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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

"A vida é bela", fado a propósito da Musa do Blogue


António Zambujo - "Fado da vida Bela"
Para Luís Diferr, um dos seus fados preferidos.

Pearl em jeito de Halloween


Os posts do Halloween do ano passado assinalavam uma considerável boa disposição, e também algum gosto pela pesquisa, coisa que este ano, por várias razões, não possuo. Voltei a lê-los; há um ano a vida parecia estar a correr-me bem. Não é o caso neste momento.
(Pronto, lá vai o Paulo Guinote dizer que este é um Blogue confessional, apesar de que tenho feito um grande esforço de descentramento do Eu nas últimas semanas, but... Sorry, há épocas difíceis na vida.)

Contudo, a moda do Halloween ou noite das bruxas, parece ter vindo para ficar e não há como inverter esta tendência. Por isso e porque tenho amigos do outro lado do mar, não quero deixar de assinalar esta data simbólica para a cultura anglo-americana.

Por gentileza de um dos colaboradores deste espaço, os leitores são premiados com mais uma imagem da Pearl, a musa deste Blogue, desta vez vestida de bruxinha. Eu acho que devem deixar-se enfeitiçar por ela e ter uma noite de Halloween memorável.
Luís Diferr desenhou-a especialmente para a Pérola de Cultura e para vosso prazer. Enjoy it!
Obrigada, Luís!

(Ilustração: desenho de Luís Diferr sobre fundo de imagem web)

domingo, 30 de outubro de 2011

Week-end Tube em estado down

Já somos 7 biliões na Terra


As Nações Unidas anunciaram o número de 7 biliões para a população do planeta por estes dias. Esta tem vindo a crescer exponencialmente, sobretudo a partir de 1850. Nos últimos 50 anos a esperança de vida aumentou devido a melhores cuidados de saúde, evitando, sobretudo, as elevadas taxas de mortalidade infantil que dantes se verificavam. Também os idosos vivem em geral mais tempo do que há um século.

A população portuguesa tem uma taxa de nascimentos e de mortes igual, pelo que a população não cresceria nem dimuiria. Mas tem um aumento de imigrantes de 0,3% pessoas por ano, o que tem conduzido a um aumento da população residente.

Se quiser saber qual é o seu número na História da população da Terra, clique aqui.

"Carta aberta a um funcionário público" por João Miguel Tavares

"(...) você sofre mais porque o seu patrão não presta. Você sofre mais do que um trabalhador privado porque lhe mentiram, dizendo-lhe que o Estado era o paraíso laboral, pois nunca despedia e tudo oferecia. Infelizmente, o Estado foi apenas glutão, irresponsável e incompetente. Você sofre mais do que todos os outros porque a empresa onde trabalha faliu. As portas continuam abertas, é certo. Mas não se engane: o seu patrão mudou. Para sempre."

Ler aqui o texto completo.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Hergé sobre o filme "Tintin" de Spielberg: “Serei certamente traído, mas com ele sê-lo-ei de forma talentosa."


Benoît Peeters, argumentista belga de Banda Desenhada e grande conhecedor da obra de Hergé, escreve aqui um texto de agradecimento a Spielberg sobre este filme, no seu entender, uma obra magnífica, que vale por si enquanto filme, mas que não atraiçoa o espírito dos álbuns de Tintin.

Hergé nos seus estúdios

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Os Media e a Educação

(Clique para ampliar)

Conferência "Os Média e a Educação", desta vez com a presença de jornalistas, a 4ª da série Educação e Valores. Amanhã, às 18, 30 na Livraria Bucholz, em Lisboa.

Paulo Guinote versus Maria de Lurdes Rodrigues


Paulo Guinote, o editor do Blogue mais lido da esfera docente, A Educação do Meu Umbigo, foi alvo de um processo por parte de um jornalista da Visão. Em causa está um artigo sobre os aumentos salariais dos professores que é uma perfeita mistificação. Os dados, suponho eu, que não conheço os pormenores do processo, devem ter sido fornecidos pelo próprio ministério da Educação, liderado em 2006 por Maria de Lurdes Rodrigues.

