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segunda-feira, 5 de abril de 2010

Islândia proibiu os clubes de strip-tease


Há muito tempo que tinha vontade de escrever alguma coisa sobre a Islândia, mas a crise financeira não é dos meus assuntos predilectos. Agora surgiu uma notícia que não me deixa nada indiferente e fez emergir os resquícios de feminismo que há em mim.

Segundo a notícia que li no jornal inglês The Guardian o parlamento islandês acaba de aprovar a 25 de Março, sem votos contra e apenas duas abstenções, a proibição dos clubes de strip, considerando que as mulheres estariam desse modo sujeitas a uma "coisificação" indesejável.

A Islândia é considerada "o país mais feminista do mundo", entendida esta frase como o país onde melhor são preservados os direitos das mulheres.

A proibição incluiu fechar pura e simplesmente os clubes onde há shows de strip e lap-dance, proibir que as empregadas de bares ou discotecas andem a servir em topless e todo e qualquer tipo de nudez em locais nocturnos. Uma das responsáveis políticas por esta medida afirmou que "It is not acceptable that women or people in general are a product to be sold."

Deslocaram-se para a Islândia nos últimos anos cerca de 100 mulheres por ano oriundas de países estrangeiros especialmente para trabalhar em clubes de strip. Isto relaciona-se muitas vezes com prostituição e proliferação de redes de tráfico de pessoas, onde as mulheres se vêem enredadas por questões de pobreza e abuso de drogas. A jornalista Julie Bindel do The Guardian diz: "I have visited a strip club in Reykjavik and observed the women. None of them looked happy in their work."

Esta medida deve-se em parte à sua chefe de Estado, Johanna Sigurdardottir, assumidamente lésbica e feminista, que pretende pura e simplesmente acabar com a indústria do sexo na Islândia. Todos os países da Escandinávia aprovaram medidas que, de alguma maneira, criminalizam o negócio do sexo, justamente para proteger os direitos das mulheres e acabar com a escravatura sexual.

Na Islândia metade dos parlamentares são mulheres e nos outros quatro países, um terço. As feministas islandesas, que são fortemente opositoras da prostituição, dizem que "Johanna is a great feminist in that she challenges the men in her party and refuses to let them oppress her"; além disso, ela envolveu-se directamente durante a sua campanha em causas contra a violência sexual.

É de salientar que segundo as sondagens de opinião na Islândia em 2007, 82% das mulheres e 57% dos homens defendiam a criminalização do sexo pago, estando apenas 10% da população em desacordo com esta medida.

A leader da Coligação Contra o Tráfico de Mulheres, Janice Raymond disse estar muito contente com esta medida: "What a victory, not only for the Icelanders but for everyone worldwide who repudiates the sexual exploitation of women."

Ao contrário, os proprietários de clubes nocturnos estão furiosos e comparam a Islândia à Arábia Saudita, onde não se pode ver nenhuma parte do corpo da mulher...

Os países escandinavos têm vindo a liderar a luta pela igualdade de direitos das mulheres no mundo, começando por estimular a mudança de mentalidades, dizendo que os homens terão de se habituar à ideia de que as mulheres não são uma mercadoria para se comprar e usar.

9 comentários:

  1. Como é óbvio sou totalmente a favor de todas as medidas que combatam a exploração sexual seja de quem for. Contudo, penso que a Islândia não é exemplo para ninguém.

    Estamos a falar de um país maior que Portugal mas com uma população semelhante à da cidade do Porto. Desculpa a comparação, Lelé, mas a Islândia é uma "aldeia grande".

    A medida de proibir as coisas assim do nada e sem complacências é, de facto, razão para o comentário que tu transcreveste que compara o país à Arábia Saudita.

    É preciso saber até onde é que isto vai. Será que é a exploração de mulheres (e certamente de homens também) que se quer evitar com estas medidas ou serão elas apenas um puritanismo disfarço? Nos EUA também se penaliza tudo e mais alguma coisa que tenha a ver com sexo. No entanto, têm a maior industria do sexo do mundo.

