José Hermano Saraiva era um professor e comunicador nato. Figura algo controversa, tida por petulante, desde cedo se habituou a contestar as versões tradicionais da História e a desafiar a autoridade dos seus professores.
Ministro do Estado Novo a partir de 1968, conheceu e privou com Salazar e Caetano, tendo ousado dar conselhos e tomado decisões que vieram a revelar-se úteis na pasta da Educação. Por exemplo impediu uma vez que a Polícia com os cães investisse contra os estudantes e aumentou em 5 tostões a taxa sobre os maços de cigarros para com esses milhões de contos poder aumentar o salário dos professores primários, à altura extremamente mal pagos, segundo o próprio referia.
José Hermano Saraiva começou por licenciar-se em História e ser professor no Liceu Passos Manuel e mais tarde formou-se em Direito e exerceu advocacia, em cujo escritório os seus filhos continuam a atividade. Mas foi como historiador que ficou mais conhecido; eu diria que era essa a sua grande e mais expressiva vocação. Pelo entusiasmo com que falava, a História de Portugal, com ele, parecia reviver e voltávamos no tempo aos episódios mais picarescos e inusitados.
A facilidade de comunicação de Saraiva fez dele um dos mais importantes divulgadores da História em televisão, o que permitiu a muitas pessoas conhecerem fragmentos do passado português que, de outra forma, jamais conheceriam.
Com dificuldade em assumir-se de direita, considerou contudo Salazar "um santo" e Marcelo um tanto ingénuo. Repudiava igualmente a ideia das esquerdas por ser, dizia ele, um homem "contra a revolução".
Enfim, esta figura controversa, mas inquestionavelmente popular, fechou ontem os olhos, aos 92 anos, após centenas de programas de televisão e dezenas de livros editados.
Por tudo isso e por ser uma personalidade incontornável da Cultura portuguesa, a Pérola de Cultura presta-lhe aqui homenagem, desejando que descanse em paz.
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