quinta-feira, 24 de dezembro de 2015
A esperança ou a falta dela em mais um Natal
Há muitos meses que não vinha aqui escrevinhar. Mais exatamente desde Março passado.
Está a chegar mais um Natal e é sempre tempo de balanços. Vou omitir propositadamente as piores coisas que aconteceram, quer a mim, quer ao mundo durante o ano de 2015.
Do meu país, perdoem-me lá, também não falarei a não ser indiretamente e naquilo que me diz respeito.
Entretanto, nenhum de nós teve a desdita de sofrer um AVC ou um acidente nalgum fim-de-semana em que não há certos serviços de urgência. Nenhum de nós foi à falência, embora tenhamos de pagar as dos Bancos. Nenhum de nós foi preso, nem morto por algum jihadista com a pontaria afinada. Temos sido muito explorados, isso sim, e empobrecidos pela austeridade, afinal mal ou tardiamente testada, e com consequências funestas. Não recuperaremos o nosso nível de vida anterior, embora não tenhamos gasto acima das nossas possibilidades nem nos tenhamos endividado. Só que vivíamos com expetativas e até essas nos foram sonegadas. Porém, sobrevivemos, com mais ou menos cabelos brancos, mais anti-depressivo, menos ansiolítico, às frustrações e desenganos de uma meia-idade mais frustrada do que realizada.
Apesar de tudo, há a família. Há os miúdos que vão crescendo e já parecem homens e jovens mulherzinhas. E há meia dúzia de bons amigos que nunca se esquecem de nós.
Apesar de tudo, isso junto já conforta um pouco a alma nesta quadra.
Boas Festas a todos.
sábado, 28 de março de 2015
Anjos negros da morte
Há tempos escrevi aqui e aqui sobre a minha incredulidade sobre este tipo de tragédias.
Infelizmente, há dias tornei a sentir-me atónita com outra tragédia, ainda mais mortífera.
Embora de contornos diferentes, esta última foi perpetrada por alguém com um nome parecido.
Na Noruega foi Anders, na Alemanha Andreas. Na Noruega foi Breivik, na Alemanha, Lubitz...
Em ambos os casos, vinte e poucos anos, caras de anjos, rapazes bonitos, com um ar normal.
Bons filhos, cidadãos aparentemente cordiais, bons vizinhos, socialmente respeitados e, no entanto... assassinos!
Juro que até senti um arrepio, como se, de repente, estivesse a assistir a um déjá-vu, noutro cenário.
As semelhanças são evidentes nos nomes, mas não só: embora com diferenças nas motivações e nas personalidades, assistimos a duas mortandades de inocentes protagonizados por jovens sociopatas.
O primeiro disparou rajadas de balas sobre dezenas de jovens inocentes num acampamento de Verão numa ilha, após ter colocado um engenho explosivo de fabrico caseiro no edifício do governo da Noruega. O segundo despenhou propositadamente um avião Airbus sobre uma montanha dos Alpes há dias, matando 150 pessoas. O primeiro agiu por razões de racismo e xenofobia. Não queria ver o seu país "invadido" por outras raças, línguas e cores e achou assim que podia combater a tendência multicultural da Escandinávia. O segundo estava doente, deprimido, com dor de corno, sei lá, de mal com a vida, quiçá com o emprego. Não achou melhor modo de se suicidar do que levando para a morte consigo uma centena e meia de inocentes que viajavam de Barcelona para Dusseldorf. E que não tinham nada a ver com o seu surto psicótico, quadro de ansiedade ou crise amorosa.
Claro que todos temos livre-arbítrio e somos donos do nosso corpo e da nossa vida. Penso mesmo que o suicídio deve ser entendido como um direito. Mas não temos direito a dispor da vida dos outros. Daí que eu compare este crime com o da Noruega. Não deixam de ser ambos homicídios em massa, premeditados e meticulosamente executados.
Para preparar este tipo de atos é preciso que a frieza e o calculismo se sobreponham a toda a sanção moral e a toda a consciência ética. É preciso estar despido de toda a roupagem cívica e educacional que orienta o indivíduo para aquilo que é o mais elementar princípio de cidadania: o respeito pelo outro.
O valor mais universal e tacitamente aceite como supremo e inquestionável, que é o valor da vida, nestes casos, foi completamente subjugado a mentes perturbadas, de mal com o mundo e com raiva à humanidade.
Infelizmente, há dias tornei a sentir-me atónita com outra tragédia, ainda mais mortífera.
Embora de contornos diferentes, esta última foi perpetrada por alguém com um nome parecido.
Na Noruega foi Anders, na Alemanha Andreas. Na Noruega foi Breivik, na Alemanha, Lubitz...
Em ambos os casos, vinte e poucos anos, caras de anjos, rapazes bonitos, com um ar normal.
Bons filhos, cidadãos aparentemente cordiais, bons vizinhos, socialmente respeitados e, no entanto... assassinos!
Juro que até senti um arrepio, como se, de repente, estivesse a assistir a um déjá-vu, noutro cenário.
