Agustina Bessa-Luís, pseudónimo literário de Maria Agustina Ferreira Teixeira Bessa, faz hoje 90 anos. Nasceu no norte a 15 de Outubro de 1922 de uma família de tradições rurais e com 10 anos mudou-se para o Porto para estudar e mais tarde para Coimbra durante cinco anos. Estreou-se como romancista com a obra "Mundo Fechado" e em 1954 publicou aquela que ainda hoje é a sua obra mais emblemática "A Sibila", que já vai na sua 25ª edição.
Agustina é considerada uma escritora neo-romântica influenciada pelo estilo de Camilo Castelo-Branco. Além de ter escrito também peças de teatro e guiões para televisão, Agustina viu ainda adaptados a cinema alguns dos seus livros pela mão do grande cineasta centenário Manoel de Oliveira. Foi ainda diretora do jornal "O Primeiro de Janeiro" no Porto e do Teatro D. Maria II em Lisboa.
"Também fez parte da Alta Autoridade para a Comunicação Social e da Academie Européenne des Sciences, des Arts et des Lettres (Paris), da Academia Brasileira de Letras e da Academia das Ciências de Lisboa (Classe de Letras).Agustina-Bessa Luís foi distinguida com a Ordem de Sant'Iago da Espada (1980), a Medalha de Honra da Cidade do Porto (1988) e o grau de Officier de l'Ordre des Arts et des Lettres atribuído pelo governo francês (1989).Assinou mais de 50 obras, desde romances, contos, peças de teatro, crónicas de viagem, livros infantis e biografias. Com 81 anos, conquistou, em 2004, o prestigiado Prémio Camões, por “traduzir a criação de um universo romanesco de riqueza incomparável que é servido pelas suas excecionais qualidades de prosadora, assim contribuindo para o enriquecimento do património literário e cultural da língua comum”, de acordo com o júri. Hoje, assinala-se o aniversário de Agustina-Bessa Luís."
(Daqui)Da minha parte aqui fica a homenagem a esta grande escritora, a preferida da minha avó Matilde. Tudo o que era de Agustina ela devorava, e sempre com redobrado gosto; recordá-la-ei para sempre com enorme saudade; fui eu que lhe ofereci "A Sibila", o livro que iniciou esta grande admiração. (Não só nas origens rurais como até fisicamente era parecida com Agustina...)
No dia do aniversário foi fundado o Círculo Literário Agustina Bessa-Luís e distribuido um livrinho com alguns textos da escritora. Aqui vão dois:
ResponderEliminar1 - O Que é Escrever
«Escrever é isto: comover para desconvocar a angústia e aligeirar o medo, que é sempre experimentado nos povos como uma infusão de laboratório, cada vez mais sofisticada. Eu penso que o escritor com maior sucesso (não de livraria, mas de indignação social profunda) é aquele que protege os homens do medo: por audácia, delírio, fantasia, piedade ou desfiguração. Mas porque a poética precisão de um acto humano não corresponde totalmente à sua evidência. Ama-se a palavra, usa-se a escrita, despertam-se as coisas do silêncio em que foram criadas. Depois de tudo, escrever é um pouco corrigir a fortuna, que é cega, com um júbilo da Natureza, que é precavida.»
(Contemplação Carinhosa da Angústia)
2- O País não precisa de quem diga o que está errado;
Precisa de quem saiba o que está certo.
«Os observadores estrangeiros maravilham-se de que Portugal resista à crise política e económica com tal poder de adaptação. Há nos Portugueses uma sinceridade para com o imediato que desconcerta o panorama que transcende o imediato. O infinito é o que eu situo - dizem. E assim vivem. Protegidos talvez por essa condição de afecto pelas coisas, pelos seus próprios delitos, que não consideram dramáticos, só ao jeito das necessidades. De resto — quem se apresenta a salvar-nos que não esteja suspeitamente indignado? Os que muito se formalizam muito escondem; os que acusam demasiado privam-se de ser leais consigo próprios. O país não precisa de quem diga o que está errado; precisa de quem saiba o que está certo.»
(Dicionário Imperfeito)