, que andam por aí a dar cabo da nossa vida, sem diagnóstico e sem tratamento psiquiátrico, entretendo-se a perpetrar os mais diversos tipos de crimes, sistematicamente impunes.

É igualmente minha convicção que existem muitas depressões encapotadas sob doenças psico-somáticas que tornam a vida dos pacientes num calvário, por tratamentos errados ou ausência de diagnóstico diferencial. Estas pessoas entram numa via-sacra de exames e terapêuticas infindáveis, quase sempre sem resultados de melhoria e o consequente desgaste e perda de qualidade de vida e de recursos financeiros. A ruína física e mental é fatalmente onde terminam as depressões crónicas não tratadas.


Imagem: Terry Rodgers

Omissão


"O que me assusta não é a violência de poucos, mas a omissão de muitos.
Temos aprendido a voar como os pássaros, a nadar como os peixes, mas não aprendemos a sensível arte de viver como irmãos."


Martin Luther King

quarta-feira, 24 de março de 2010

Carta de uma professora desesperada


"Hoje foi mais um dia de trabalho. Trabalho que vejo cada vez menos reconhecido, sem grandes aspirações de futuro e um monte de papelada para preencher.

Ser professora foi uma escolha que abracei há 14 anos, pois sempre gostei de ensinar, coisa que hoje cada vez menos consigo fazer.

Os alunos, por seu lado, cada vez mais tendem a considerar as aulas uma mera ocupação, talvez devido ao próprio facilitismo que o sistema permite. Nos tempos que correm, o aluno não tem de saber, tem é que transitar de ano. Mesmo que nem saiba distinguir uma linha curva de uma recta. Enfim, o que interessa são as estatísticas na promoção do sucesso educativo.

Depois ainda há os encarregados de educação a apontar muitas vezes o dedo aos professores. Não falo dos que verdadeiramente se interessam e se envolvem na educação dos filhos. Refiro-me aos que, na maioria das vezes, não colocam os pés na escola, nem ao menos se interessam por ir buscar as notas dos seus educandos.

Mas é claro que tudo o que acontece de errado com os alunos (até mesmo a falta de educação e a falta de respeito) é culpa do professor. Assim como a agressão verbal e física que quem ensina tantas vezes sofre na pele é também culpa do docente.

Veja-se o caso dos alunos agressivos: Não se importam minimamente com o que quer que seja. Estão na escola somente para desestabilizar, sobretudo dentro das salas de aula. Apesar de sancionados com dias de suspensão (que consideram mini-férias), podem sempre regressar ao estabelecimento de ensino. Independentemente do que fez à professora (são sobretudo mulheres as vítimas dos alunos altamente indisciplinados) a docente agredida terá sempre que voltar a cruzar-se no corredor ou na sala de aula com o aluno agressor.

Infelizmente o "saber" parece já não interessar nada, os alunos tem que estar é ocupados, ponto final. Mesmo quando um professor não pode dar a aula, é claro que estará sempre lá outro docente (de substituição), com a particularidade de nem sequer ser do mesmo ciclo, nem da mesma área disciplinar, logo, sem um plano de aula com que se possa guiar.

No entanto, a filosofia de base desta espécie de "ocupação de tempos livres" é simples: Professores e alunos têm é de estar realmente a fazer qualquer coisa para que todos se sintam bem. Ou melhor, alegadamente bem. Ou melhor ainda, teoricamente bem. Logo, os docentes de hoje têm de ser multifacetados, animadores sócio-culturais, artistas de circo, aliás, foi exactamente para isso que se formaram... Para dar aulas de substituição que nem pagas são, com a agravante de, quando se falta, ver o tempo ser descontado no período de férias.

Muito honestamente, estou cansada e desmotivada com este sistema, que nos exige um sem número de obrigações, mas que não se importa se o docente já vai no seu 11º contrato ou se nem ainda sequer ingressou na carreira. Mais, para poder ter supostamente uma avaliação excelente ou muito boa, o professor tem de seguir um modelo de avaliação sem pés nem cabeça, inspirado, é claro, numa realidade que nada tem a ver com... a realidade.

