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sexta-feira, 17 de julho de 2009

Professores punidos por não entregarem Objectivos


Secundária de Odivelas
Primeira escola a concluir avaliação vai penalizar docentes que não entregaram objectivos individuais


"A Escola Secundária de Odivelas terá sido a primeira escola do país a concluir o processo de avaliação de desempenho dos professores. E a primeira a tomar uma decisão sobre o que fazer com os professores que não entregaram os objectivos individuais: não avaliá-los.

Manuel Grilo, do Sindicato dos Professores da Grande Lisboa, afecto à Federação Nacional de Professores, disse ao PÚBLICO que vai apoiar juridicamente os 50 docentes que na semana passada ficaram a saber que não fazem parte da lista dos professores avaliados. “O caso vai para tribunal.”

Um professor que não seja avaliado não progride na carreira e é prejudicado do ponto de vista salarial. “Sem fixação de objectivos individuais não há avaliação, não há progressão na carreira e o tempo de serviço não é contado para efeitos de concurso. Isto é absolutamente claro e incontroverso”, disse, em Março, Jorge Pedreira, secretário de Estado adjunto e da Educação, na Assembleia da República.

Na altura, a equipa ministerial remeteu para os conselhos executivos os eventuais processos disciplinares aos docentes que não entregarem os objectivos individuais — uma das primeiras etapas do contestado modelo de avaliação e que, um pouco por todo o país, foi boicotado por milhares de docentes que se recusaram a dar esse passo. “A lei é para ser cumprida”, sublinhou Jorge Pedreira.

Mário Furtado, professor da Secundária de Odivelas contactado pelo PÚBLICO, diz que a direcção da escola emitiu para 50 dos cerca de 190 docentes do estabelecimento de ensino um despacho onde informa que por não terem entregado os objectivos as suas fichas de avaliação foram arquivadas no processo individual.

“É uma maneira de dizer que não seremos avaliados”, algo que já lhes tinha sido dito, verbalmente, na secretaria da escola. Segundo este professor, os colegas que entregaram os objectivos estão, nesta altura, a receber as suas classificações.

Luís Farinha, outro docente que faz parte da lista dos não avaliados, diz que o grupo de 50 vai agora pedir à escola que explique as razões pelas quais estes professores não constam da lista.

Mário Furtado explica que não entregou os objectivos individuais porque contesta o modelo de avaliação: “Não é pedagógico nem para os alunos nem para os professores, é punitivo, não é formativo”.

De resto, sublinha que vários juristas já esclareceram que a avaliação começa não com a entrega dos objectivos individuais, mas com a entrega da ficha de auto-avaliação. E esta, nota, os professores da Secundária de Odivelas entregaram dentro do prazo “porque a lei assim o obriga”.

Esta é a primeira escola a concluir o processo de avaliação que surgiu do “segundo simplex”, sublinha o dirigente do Sindicato dos Professores da Grande Lisboa.

O PÚBLICO tentou esta tarde por diversas vezes chegar à fala com a direcção da Secundária de Odivelas mas ninguém se mostrou disponível para comentar. O modelo de avaliação de desempenho original nunca chegou a ser aplicado integralmente, tendo sido adoptado nos dois últimos anos lectivos regimes simplificados."

Notícia actualizada às 17h45

Público, 16.07.2009 - 15h06 Andreia Sanches

Imagem: "A Queda de Ícaro" - Jacob Peter Gowy

Meu Comentário:

Duras e graves batalhas se adivinham logo no início do próximo ano escolar, antes mesmo das eleições legislativas.

A equipa ministerial não dá tréguas na perseguição aos professores, arranjando todas as formas para ir arredando os melhores para reformas antecipadas e, nalguns casos, bastante penalizadoras.

- Um modelo de avaliação punitivo e desencadeador de conflitos tremendos nas escolas, que em vez de ser formativo e construtivo é gerador de desarmonias e injustiças;

- O estabelecimento de quotas para as classificações mais altas;

- Um ECD que permitiu a divisão dos docentes em dois estatutos, diferentes na forma, mas que não correspondem a uma real diferença de mérito;

- Um modelo de gestão que acabou com toda a qualquer democraticidade dentro das Escolas;

-E como cereja em cima do bolo - punições! Quem não entregou Objectivos não será avaliado, não terá classificação, e, no mínimo, será espoliado destes dois anos na progressão disto a que outrora chamávamos "Carreira"!

São estas algumas das terríveis perversidades que devemos a esta equipa ministerial, a qual urge impedir de renovar o seu mandato, antes que o caos já instalado nas escolas ponha irremediavelmente em cheque a sobrevivência do ensino público.

Sem um mínimo de tranquilidade, num clima constante de ameaças, medo e suspeição, ninguém consegue trabalhar verdadeiramente com qualidade.

A tarefa nobre de ensinar, pelo menos para quem a vive com paixão e entrega, supõe serenidade, confiança nos pares e cooperação com a gestão.

Tudo isso tem vindo paulatinamente a morrer. Raras vezes se deve ter visto na História da Educação, conseguir destruir-se tanto em tão pouco tempo, espalhando tanto sofrimento.

Até os mais activos têm vindo a capitular perante o cansaço de constantes e duríssimas batalhas e enormíssimos prejuízos financeiros, sem que se veja um vislumbre de bom senso, coragem de assumir os erros ou uma capacidade mínima de auto-crítica por parte dos responsáveis do ME.

É verdadeiramente desolador sentir o defraudar sistemático das expectativas de carreira a pessoas que a construíram com amor à camisola durante 20 ou 30 anos e se vêem, depois de um longo percurso de dedicação e muitas vezes de despojamento, empurradas para reformas precoces e penalizadoras, ou constrangidas a situações de ultrapassagens ou exclusões absolutamente arbitrárias e de uma terrível injustiça, como foi o Concurso para Titulares.

Mesmo que esta equipa ministerial venha a ser arredada do poder, os males instalados já fizeram feridas, que demorarão muito tempo a sarar na nossa memória colectiva.

2 comentários:

  1. Não tenho nem nunca terei, vergonha de ser portuguesa, mas tenho vergonha que Portugal tenha governantes deste calibre... Muito pouco dignos do país que juraram servir e da bandeira a que deviam representar!

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  2. Resta esperar que a memória de todo este sofrimento não seja em vão e as consciências acordem na hora de votar nas próximas legislativas!

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