Não me espanta por aí além que um jornalista processe Paulo Guinote, alguém que não teme as palavras e não evita pôr às escâncaras a verdade quando é caso disso. Ministros, políticos ou diretores têm passado nem sempre incólumes pela sua pena implacável. O que me espanta é que o ministério público ou os tribunais portugueses não tenham mais com que se ocupar, por exemplo, caçar os criminosos que puseram este país de pantanas, e, em vez disso, se deem ao trabalho de constituir arguido um professor de História, cujo único crime é fazer um Blogue.

Não conheço o jornalista em questão, mas sei de que massa é feito Paulo Guinote: é pessoa honesta, feita de simplicidade e lisura. Incómodo, mas vertical. Cobardia é coisa que nunca lhe conheci e não será por ser alvo de um processo ridículo que perderá a sua paz de espírito. É, em conjunto com outros professores da blogosfera docente, das pessoas que mais tem feito pela dignidade dos professores portugueses. E não se pode falar de dignidade sem repor a verdade. Por isso me solidarizei com ele desde a primeira hora.



Atrevo-me a dizer que espero que este processo não chegue à fase de julgamento; mas se chegar, gostaria de ver a cara de Maria de Lurdes Rodrigues, que se prestou ao triste papel de ser testemunha, a favor da acusação e contra o Paulo.

A ex-ministra, por sua vez, é arguida num processo, "acusada do crime de prevaricação de titular de cargo político pelo DIAP de Lisboa". Em causa estão mais de 300 mil euros de um contrato com "um amigo"...

Não sei qual é a credibilidade de uma testemunha que tem o rabo preso num processo destes. Pelos vistos não está suficientemente ocupada com o tacho da presidência da Fundação que Sócrates lhe ofereceu de bandeja quando deixou o ministério da educação. Então, vai gastar o seu tempo a testemunhar em tribunal contra um "zeco"! Se lá puser os seus excelsos pezinhos!

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Chove



Chove...
Mas isso que importa!,
se estou aqui abrigado nesta porta
a ouvir a chu
va que cai do céu
uma melodia de silêncio
que ninguém mais ouve
senão eu?
Chove...
Mas é do destino
de quem ama
ouvir um violino
até na lama


José Gomes Ferreira

Tintin, by Spielberg

Finalmente estreará amanhã, quinta feira, em Portugal The Adventures of Tintin, o filme tão aguardado de Steven Spielberg e Peter Jackson. 


A avant-première mundial teve lugar em Bruxelas ontem, com pompa e circunstância: acrobatas saltaram do topo de um cinema para descobrir a tela animada em que surgia Tintin e o Capitão Haddock. Até Milou abria a boca de espanto, ao ver a avenida cheia de polícias que tentavam conter a multidão maravilhada! A grande tela do Cinema anunciava em letras gigantescas no topo do edifício: «Tintin back to Belgium».


O filme só vai estrear nos EUA a 21 de dezembro por decisão de Spielberg, que chegou a falar com Hergé, tendo combinado com ele um encontro em Bruxelas, o  qual não veio a acontecer por morte deste. Assim sendo, a prioridade da estreia foi dada à Europa, até porque é aqui que as pessoas melhor conhecem estes heróis de Hergé.


Esta construção cinematográfica é um projeto para uma trilogia e inspira-se em histórias de Hergé como "O Caranguejo das Tenazes de Ouro" e "O Segredo do Licorne", publicadas entre 1941 e 1943 em Bruxelas no jornal "Le Soir"; é possível que o segundo filme se centre sobre "O Tesouro de Racham o Vermelho". 
Mas não sei se Georges Rémy se poderia rever nesta versão digital dos seus heróis... 