Há quem duvide? Uma semana numa escola a (tentar) trabalhar deitaria por terra as dúvidas até dos mais cépticos."


Professora do 2º ciclo no Alentejo, 38 anos.

Via Expresso

Ilustração: Terry Rodgers

terça-feira, 23 de março de 2010

segunda-feira, 22 de março de 2010

Dia Mundial da Água


A Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas através da sua resolução de Fevereiro de 1993, declarou todos os dias 22 de Março de cada ano como o "Dia Mundial das Águas" de acordo com as recomendações da Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento no capítulo Recursos Hídricos.

Mais do que nunca há que poupar esses recursos mantendo a qualidade da água e restringindo o seu uso indevido. A água doce do planeta não é um recurso inesgotável.


Foto de Pérola de Cultura, Noruega

Dia Mundial da Árvore


Tão embriagada de poesia e trabalho andei todo o dia, que me escapou outra efeméride importante na mesma data. Assinalou-se também a 21 de Março o Dia Mundial da Árvore.

A qualidade do ambiente é fundamental para a nossa qualidade de vida. E ela começa com o oxigénio que respiramos, que é fornecido pelas árvores e plantas. A deflorestação e o desmatamento criminosos são responsáveis por muitos desastres ecológicos e climáticos que acabam fatalmente por causar tragédias humanas, por vezes de grande monta.

Plantem-se árvores e poupe-se papel, sempre que possível reciclando-o e protejam-se as florestas; limpe-se o mato para evitar incêndios e cuide-se desses seres vivos, pulmões do planeta, como se fossem nossos irmãos, vitais para a nossa vida e saúde. Está em cada um de nós preservar o ambiente para assegurar o nosso bem-estar.

domingo, 21 de março de 2010

Dia Mundial da Poesia 3


O Fecho-éclair

"Filipe Segundo
tinha um colar de oiro
tinha um colar de oiro
com pedras rubis.

Cingia a cintura
com cinto de coiro,
com fivela de oiro,
olho de perdiz.

Comia num prato
de prata lavrada
girafa trufada,
rissóis de serpente.

O copo era um gomo
que em flor desabrocha,
de cristal de rocha
do mais transparente.

Andava nas salas
forradas de Arrás,
com panos por cima,
pela frente e por trás.

Tapetes flamengos,
combates de galos,
alões e podengos,
falcões e cavalos.

Dormia na cama
de prata maciça
com dossel de lhama
de franja roliça.

Na mesa do canto
vermelho damasco
a tíbia de um santo
guardada num frasco.

Foi dono da terra,
foi senhor do mundo,
nada lhe faltava,
Filipe Segundo.

Tinha oiro e prata,
pedras nunca vistas,
safira, topázios,
rubis, ametistas.

Tinha tudo, tudo
sem peso nem conta,
bragas de veludo,
peliças de lontra.

Um homem tão grande
tem tudo o que quer.
O que ele não tinha
era um fecho éclair."


Em memória de António Gedeão, poeta e professor.

