|
Gustav Klimt - Water serpents |
Portugal
continua a ser campeão dos infetados por VIH na União Europeia; uma vergonha e uma tristeza.
Este ano foi diagnosticado um milhar de novos casos. Haverá falta de informação sobre esta doença?
Nem por sombras!
Dos estudos realizados, a maioria das pessoas inquiridas, em amostras de população
diversificadas, conhece os riscos, as formas de transmissão e os procedimentos a adotar para a contenção desta epidemia.
As
populações mais jovens, nomeadamente nas Universidades, são as que mais
conhecem sobre a doença, desde os sintomas até às formas de contágio, mas são
também as que mais assumem comportamentos de risco.
Isto para mim constitui um
paradoxo e, como todos os paradoxos, é irresolúvel.
Segundo relato de especialistas, esses jovens confessam em
consulta que sabem os riscos que correm, assumem-nos, e vão fazendo testes de
despistagem de 3 em 3 ou 4 em 4 meses, a fim de driblar aquilo que eles calculam como ‘período de janela’ do vírus.
Isto é como andar a dar voltas na borda do poço da morte em busca da adrenalina.
Mas o
paradoxo não fica por aqui: esses indivíduos, muitas vezes de origem
socio-cultural média ou elevada, um dia recebem um teste de VIH positivo e
depois indignam-se com as situações de discriminação social com que mais tarde
ou mais cedo se deparam.
Os
estereótipos e o preconceito ainda por aí andam instalados e estes doentes
continuam muitas vezes a ser conotados com os anteriormente designados “grupos
de risco”, conceito hoje em dia obsoleto. A prostituição, os consumidores de
drogas (por via intra-venosa) e os homossexuais masculinos foram inicialmente
os grupos onde a doença mais se difundiu. Hoje em dia estas são situações cujos envolvidos passaram a proteger-se muito mais, o que fez com que o número de
infetados tenha vindo a diminuir drasticamente. Primeiro nos EUA e depois em
toda a Europa.
É no
continente africano que o problema persiste de forma mais grave em todas as
faixas da população, inclusivamente com muitas crianças a nascerem já
infetadas. A escassez de meios de combate à doença, mas também as dificuldades
profundas no âmbito da educação para a saúde, com todo um desfazer de mitos que
isto implica, são os maiores obstáculos.
No mundo
ocidental hoje já não se fala em grupos de risco, mas continua a falar-se em
comportamentos de risco. E esses continuam a existir, e muitas vezes com
consciência, à revelia de todas as campanhas e avisos por parte das
instituições de Saúde, técnicos especializados e publicidade institucional.
Em
Portugal nem ONGs como a Abraço ou outras, têm conseguido com as suas
campanhas, mudar este estado de coisas.
As relações
sexuais fortuitas desprotegidas e o número elevado de parceiros são a principal
causa de transmissão do VIH entre a população jovem portuguesa; a frequência de
prostitutas e o subsequente contágio da parceira são a maior causa de
disseminação da doença entre a população idosa (consideremos, para facilitar, os maiores de 65
anos). Ainda assim, as pessoas
sabem disto.
Sabemos que é muito difícil alterar comportamentos nas camadas
mais idosas. Mas seria de esperar que as gerações mais jovens, mais
esclarecidas, pudessem ter uma consciência maior da necessidade de assumir
certos hábitos saudáveis, tanto sobre a educação para a Saúde, como a
consciência de Cidadania que consiste em não se estar nas tintas para o outro
com quem se está. Quer esse "estar" signifique uma vida, um ano ou apenas uma noite.
Faço questão de chamar a atenção dos meus
alunos para o sentido de responsabilidade que deve estar associado à
sexualidade, nas aulas de Educação Sexual. Mas parece não ser suficiente quando
chegam à Universidade. No meio das praxes e dos copos, não se sabe bem, mas
parece que tudo pode acontecer.
Poderemos
neste ponto perguntar: - E as faixas etárias intermédias, como estão? As dos trintões, quarentões,
cinquentões? Ou já se safaram entre os pingos da chuva e entretanto ganharam
juízo, ou já morreram, ou então ainda fazem parte dos que continuam a jogar à
roleta russa… Até um dia!