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Mornas de Cesária



A música de Cabo Verde e as mornas cantadas por Cesária Évora em particular, são das melodias que mais me põem de bem com a vida. Temi pela vida da Cize, internada há um mês em Paris, após dois AVCs. Felizmente está de volta a Cabo Verde, sua terra natal. É bom, pois embora já não vá cantar profissionalmente, assistirá ao sucesso garantido do seu último disco. 

Notícia aqui.


Recordo aqui uma das suas mais belas interpretações:




E que tal uma tentativa em crioulo?


Bo, ka ta pensa nha cretcheu, nem bo ka ta imagina,
K'ma longi di bo ntem sofrido,
Pergunta lua na ceu, lua nha companheira di solidão,
Lua vagabundo di espaço, ki conché tudu nha vida, nhas disventuras,
El ki ta contabu nha cretcheu, tudu o kun tem sofrido na ausencia e na distancia...
Mundo bo tem enroladu ku mi, num jogo di cabra cega sempri ta perseguim,
Pa kada volta ki mundo da, é ta trazem um dor pan txiga mas pa Deus...

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Por Rafael, vítima de bullying



Era aluno da Escola Pedro de Santarém, tinha 10 anos e as orelhas grandes. Diz-se que estava farto que gozassem com ele. Estava referenciado como aluno hiperativo, mas ainda assim, com sucesso escolar.
Aparentemente preparou a sua morte (?) com requintes improváveis para a sua idade: um fato de surf e uma coleira de cão serviram para uma encenação macabra de suicídio por enforcamento.
Cheira por todos os lados a história mal contada. Mas o que é facto é que uma criança morreu.
Seja como for, paz à sua alma e castigos exemplares para os bullies. Enquanto tal não acontecer, não vão parar os casos de violência sobre alunos e professores nas escolas.


Notícia aqui.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Conferência " Equidade e Educação"

(Clique sobre a imagem para ampliar)

Amanhã na Livraria Bucholz, em Lisboa pelas 18,30 a 3ª de um ciclo de conferências, com  coordenação e moderação de Paulo Guinote. 

Atenas a ferro e fogo



Literalmente. Aquela que foi outrora o berço da mais florescente civilização ocidental, berço da cultura, das artes e da primeira forma de democracia, está hoje transfigurada. Palco de revolta, tornou-se nos últimos tempos num cenário dantesco, de pancadaria, incêndios, pedradas e cargas policiais. A população de todas as classes sociais, em desespero, vira-se para a violência.




Confesso que, independentemente do risco do "efeito dominó" que estas revoltas possam vir a acarretar no resto da Europa, causa-me muita tristeza e consternação ver Atenas a ser palco de semelhante cenário. Ela foi a primeira cidade que visitei com a poupança do meu primeiro ano de salários como professora. Atenas, a cidade da Filosofia, onde me sentia em casa, onde cada pedra me contava uma história, corre o risco de transformar-se numa nova Beirute em tempos de guerra.

Ler aqui a notícia.

Kadhafi, one way ticket to hell



Kadhafi está oficialmente morto. Obviamente recuso-me a reproduzir aqui a sua imagem desfigurada. Longe de mim regozijar-me com a morte de homem algum. Como não me regozijei com a de Sadam Hussein. Kadhafi devia ser julgado antes de tudo. Mas compreendo o desejo de o quererem morto.


O que duvido é que este camarada tenha o passaporte que ele desejava para a História. Penso que ele não precisava de ter acabado deste modo humilhante. Se tivesse entregado o poder em tempo útil, democratizado o país e reconhecido que o seu tempo havia chegado ao fim em terras da Líbia, teria evitado este fim trágico. Mas assim não seria um mártir... e não é assim que os ditadores procedem. Kadhafi não seria ele próprio. 




Recordo-me do aparato com que veio a Portugal, acompanhado de uma imensa guarda de gala feminina, a tenda de luxo que lhe montaram no Forte de S. Julião da Barra, as honras que o governo português lhe prestou e a exagerada comitiva que trazia. Na Líbia ficaram célebres as festas de arromba que dava nos seus exuberantes palácios e até a sua auto-coroação como "rei" do mundo árabe! 