Dia Mundial da Poesia 2


"Pergunta se os seus versos são bons. (…) Investigue o motivo que o manda escrever; examine se estende suas raízes pelos recantos mais profundos de sua alma; confesse a si mesmo: morreria, se lhe fosse vedado escrever? Isto acima de tudo: pergunte a si mesmo na hora mais tranqüila de sua noite: "Sou mesmo forçado a escrever?” Escave dentro de si uma resposta profunda. Se for afirmativa, se puder contestar àquela pergunta severa por um forte e simples "sou", então construa a sua vida de acordo com esta necessidade. Sua vida, até em sua hora mais indiferente e anódina, deverá tornar-se o sinal e o testemunho de tal pressão. Aproxime-se então da natureza. Depois procure, como se fosse o primeiro homem, dizer o que vê, vive, ama e perde. Não escreva poesias de amor. Evite de início as formas usais e demasiado comuns: são essas as mais difíceis, pois precisa-se de uma força grande e amadurecida para se produzir algo de pessoal num domínio em que sobram tradições boas, algumas brilhantes. Eis por que deve fugir dos motivos gerais para aqueles que a sua própria existência cotidiana lhe oferece; relate suas mágoas e seus desejos, seus pensamentos passageiros, sua fé em qualquer beleza — relate tudo isto com íntima e humilde sinceridade. Utilize, para se exprimir, as coisas do seu ambiente, as imagens dos seus sonhos e os objetos de sua lembrança. Se a própria existência cotidiana lhe parecer pobre, não a acuse. Acuse a si mesmo, diga consigo que não é bastante poeta para extrair as suas riquezas. Para o criador, com efeito, não há pobreza nem lugar mesquinho e indiferente.(...)

Uma obra de arte é boa quando nasceu por necessidade. Neste caráter de origem está o seu critério, — o único existente."


Rainer Maria Rilke, "Cartas a um jovem poeta", tradução de Paulo Rónai, Editora Globo – Rio de Janeiro, 1995.


A propósito do dia mundial da poesia, um excerto das palavras singelas deste escritor nascido em Praga, na República Checa, a um jovem aspirante a poeta, e, portanto, adequada a comemorar este dia e a incentivar novos poetas...

L.A.

Imagem: Pintura de Henri Fanti-Latour

Au printemps





Vídeos de Enya e Jacques Brel enviados pela Carmela.
Obrigada, amiga!

Dia Mundial da Poesia


O Dia Mundial da Poesia celebra-se a 21 de Março. Foi criado na XXX Conferência Geral da UNESCO em 16 de Novembro de 1999. O propósito deste dia é promover a leitura, a escrita, a publicação e o ensino da poesia através do mundo.

(Informação da Wikipédia)

A Palavra

"A palavra não tem olhos mas pálpebras de neblina
às vezes transparente Por isso ela caminha lentamente
como uma sombra em corredores de sombra
e treme como se fosse cair ou perder o seu hálito

Ela quer ler a sua própria chama
que às vezes não é mais do que um archote de cal
Nunca sabe o dia da semana porque o seu calendário é o vento
e arde sob a chuva da sombra como uma lâmpada trémula

Mas o seu rosto não se vê em nenhum espelho
e embate na porta atrás da qual se ouvem ecos
que não são de ninguém ou já foram e talvez sejam de retratos
e procura levantar a parede que falta sempre num dos seus lados."


António Ramos Rosa

Love is in the air

"Kiss the night and embrace the day... feel your body and everybody..."



Vídeo enviado por L.A.. Obrigada, amiga!

Parece que com a chegada da Primavera o desejo é de evasão e os colaboradores do Blogue estão a ficar muito inspirados!

sábado, 20 de março de 2010

A Primavera induz às paixões


(Clique sobre a imagem para ampliar)

Vittorio Giardino, La Porte d'Orient, p.50

Enviado por Luís Diferr

Equinócio da Primavera




Este ano a Primavera começa hoje, dia 20 de Março às 17:32.

Este instante assinala o equinócio, o momento em que o Sol, no seu movimento aparente anual intersecta a linha do equador.

No hemisfério Norte e a Primavera prolonga-se por 92 dias até ao próximo Solstício, a 21 de Junho às 12:28.

Hoje a noite será igual ao dia.


Fotos de Pérola de Cultura no jardim da Fundação Gulbenkian

Palavras


"Palavras aqui,
Palavras ali,
Palavras de amor,
Palavras com cor.

Flor de jasmim,
Anjo querubim.
Sabor a limão
Um beijo de solidão.

Palavras que cantam,
Palavras que gritam
De desespero e traição
De negra escuridão.

Palavras de azul mar,
Palavras a dançar
Na branca areia
Como se fossem uma sereia.

