Tal como todas as modas que vêm dos EUA, estas comemorações do Halloween trazem consigo uma ótima oportunidade para os negócios de festas e eventos que nestas alturas florescem. Sobretudo entre os jovens. Queiramos ou não, eles aderem mesmo a estas modas, quer seja a noite das bruxas, o dia dos namorados ou os hamburgueres.
Hoje, logo de manhã, chegando à Escola, ouvi uma música altíssima, infernal e um burburinho de festa. Havia toda uma montagem cénica de teias de aranha, corujas e morcegos a pairar, e circulavam, compenetrados, diabos, duendes, dráculas e zombies de cabelos ruivos e lábios negros.
Junto às paredes da Associação de Estudantes havia mesas com crepes e shots de "sangue", bolos de "relva"... e toda a sorte de iguarias de meter medo.
Devo ter passado com uma cara entre o espantado e o assustado e um aluno meu gritou lá de dentro:
- "Olá setora, bom dia! Não quer um cafezinho?"
Eu, que não, que só bebia água, mas agradecia muito... pois então!
Sei lá que mistela de olhos de morcego, rabo de cobra, dentes de rato ou patas de coelho me dariam num copo, com cor de café???
Juro que não cheguei a descobrir quais os ingredientes usados naquela "culinária do terror", mas tudo tinha um aroma tão delicioso, que me confundiu, pois era inversamente proporcional ao aspeto repelente das iguarias.
Tudo estaria bem se não fosse eu iniciar a aula, tencionando distribuir os enunciados de um teste sumativo, e começar a ver entrar-me pela sala adentro uma trupe de zombies, autênticos mortos-vivos, que eu juraria terem saído diretamente do "Thriller" de Michael Jackson!
Vestidos e maquilhados a rigor, sobretudo as raparigas, os alunos do 10º ano de Artes estavam literalmente de meter medo. Bocas cozidas, rasgões na pele a sangrar pela cara e pescoço abaixo, olhos afundados em olheiras tão profundas como caveiras, lábios e unhas pintados de preto, tudo ali apareceu, como num cenário de filme de terror.
Convenhamos que ter um teste marcado numa situação tão inusitada me confundiu, dado que tinha no mesmo espaço e tempo a realidade e a ficção! Em coexistência perfeitamente pacífica.
Vi aqueles 26 jovens, entre os 15 e os 17 anos assumirem o seu papel como gente grande, que faz uma pausa na sua performance para realizar a tarefa que lhes foi dada, como se fossem os próprios Cristopher Lee ou Vincent Price cumprindo um diabólico compromisso.
Senti ao mesmo tempo estranheza e uma contida diversão, mas confesso que preferiria ter na minha sala de aula o Gandalf, em vez daquelas criaturas das trevas...
Mas, o que fazer? C'est l'air du temps, ça???
Talvez tenhamos de repensar a nossa forma de gerir as aulas, certamente abrindo as portas à criatividade. Se soubesse que eles se tinham preparado daquela forma, juro que tinha levado um chapéu em bico, uma capa preta e uma vassoura...
Mesmo não gostando das modas americanas que nos invadem, lá teria ido brincar ao Halloween!
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