Pensaria assim conquistar a glória póstuma? Como aqueles desgraçados que se fazem explodir matando milhares, na expetativa de ir para os braços das virgens de um paraíso que só existe nas suas cabeças?


Para quê tamanho fausto, para quê tamanha soberba? Se tudo acabou afinal num buraco, sem coroa e sem trono, sem ouro e sem brocados, sem séquito e sem poder, com meia dúzia de balas enfiadas no corpo, como se fosse um vulgar maltrapilho. Não valeu a pena, Muamar!

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Aos professores do ensino público



Creio que a nossa situação de funcionários públicos é caótica. Nunca me lembro de um retrocesso desta natureza após o 25 de Abril. Alguém disse ontem que é a maior perda de poder de compra de sempre e que a nossa condição social será como se voltássemos ao Estado Novo. Penso que há nisto alguma razão, pois pelo que me lembro, e alguns de vós deveis lembrar-vos também, no tempo de Salazar fazia-se a apologia da pobreza. A miséria era inerente à submissão, logo conveniente. Infelizmente, penso que estamos a aproximar-nos perigosamente dessa apologia da pobreza. Do conformismo, do come e cala-te. Fiquemos pois pequeninos, pobrezinhos e honradamente conformados. Não nos pagam para pensar, menos ainda para opinar. Qualquer dia não nos pagam, ponto. Então, muita sorte em - ainda - termos emprego, é o que nos dizem.
Não sei bem o que se pode fazer numa circunstância tão séria como esta. 
Já me esmoreceu a fé em manifestações e greves. Por enquanto, estou doente. 
Deixem-me hibernar até 2014, que assim não pago despesas de Hospital...
Escravizados, mas conscientes de que o estamos a ser. É o mínimo.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Dia mundial pela erradicação da pobreza



"Grãos de uma romã" - Vídeo oficial lançado hoje pela associação CAIS

"Uma viagem com Platão" de Robert Rowland Smith

Robert Rowland Smith no seu recente livro "Uma viagem com Platão" (já traduzido em português) valoriza a crise como fator positivo, donde pode emergir uma forte estímulo ao pensar, à reflexão crítica e à consequente busca de soluções.
Diz ele que pensar ainda é de graça, não custa nada e ainda pode resolver problemas. Convida-nos a dar um passeio com Platão pelos momentos mais marcantes da nossa vida, revisitando-os com os olhos da Filosofia.


Smith não deixa de ter alguma razão, pois segundo alguns teóricos, constatamos que, ao longo da História, é muitas vezes das crises que emergem novas etapas, decisivas para a renovação (ou evolução) da Humanidade. 
Será assim? Há sempre quem goste de ver o copo meio cheio. O meu, em particular, está decididamente meio vazio. Pessimista, eu! Mas o livro é de apetite. Não fora... a crise!

Veja aqui o vídeo com as declarações deste filósofo britânico e a entrevista à TVI24.

(Obrigada à Ana Silva pelo envio do link).

domingo, 16 de outubro de 2011

Agustina Bessa-Luís



Fez 89 anos umas das mais notáveis escritoras portuguesas.
Para mim Agustina está para a prosa como Sophia de Mello Breyner Andresen estava para a poesia. Alguma coisa pulsional, tão forte e indispensável como respirar as leva(va) a escrever e a descrever sentimentos, emoções, lugares e tempos.


Habituei-me a ver a  "Sibila" na mesa de cabeceira da minha avó Matilde. Acho que tinha grande afinidade com a escrita dela e até fisicamente eram parecidas. A partir daí ofereci-lhe regularmente livros de Agustina, que ela devorava com igual devoção da que dedicava a Virgílio Ferreira.