Palavras que nos tocam,
Palavras que nos marcam,
Palavras que nos corroem
Por dentro, nos consomem.

Mas então, elas têm cor
E têm sabor.
Que cor? Que sabor?
Cada um as vê de diferente maneira.

Não passam disso então.
Afinal são só palavras."


Poema de autoria de Flor de Mel, aluna de 16 anos.

Fotografia: Ramiro Marques

sexta-feira, 19 de março de 2010

A nossa escolha para o Dia do Pai



Esperamos que gostes, esta é para ti com um abração!

Caminhos


"Podes dizer-me, por favor, que caminho devo seguir para sair daqui?
Isso depende muito de para onde queres ir - respondeu o gato.
Preocupa-me pouco aonde ir - disse Alice.
Nesse caso, pouco importa o caminho que sigas - replicou o gato."

Lewis Carroll

Dia do Pai


"O Dia dos Pais tem origem na antiga Babilónia, há mais de 4 mil anos. Um jovem chamado Elmesu moldou em argila o primeiro "cartão". Desejava sorte, saúde e longa vida ao seu pai.

Nos Estados Unidos, Sonora Luise resolveu criar o Dia dos Pais em 1909, motivada pela admiração que sentia pelo seu pai, William Jackson Smart. O interesse pela data difundiu-se da cidade de Spokane para todo o Estado de Washington e daí tornou-se uma festa nacional. Em 1972, o presidente americano Richard Nixon oficializou o Dia dos Pais."


Texto e imagem da Wikipédia: Brita Andi - Selfportrait

quinta-feira, 18 de março de 2010

Não há mais paciência


Atafulhada que estou em testes e trabalhos para corrigir, nem sequer me dei ao trabalho de comentar o chorrilho de absurdos que o Ministério da Educação apresentou como alterações a introduzir no Estatuto da Carreira Docente.

A seguir para a frente com aquela montanha de absurdos, o EDC passaria a não existir e a classe docente ver-se-ia reduzida a uma força de trabalho desqualificada e sem qualquer carreira ou estatuto, na dependência directa do Ministério das Finanças.

Hoje, após a reunião com os Sindicatos, a tutela anuncia triunfalmente que retirou as alterações, de modo a não retardar o enceramento do processo, não colocando quaisquer procedimentos que estejam fora do acordo assinado.

Assim deveria ter sido desde o princípio.
Hélas, senhora ministra, não confio em si!

Dias da Música em Belém


Este ano o festival é inspirado nas "Paixões da Alma" de Descartes e tem lugar a 23, 24 e 25 de Abril.
Bilhetes à venda a partir de hoje no Centro Cultural de Belém.

O melhor professor


"O melhor professor!
O que significa isto?
Como se consegue apurar o melhor entre 150 000?
Com que critérios se pode fazer esta selecção tão "selectiva"?
Que tipo de alunos tem este professor?
Tem CEFs?
Tem alunos que não admitem a autoridade do professor?
Os seus colegas dizem que está sempre disponível e, por ser o melhor dos melhores, tem disponibilidade 7 dias por semana, 24 horas por dia?
Se assim é, tem vida pessoal?
Qual a razão de um professor se candidatar ao melhor de 150 000?
Existiam outros candidatos?
Qual a razão de uma escola se envolver nesta candidatura?
Pela sua supremacia, estará este professor disponível para ir "ajudar"
as escolas a dinamizarem acções de integração social para os jovens
provenientes de bairros "problemáticos"?
Haverá alguém que saiba responder a estas questões?
Haverá alguém que lhes queira responder?
Será que na maioria das outras escolas não existem outros professores como este?
E, será que não haverá mesmo mais do que um como este por escola?
Então, como é que este é o melhor professor?"


O que não sabe pensar

quarta-feira, 17 de março de 2010

St. Patrick's day


Saint Patrick, em latim Sanctus Patricius, santo irlandês, nasceu em 387 e morreu a 17 de Março de 493. Foi um missionário cristão, celta-bretão romanizado, geralmente conhecido como o santo padroeiro da Irlanda.