    Deixo ainda outro ponto de vista. Será este corte à máquina zero a melhor maneira de se combater a exploração das mulheres e a industria do sexo? Não se estará com isto a atirar este negócio que, gostemos ou não, sempre existiu e infelizmente existirá, para as mãos das redes que operam na ilegalidade? Não seria melhor dar protecção legal às pessoas que neste negócio trabalham?

    Este caso faz-me lembrar a Holanda. Enquanto eram as Holandesas a estarem na rua vermelha e afins, nunca houve problema com isso. Agora que elas foram atiradas para o desemprego pelas imigrantes de leste fechou-se a "rua"...

    Honestamente, Lelé, a medida é boa mas parece-me ter motivos ulteriores que pouco têm a ver com a protecção das mulheres. Os países nórdicos são exemplos para muita coisa mas, infelizmente, não são conhecidos pela sua hospitalidade para com os imigrantes. Se calhar o problema aqui não acabar com o negócio do sexo, mas antes com a imigração.

    Uma boa medida terá efeitos contrários se as motivações por detrás dela forem outras que não as reais.

    Deixo a dúvida.

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  2. Como siempre los paises Escandinavos encabezan la lista de paises en derechos humanos y como no en derechos hacia y para la mujer.
    Una de las causas por las que AMO Noruega es esa.
    Bien por Islandia!
    Un abrazo

    Maru

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  3. Elenáro

    É bom que haja dúvidas e posições contraditórias. Da discussão pode nascer alguma luz.

    Sei do que se passou na Holanda. Tenho eu própria dúvidas sobre a pertinência de aquele país ter ilegalizado a prostituição, que dantes parecia mais controlada, apesar de tudo. Por outro lado, aquele "red light district" era um espectáculo que em breve se tornou degradante.

    Mas o problema maior que eu vejo sempre é que atrás da prostituição vêm as máfias de tráfico de pessoas, que são escravizadas e submetidas a dependência, exploração e maus tratos.

    Nessa medida dou alguma razão aos países escandinavos que tomaram medidas para criminalizar o negócio da exploração sexual sob qualquer das suas formas.

    Penso que querem evitar outras "Tailândias" aqui pela Europa do Norte.

    Obrigada pelo contributo.
    Um abraço.

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  4. O meu aplauso para a Chefe do Governo da Islândia.

    Lelé, por considerar este assunto de extrema importância vou levar este posta para o meu blog.

    Obrigada,

    Safira

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  5. Concordo com o que dizes. O mundo não precisa de mais Tailândias.

    No entanto, e não discordando da medida, fico com a dúvida dos motivos destas medidas. Repare-se que, ao ilegalizar este tipo de negócios não implica que eles deixem de existir. O que se está a fazer é passa-los para fora da lei negando assim apoio legal, social e médico às vitimas.

    Fico de facto com muitas dúvidas se ao fazer isto não se estará a dar as mulheres às máfias a preço de saldo.

    Já agora estou plenamente de acordo quando dizias que o "red light district" era um espectáculo deprimente. Aliás, como são também as zonas do sudeste asiático onde existe negócio do sexo. Aí,assiste-se à "coisificação" das pessoas no seu expoente máximo.

    Bem, a ver vamos daqui a uns anos os frutos desta medida. Até lá penso que só nos resta esperar que tenha sido pelo melhor.

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  6. Julgo que o tráfico de mulheres - ou de seja quem for - vive da tolerância que se tem para com os clientes.
    Sei de estudos sobre o consumo de citrinos, sobre a relação das velhinhas com os seus gatos, o que os clientes olham primeiro quando pensam em comprar carro, até sobre os consumidores de cannabis. Ainda ninguém foi capaz de me explicar por que raio há frequentadores da prostituição. Será culpa da minha própria burrice, quem sabe?
    Entretanto, o que eu gostava mesmo de saber era se os islandeses não nos emprestam a sua Johanna Sigurdardotti. Tínhamos muito trabalho para ela, aposto.

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  7. Olá Tacci!
    Eu, por mim, não me importava nada de ter por cá a Johanna durante uns tempos. Faria certamente melhor trabalho do que o "Marquis de Fripor"! :-)

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  8. "Ainda ninguém foi capaz de me explicar por que raio há frequentadores da prostituição."

    Ora Tacci... Isso é muito simples de explicar... Falta de "carinho" em casa.

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