Obras de referência como "Vale Abrãao", que deu origem a um filme de Manoel de Oliveira, são imensas e não as posso enumerar. Desejo muita vida a Agustina e dou-lhe os parabéns pela excelência da sua escrita. Para mim falar de Agustina é como recordar a minha avó, que teria hoje 90 anos.

sábado, 15 de outubro de 2011

Os professores, por José Luís Peixoto


Considero este texto exemplar. Não resisto a publicá-lo na íntegra. Obrigada José Luís, por nos fazer justiça.  

"O mundo não nasceu connosco. Essa ligeira ilusão é mais um sinal da imperfeição que nos cobre os sentidos. Chegámos num dia que não recordamos, mas que celebramos anualmente; depois, pouco a pouco, a neblina foi-se desfazendo nos objectos até que, por fim, conseguimos reconhecer-nos ao espelho. Nessa idade, não sabíamos o suficiente para percebermos que não sabíamos nada. Foi então que chegaram os professores. Traziam todo o conhecimento do mundo que nos antecedeu. Lançaram-se na tarefa de nos actualizar com o presente da nossa espécie e da nossa civilização. Essa tarefa, sabemo-lo hoje, é infinita.
O material que é trabalhado pelos professores não pode ser quantificado. Não há números ou casas decimais com suficiente precisão para medi-lo. A falta de quantificação não é culpa dos assuntos inquantificáveis, é culpa do nosso desejo de quantificar tudo. Os professores não vendem o material que trabalham, oferecem-no. Nós, com o tempo, com os anos, com a distância entre nós e nós, somos levados a acreditar que aquilo que os professores nos deram nos pertenceu desde sempre. Mais do que acharmos que esse material é nosso, achamos que nós próprios somos esse material. Por ironia ou capricho, é nesse momento que o trabalho dos professores se efectiva. O trabalho dos professores é a generosidade.
Basta um esforço mínimo da memória, basta um plim pequenino de gratidão para nos apercebermos do quanto devemos aos professores. Devemos-lhes muito daquilo que somos, devemos-lhes muito de tudo. Há algo de definitivo e eterno nessa missão, nesse verbo que é transmitido de geração em geração, ensinado. Com as suas pastas de professores, os seus blazers, os seus Ford Fiesta com cadeirinha para os filhos no banco de trás, os professores de hoje são iguais de ontem. O acto que praticam é igual ao que foi exercido por outros professores, com outros penteados, que existiram há séculos ou há décadas. O conhecimento que enche as páginas dos manuais aumentou e mudou, mas a essência daquilo que os professores fazem mantém-se. Essência, essa palavra que os professores recordam ciclicamente, essa mesma palavra que tendemos a esquecer.
Um ataque contra os professores é sempre um ataque contra nós próprios, contra o nosso futuro. Resistindo, os professores, pela sua prática, são os guardiões da esperança. Vemo-los a dar forma e sentido à esperança de crianças e de jovens, aceitamos essa evidência, mas falhamos perceber que são também eles que mantêm viva a esperança de que todos necessitamos para existir, para respirar, para estarmos vivos. Ai da sociedade que perdeu a esperança. Quem não tem esperança não está vivo. Mesmo que ainda respire, já morreu.
Envergonhem-se aqueles que dizem ter perdido a esperança. Envergonhem-se aqueles que dizem que não vale a pena lutar. Quando as dificuldades são maiores é quando o esforço para ultrapassá-las deve ser mais intenso. Sabemos que estamos aqui, o sangue atravessa-nos o corpo. Nascemos num dia em que quase nos pareceu ter nascido o mundo inteiro. Temos a graça de uma voz, podemos usá-la para exprimir todo o entendimento do que significa estar aqui, nesta posição. Em anos de aulas teóricas, aulas práticas, no laboratório, no ginásio, em visitas de estudo, sumários escritos no quadro no início da aula, os professores ensinaram-nos que existe vida para lá das certezas rígidas, opacas, que nos queiram apresentar. Se desligarmos a televisão por um instante, chegaremos facilmente à conclusão que, como nas aulas de matemática ou de filosofia, não há problemas que disponham de uma única solução. Da mesma maneira, não há fatalidades que não possam ser questionadas. É ao fazê-lo que se pensa e se encontra soluções.
Recusar a educação é recusar o desenvolvimento.
Se nos conseguirem convencer a desistir de deixar um mundo melhor do que aquele que encontrámos, o erro não será tanto daqueles que forem capazes de nos roubar uma aspiração tão fundamental, o erro primeiro será nosso por termos deixado que nos roubem a capacidade de sonhar, a ambição, metade da humanidade que recebemos dos nossos pais e dos nossos avós. Mas espero que não, acredito que não, não esquecemos a lição que aprendemos e que continuamos a aprender todos os dias com os professores. Tenho esperança."
José Luís Peixoto, revista Visão de 13 de Outubro de 2011