Quando tinha 16 anos foi raptado na Inglaterra por salteadores irlandeses e levado como escravo para a Irlanda, segundo relatam as suas duas únicas cartas autênticas, universalmente aceites como testemunhos fidedignos dos detalhes da sua vida.

Viveu seis anos na Irlanda antes de conseguir fugir e voltar para a sua família. Só regressaria à Irlanda depois de entrar para a Igreja e ser ordenado bispo.

O "Saint Patrick's Day", 17 de Março, aniversário da sua morte, é ainda hoje um feriado que continua a ser celebrado com solenidade dentro e fora da Irlanda.

Apesar de ter começado como dia santo litúrgico, a partir de cerca de 1600 tornou-se no dia de festa nacional da Irlanda, tendo posteriormente alastrado a todas as regiões do mundo onde se deu a implantação dos emigrantes de origem irlandesa, como os EUA, o Canadá, a Nova Zelândia, etc, e hoje é fundamentalmente um símbolo da cultura irlandesa.

Lagos exóticos







Fotos enviadas por Becas.

terça-feira, 16 de março de 2010

As paixões de Descartes em Belém


O "Tratado das Paixões da Alma" de René Descartes serviu de inspiração aos 72 concertos de música clássica que o Centro Cultural de Belém apresentará entre os dias 23 e 25 de Abril, integrado na habitual festa intitulada "Os Dias da Música".

"São seis as paixões da alma descritas por Descartes, em 1649, que inspiram a edição de 2010 dos Dias da Música em Belém", explicou António Mega Ferreira, administrador do CCB à Rádio Renascença.

O evento vai custar 650 mil euros e os bilhetes estarão à venda a partir desta quinta-feira.

Lavemos pois a alma na paixão pela música...!

De tarde


"Naquele pic-nic de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.

Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o Sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.

Mas, todo púrpuro a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!"


Cesário Verde

Pintura de Manet - "Déjeuner sur l'herbe"

Enviado pela nossa colaboradora L.A.

14 de Março - dia do número Pi


Convencionou-se que o dia 14 de Março é o dia do número Pi.
Na língua inglesa as datas escrevem-se ao contrário, logo 3.14. Ou seja, o valor aproximado de Pi.

O número Pi é uma dízima infinita não periódica e um número irracional. Trata-se de um número obtido a partir da relação entre o perímetro e o diâmetro de uma circunferência.

Os babilónios, Arquimedes, Ptolomeu, sábios chineses e muitos outros apresentaram-no de diversos modos e com diversos valores, desde cerca de 4000 anos antes de Cristo, até ao final do século XX, quando um computador chegou a apresentar o Pi com mil milhões de casas decimais.

Que loucura, hein? E ainda dizem que a Matemática não é fascinante?

segunda-feira, 15 de março de 2010

Adieu Jean Ferrat





Tinha 79 anos, era ex-comunista, cantava Aragon, Pablo Neruda e a sua voz calou-se nesta vida.

"A minha homenagem ao Luís" - Cristina Ribas


Muitas são as linhas que têm sido escritas ao longo dos dias sobre Luís Carmo, professor de Música numa escola de Sintra, falecido há um mês por não aguentar mais violência. Terá deixado escrito no seu PC pessoal a intenção de se suicidar, sucumbindo assim ao sentimento de impotência que há muito o dominava.

No Blogue do MUP, no ProfBlog e no Promova está um texto biográfico sobre este professor, escrito por alguém que parecia conhecê-lo de perto, com o título "Memórias esparsas do Luís".

Também Cristina Ribas, co-editora do ProfBlog deixou o comentário que a seguir reproduzo, por considerar que é suficientemente importante para não ficar confinado à caixa de comentários:


"A minha homenagem ao Luís, colega também do mesmo grupo disciplinar.
Que a vida do Luís possa ser para nós exemplo e nos ajude a pensar um pouco mais e a fazermos o que tem que ser feito. É cruel que se use a "fragilidade psicológica" do Luís para justificar a sua decisão. Seria o Luís realmente frágil ou estaria cansado de lutar por aquilo em que acreditava sem que isso implicasse resultados?

