Há tempos escrevi aqui e aqui sobre a minha incredulidade sobre este tipo de tragédias.
Infelizmente, há dias tornei a sentir-me atónita com outra tragédia, ainda mais mortífera.
Embora de contornos diferentes, esta última foi perpetrada por alguém com um nome parecido.
Na Noruega foi Anders, na Alemanha Andreas. Na Noruega foi Breivik, na Alemanha, Lubitz...
Em ambos os casos, vinte e poucos anos, caras de anjos, rapazes bonitos, com um ar normal.
Bons filhos, cidadãos aparentemente cordiais, bons vizinhos, socialmente respeitados e, no entanto... assassinos!
Juro que até senti um arrepio, como se, de repente, estivesse a assistir a um déjá-vu, noutro cenário.
As semelhanças são evidentes nos nomes, mas não só: embora com diferenças nas motivações e nas personalidades, assistimos a duas mortandades de inocentes protagonizados por jovens sociopatas.
O primeiro disparou rajadas de balas sobre dezenas de jovens inocentes num acampamento de Verão numa ilha, após ter colocado um engenho explosivo de fabrico caseiro no edifício do governo da Noruega. O segundo despenhou propositadamente um avião Airbus sobre uma montanha dos Alpes há dias, matando 150 pessoas. O primeiro agiu por razões de racismo e xenofobia. Não queria ver o seu país "invadido" por outras raças, línguas e cores e achou assim que podia combater a tendência multicultural da Escandinávia. O segundo estava doente, deprimido, com dor de corno, sei lá, de mal com a vida, quiçá com o emprego. Não achou melhor modo de se suicidar do que levando para a morte consigo uma centena e meia de inocentes que viajavam de Barcelona para Dusseldorf. E que não tinham nada a ver com o seu surto psicótico, quadro de ansiedade ou crise amorosa.
Claro que todos temos livre-arbítrio e somos donos do nosso corpo e da nossa vida. Penso mesmo que o suicídio deve ser entendido como um direito. Mas não temos direito a dispor da vida dos outros. Daí que eu compare este crime com o da Noruega. Não deixam de ser ambos homicídios em massa, premeditados e meticulosamente executados.
Para preparar este tipo de atos é preciso que a frieza e o calculismo se sobreponham a toda a sanção moral e a toda a consciência ética. É preciso estar despido de toda a roupagem cívica e educacional que orienta o indivíduo para aquilo que é o mais elementar princípio de cidadania: o respeito pelo outro.
O valor mais universal e tacitamente aceite como supremo e inquestionável, que é o valor da vida, nestes casos, foi completamente subjugado a mentes perturbadas, de mal com o mundo e com raiva à humanidade.
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