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Manifestações de indignação


Em mais 800 cidades de mais de 80 países.
Amanhã, muito a propósito.

Por cá é às 15 no Marquês de Pombal.

No limbo



O empobrecimento vai ser a etiqueta deste último trimestre de 2011. 2012 vai ser um garrote. Os místicos anunciavam o fim do mundo para esse ano. O fim começa antes do fim. Para muitos como eu, começou ontem.


Congressos, compra de livros e filmes, cursos vários e outros bem culturais como teatro e cinema vão ser considerados luxos a banir. As férias e as viagens possivelmente ficarão a repousar nas folhas de catálogo e nas páginas da Internet.  Nos medicamentos, infelizmente, não poderei cortar.


Calcula-se que os professores perderão 20 a 25% do seu salário real; os catedráticos 30%. Mas uma coisa é certa: uma classe docente empobrecida materialmente, ficará também empobrecida no espírito. Fazer este tipo de trabalho de forma mecânica e sem motivação, vai acarretar falta de motivação também nos alunos. E isso é um duplo prejuízo, esse não contabilizável no imediato, mas a médio e longo prazo. Mesmo que os alunos passem de ano, saberão menos e guardarão uma má imagem da escola, com professores precocemente envelhecidos, tristes e doentes.


O Professor Nuno Crato, aparentemente, nada pode fazer para evitar isto, dado que as decisões vêm de cima. O que pode é contribuir, se quiser, para que a vida nas escolas não se torne um puro inferno. 

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Professores, carne para canhão (2)



O primeiro comentário do post abaixo é de um frequentador habitual deste Blogue e brilhante ex-aluno da sua editora.


O seu comentário coloca questões pertinentes e que não podem ser respondidas na caixa de comentários. As inquietações deste jovem amigo deixam entrever uma legítima perplexidade, normal em quem contactou recentemente com equipas de professores sérios e empenhados, alguns mesmo, posso dizê-lo, amantes da função docente.


Quando amamos aquilo que fazemos, a paixão transpira-nos das palavras e dos gestos; e no brilho dos olhos vê-se a autenticidade daquilo em que acreditamos. P.D. teve a felicidade de trabalhar com alguns destes professores, o que certamente contribuiu também para a sua entrada na Universidade com que sempre sonhou.


Ele interroga-se: "Se há uma profissão que este país respeita, são os professores.  (...) Como é possível que se veja um professor esgotado física e mentalmente? Como é possível que aqueles que outrora adoraram dar aulas, estejam hoje a odiar a profissão? Como é possível?!" 


Sabemos que a profissão de professor é respeitada pela população como uma das mais nobres. Somente em casos felizmente excepcionais isso não acontece. A explicação é outra.


O que se passa é que as sucessivas tutelas, de há mais ou menos seis anos a esta parte, têm vindo a castigar a classe docente com cada vez mais exigências, mais horas de trabalho, mais burocracia e supressão constante de direitos adquiridos. Para já não falar no completo defraudar das expectativas de carreira, que hoje já não o é. 