"O Luís era uma daquelas pessoas já raras, porque digna, guiado por princípios e valores, exigente consigo próprio"

Não há legitimidade para que pessoas como o Luís, dignas, guiadas por princípios e valores, exigentes consigo próprias se sintam cansadas, gastas e exaustas?!... Por que oferecemos tanta resistência a olharmos para nós próprios e fazermos auto-crítica e aceitarmos as críticas construtivas, se isso nos pode fazer mais felizes a nós e aos que nos rodeiam e é um excelente contributo para que a nossa sociedade possa ser melhor, mais justa e mais fraterna?

Pode ser duro termos que nos olharmos "ao espelho" em certas alturas mas vale a pena!

Obrigada ao Paulo Ambrósio por este belo texto!"


Cristina Ribas

Devia morrer-se de outra maneira


"Devia morrer-se de outra maneira.
Transformarmo-nos em fumo, por exemplo.
Ou em nuvens.
Quando nos sentíssemos cansados, fartos do mesmo sol
a fingir de novo todas as manhãs, convocaríamos
os amigos mais íntimos com um cartão de convite
para o ritual do Grande Desfazer: "Fulano de tal comunica
a V. Exa. que vai transformar-se em nuvem hoje
às 9 horas. Traje de passeio".
E então, solenemente, com passos de reter tempo, fatos
escuros, olhos de lua de cerimónia, viríamos todos assistir
à despedida.
Apertos de mãos quentes. Ternura de calafrio.
"Adeus! Adeus!"
E, pouco a pouco, devagarinho, sem sofrimento,
numa lassidão de arrancar raízes...
(primeiro, os olhos... em seguida, os lábios... depois os cabelos... )
a carne, em vez de apodrecer, começaria a transfigurar-se
em fumo... tão leve... tão subtil... tão pólen...
como aquela nuvem além (vêem?) — nesta tarde de outono
ainda tocada por um vento de lábios azuis..."


José Gomes Ferreira

Poema enviado pela nossa colaboradora L.A.

Imagem: "Poeta: incendeia a espada!” (Retrato de José Gomes Ferreira) - Pintura em acrílico de Mário Dionísio, 1989.

domingo, 14 de março de 2010

Em memória de Luis Carmo*


"A culpa não tem desculpa
E a morte não tem regresso.
O resto é o deserto sufocado
Na jaula do silêncio
Onde o medo se mede
Ao milímetro minuto
Enquanto a tela se tece
Com negro de bréu.
Uma clave de sol com dó de si
Numa arena de tigres
Retocando nos retalhos da chacota
O seu nocturno de Chopin.
Faça-se silêncio por favor
Que o pavor ainda ressoa
À tona das águas."


Maria Isabel Fidalgo

* Professor que se suicidou na Ponte 25 de Abril, vítima de violência escolar.

Foto de Pérola de Cultura, Lisboa

Sobre a autoridade do professor…


Por sugestão do meu caro colega Ricardo Silva da APEDE, republico aqui uma excelente reflexão de Mário Machaqueiro, no sentido de alargar este debate, importante e urgente.

"… Umas tantas teses, em jeito telegráfico, e porque os acontecimentos graves destes últimos dias (destas últimas semanas, meses, anos) a isso nos obrigam:

1. A autoridade do professor, na sala de aula e perante os seus alunos, é um atributo estruturalmente indissociável do seu ofício. Não se é professor sem autoridade.

2. A autoridade do professor não é um dado natural, nem está imune aos processos de transformação histórica e social. Além disso, essa autoridade necessita de ser legitimada (perante os alunos, como perante os colegas de profissão)

3. O ponto anterior não implica, porém, que tal autoridade seja totalmente arbitrária ou tenha de ser absolutamente relativizada (o oxímoro é aqui propositado).

4. A autoridade do professor assenta no seu saber e na sua capacidade de o transmitir aos alunos, de modo a que, nessa transmissão, eles saiam mais enriquecidos no plano intelectual e no plano ético.

5. A autoridade do professor, de acordo com a definição anterior, cria uma assimetria incontornável entre professor e alunos. A relação pedagógica só é possível dentro dessa assimetria e no reconhecimento da mesma por parte dos actores envolvidos.

6. O exercício da autoridade pode (e, em certos casos, deve) ser parcialmente negociado pelo professor com os alunos.

7. O ponto anterior não implica, contudo, que a autoridade em si mesma, quando devidamente legitimada, seja objecto de negociação.

8. Na escola pública democrática, tal como em qualquer organização social dotada de hierarquias estruturais (que diferenciam, por exemplo, quem sabe e quem não sabe, quem ensina e quem aprende), nem toda a autoridade pode e deve ser partilhada, nem todas as decisões podem e devem ser objecto de negociação, e nem todos os indivíduos podem e devem deter autoridade sobre qualquer assunto. Nenhuma democracia consegue funcionar sem espaços que são, por essência, não-democráticos. A escola pública limita-se a confirmar esta regra.

9. O conhecimento não é democrático, mesmo que o acesso a ele possa e deva ser democratizado.

10. A democratização do acesso ao conhecimento, através da escola pública, coincidiu historicamente com o domínio político de uma ideologia apostada em relativizar a própria ideia de conhecimento, nomeadamente do conhecimento científico.

11. A ideologia da relativização do conhecimento dominou politicamente o discurso pedagógico encarregue de legitimar as práticas da escola pública democrática. Uma boa parte das chamadas «ciências da educação» foi mobilizada para esse exercício de relativização e para a destruição da assimetria pedagógica entre professor e aluno, fomentando a ilusão da igualdade de todos os «saberes».

12. A relativização do conhecimento acarretou, assim, a relativização da autoridade do professor, com danos irreparáveis na legitimidade deste último perante os alunos e perante a sociedade.

13. A relativização e a desautorização do saber e do seu representante, o professor, ficou associada à entronização do jovem e de um modelo de ensino «centrado no aluno». Esse modelo corresponde a um igualitarismo falacioso segundo o qual os supostos «saberes» dos alunos têm valor idêntico, senão superior, ao dos professores.

14. O igualitarismo pedagógico destruiu a possibilidade de uma igualdade social genuína e genuinamente democrática, pois manteve os jovens estagnados na miopia dos seus supostos «saberes» – invariavelmente ligados ao senso-comum de uma experiência social limitada – e incapazes de aceder à consciência crítica que só a cultura científica e humanística, transmitida pela instituição escolar, pode proporcionar.

15. A desautorização permanente do professor passou a ter o aval institucional do Ministério da Educação, traduzindo-se no discurso dos seus dirigentes políticos transitórios, caucionados pela ideologia pedagógica de um relativismo dominante que permanece bem enraizado nesse Ministério.

16. Em Portugal, a desautorização do professor, estimulada pelos poderes instituídos, tem sido reforçada por um senso-comum dominante em que imperam o desprezo pelos saberes académicos, o culto do oportunismo e do arrivismo social, o fascínio pela «esperteza saloia» e pela ascensão social fácil, mesmo quando reconhecidamente associada à corrupção económica.

17. O caldo de cultura mencionado nos pontos anteriores, conduzindo à perda de referências ético-políticas e de modelos de identificação, desemboca facilmente na violência exercida sobre antigas figuras de autoridade que sofreram e continuam a sofrer um processo de erosão imparável. O professor é uma dessas figuras. Não surpreende, por isso, que hoje ele se encontre particularmente exposto a diversas formas de agressão, formas que a ideologia relativista sempre procura desculpabilizar.