Os professores hoje são tratados com funcionários públicos "manga-de-alpaca", uma espécie de pau para toda a obra. O professor é um Faz-Tudo. Nas recentes tomadas de decisão dos governos face à carreira docente não se atende às especificidades da profissão, como seja o número de alunos com que se trabalha, o desgaste que implicam as aulas de 90 minutos, a sobrecarga com tarefas extra letivas e toda uma parafernália de invenções para nos prender ao estabelecimento, retirando-nos tempo para correção de trabalhos e testes, preparação de aulas, tempo para estudar e fazer as necessárias atualizações.


Ou seja, exige-se tudo e não se dá nada em troca. Espreme-se o limão até não dar mais sumo. E depois vem o desencanto. Isso abre caminho aos esgotamentos, às depressões e outras doenças ainda piores.


Duvido muito que haja volta atrás, ou que os desfiles na Avenida da Liberdade só por si, possam inverter esta tendência; ela está a verificar-se por todo o lado. Professores a encherem as ruas de Londres, Paris e Madrid em protestos de uma semana, em que alunos e encarregados de educação se solidarizam com eles, nunca tinha visto. Isto quererá certamente dizer alguma coisa, que deveria ser seriamente repensada por parte dos agentes tutelares das políticas educativas. 

Professores, carne para canhão


Cada vez mais são as vozes que se levantam a propósito de rumores surgidos, ao que parece com fundamento, sobre a retirada de direitos fundamentais adquiridos pelos trabalhadores há décadas, alguns dos quais conquistados a pulso, após duríssimas lutas sociais e/ou sindicais.

Os professores são sem dúvida um desses casos, para quem conquistas há muito conseguidas como a redução da componente letiva por antiguidade (conhecida como artigo 79), por absurdo que seja, podem vir em breve a desaparecer.

Quem propuser tal coisa nem sequer tem a noção da catástrofe que vai originar no ensino. Não é humanamente aceitável que um professor com mais de 50 anos, por exemplo, em vez de diminuir com o tempo o seu número de horas de aulas, as possa aumentar! Quantos serão aqueles que irão aguentar tal barbaridade? Para já não falar no aumento da idade da reforma.
O Ricardo Montes explica aqui o que está em discussão a esse respeito.

Se a redução da componente letiva desaparecer, quantos correrão à reforma antecipada com fortes penalizações? Quantos ficarão doentes, desmotivados, deprimidos? Parece que não importa, é mesmo para espremer até ao tutano, carne de segunda (ou terceira) para abate!

Não me admiro com as marchas da indignação, que se estão a repetir um pouco por todo o lado. Portugal não é excepção e os professores estão literalmente a ser sangrados! Não estarei presente por pura incapacidade física, mas a minha vontade seria manifestar também a minha indignação.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Conferência sobre Igualdade e Educação


(Clique sobre a imagem para ampliar)

Recebi este convite de Paulo Guinote, que divulgo com muito gosto.
Trata-se da segunda conferência em torno dos temas da Educação.
Às sextas-feiras durante o mês de outubro, ao fim da tarde na Livraria Bucholz, em Lisboa.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

101 anos de República em Portugal



Há um ano assinalava-se o Centenário da República Portuguesa e eu estava profundamente envolvida nas suas comemorações. Na minha escola o Departamento de Ciências Sociais e Humanas mobilizou-se fortemente para organizar eventos, que do meu ponto de vista, foram notáveis. Alguns dos trabalhos que expus dos meus alunos de Artes figuraram numa edição especial do Jornal da Escola e as Conferências que organizámos e em que estive pessoalmente envolvida, foram grandemente participadas. O que só veio provar que os jovens são sensíveis ao fenómeno República e se interessam pela vida política e pela História do seu país. 
Para mim, as comemorações do Centenário da República ficaram como momentos memoráveis que não se repetirão na minha vida nem na minha escola.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Exposição de pintura de Olinda Gil

(c) Olinda Gil            (Clique para ampliar)

Recebi este convite da autora com pedido de divulgação.
Em Grândola a 5 de Novembro. Ver local e horário  aqui.