18. A violência dos alunos sobre os professores e a vulnerabilidade destes últimos são tanto maiores quanto a ideologia relativista suprimiu as categorias morais de responsabilização e de culpa, substituindo-as por um psicologismo generalizado para o qual só existem «vítimas» e potenciais «traumatizados», mesmo quando são estes os agressores.

19. Nenhuma reforma do sistema educativo e da escola pública, orientada para recentrar o ensino na transmissão intergeracional do conhecimento e na figura do professor, será minimamente eficaz, ou sequer possível, enquanto perdurarem os factores que fomos aqui assinalando."

Publicado em Educação por APEDE em 14/03/2010

Síndrome de La Tourette 2


Quadro Clínico

Esta doença está classificada (...) no grupo das Perturbações Emocionais e de Comportamento com Início habitualmente na Infância e Adolescência (...) e descrita como Perturbação de tiques vocais e motores múltiplos combinados.

Sendo a descrição supracitada bastante explícita dos sinais que se podem observar, importa contudo referir que os múltiplos tiques motores e vocais, incluindo coprolalia, podem aparecer em simultâneo ou em diferentes períodos da doença. Numa primeira fase da doença, esta manifesta-se por episódios de tiques simples, normalmente faciais.

A doença manifesta-se quase sempre na infância e adolescência e tem sido observado que é mais frequente em indivíduos do sexo masculino. Os tiques podem ser simples - piscar de olhos ou pigarrear – ou complexos – movimentos faciais, dos membros, ou coprolalia. São movimentos súbitos, rápidos, estereotipados, recorrentes e não ritmados.

Os tiques fónicos iniciam-se cerca de dois anos após os sintomas motores, com características simples como grunhidos, gritos agudos e curtos. Não raramente, a criança passa a receber apelidos conforme o som que desenvolve. Por exemplo, muitas crianças passam a ser conhecidas na escola por “hic”, porque ao apresentar o tique motor, emitem este som agudo e breve.

A coprolalia enquadra aqueles indivíduos que, além de outros sintomas de Tourette, se vêm obrigados a repetir palavras obscenas e/ou insultos. Obviamente, a consequência desse tipo de comportamento traduz-se em diferentes graus de desvantagens no âmbito social. As situações que provoquem stress podem agravar os sintomas.

Esta perturbação pode ainda estar associada à Perturbação Obsessivo Compulsiva, podendo o doente apresentar ambas em simultâneo.

Hoje, sabe-se que esta síndrome tem origem genética, no entanto os cientistas não possuem certezas sobre as causas da Síndrome de Tourette. Sabe-se que é hereditária, na maioria dos casos, mas desconhece-se a forma exacta de como é herdada. Ainda não foi descoberto um gene específico da Síndrome de Tourette.

No entanto, os cientistas que se debruçam sobre o estudo desta síndrome, parecem concordar num ponto: os tiques da Síndrome resultam de anomalias no cérebro, tendo sido apontado por alguns investigadores, doenças no tálamo, gânglios da base e córtex frontal do cérebro e também disfunções nos neurotransmissores entre as células nervosas do cérebro.

Não existe cura para a Síndrome de La Tourette, mas existem várias formas de a controlar. Os tratamentos incluem terapia comportamental, medicações diárias e estimulação profunda do cérebro. A escolha do tipo de tratamento depende do quanto a Síndrome afecta a vida do paciente.

Texto de autoria de Becas.

Istanbul Oriental Ensemble


(Foto de Pérola de Cultura, ontem à noite no Centro Cultural de Belém.)





Enquanto não me posso perder pelas ruas de Istambul, vou deixando a paixão fluir, embalada por estas sonoridades com sabor a fusão entre o Magrebe e o Mediterrâneo Oriental.

Dou por mim a pensar no chá de maçãs secas trazido pela minha mãe, e no borbulhar suave dos narghilés por entre os aromas dos cafés fumarentos...

Anabela Magalhães, mulher guerreira, estes vídeos são especialmente para ti.