As semelhanças são evidentes nos nomes, mas não só: embora com diferenças nas motivações e nas personalidades, assistimos a duas mortandades de inocentes protagonizados por jovens sociopatas.
O primeiro disparou rajadas de balas sobre dezenas de jovens inocentes num acampamento de Verão numa ilha, após ter colocado um engenho explosivo de fabrico caseiro no edifício do governo da Noruega. O segundo despenhou propositadamente um avião Airbus sobre uma montanha dos Alpes há dias, matando 150 pessoas. O primeiro agiu por razões de racismo e xenofobia. Não queria ver o seu país "invadido" por outras raças, línguas e cores e achou assim que podia combater a tendência multicultural da Escandinávia. O segundo estava doente, deprimido, com dor de corno, sei lá, de mal com a vida, quiçá com o emprego. Não achou melhor modo de se suicidar do que levando para a morte consigo uma centena e meia de inocentes que viajavam de Barcelona para Dusseldorf. E que não tinham nada a ver com o seu surto psicótico, quadro de ansiedade ou crise amorosa.
Claro que todos temos livre-arbítrio e somos donos do nosso corpo e da nossa vida. Penso mesmo que o suicídio deve ser entendido como um direito. Mas não temos direito a dispor da vida dos outros. Daí que eu compare este crime com o da Noruega. Não deixam de ser ambos homicídios em massa, premeditados e meticulosamente executados.
Para preparar este tipo de atos é preciso que a frieza e o calculismo se sobreponham a toda a sanção moral e a toda a consciência ética. É preciso estar despido de toda a roupagem cívica e educacional que orienta o indivíduo para aquilo que é o mais elementar princípio de cidadania: o respeito pelo outro.
O valor mais universal e tacitamente aceite como supremo e inquestionável, que é o valor da vida, nestes casos, foi completamente subjugado a mentes perturbadas, de mal com o mundo e com raiva à humanidade.
Uma questão de espinha dorsal
Paulo Jorge Alves Guinote, 40 e tal anos, professor, historiador, pai, marido e excelente colega.
Este perfil poderia ser apenas de mais um entre tantos outros homens, intelectuais desta geração.
Mas ele era (e sempre será) o dono do Umbigo, o Blogue de professores mais lido do país.
Começou pelas questões polémicas do ensino, rapidamente se tornou um Blogue politicamente ativo, pelo pendor crítico que imprimiu aos seus posts e uma referência para a classe docente.
O talento do Paulo para intervir nas questões do ensino não passou despercebido para os media e foi rapidamente reconhecido como um parceiro a auscultar, a consultar, a ouvir.
Credibilidade foi a palavra-chave. Mas, para mim, o Paulo também revelou coragem, acutilância, sentido de oportunidade e, sobretudo, sempre, e mesmo que fosse contra-corrente, amor à verdade.
Pagou algumas faturas por causa disso; é que isto de se insistir em manter direita a espinha-dorsal faz com que a consciência durma tranquila no travesseiro, mas os sucessivos golpes baixos vão cansando, desgastando. E as desilusões também.
Pode ser, quem sabe, que seja um mero interregno e não um adeus.
Por ora, O Umbigo fechou. Mas a tua espinha-dorsal não dobrou.
Bem-hajas pela tua persistência e até sempre. Noutras chafaricas.
Este perfil poderia ser apenas de mais um entre tantos outros homens, intelectuais desta geração.
Mas ele era (e sempre será) o dono do Umbigo, o Blogue de professores mais lido do país.
Começou pelas questões polémicas do ensino, rapidamente se tornou um Blogue politicamente ativo, pelo pendor crítico que imprimiu aos seus posts e uma referência para a classe docente.
O talento do Paulo para intervir nas questões do ensino não passou despercebido para os media e foi rapidamente reconhecido como um parceiro a auscultar, a consultar, a ouvir.
Credibilidade foi a palavra-chave. Mas, para mim, o Paulo também revelou coragem, acutilância, sentido de oportunidade e, sobretudo, sempre, e mesmo que fosse contra-corrente, amor à verdade.
Pagou algumas faturas por causa disso; é que isto de se insistir em manter direita a espinha-dorsal faz com que a consciência durma tranquila no travesseiro, mas os sucessivos golpes baixos vão cansando, desgastando. E as desilusões também.
Pode ser, quem sabe, que seja um mero interregno e não um adeus.
Por ora, O Umbigo fechou. Mas a tua espinha-dorsal não dobrou.
Bem-hajas pela tua persistência e até sempre. Noutras chafaricas.
quarta-feira, 11 de março de 2015
Outra boa surpresa do mundo árabe
Ainda a respeito de surpresas provenientes do mundo árabe, não poderia deixar de assinalar esta atitude de mais uma mulher corajosa. Enfim alguma coisa parece estar a mudar no que diz respeito ao domínio dos homens mais conservadores sobre as mulheres.
Sem dúvida só as mais instruídas conseguem ter a coragem e a assertividade necessárias para enfrentar as atitudes de prepotência, arrogância a autoritarismo tradicionais de muitos homens do mundo árabe, particularmente os mais religiosos, conservadores e retrógrados. Este foi um sheik sunita...
Rima Karaki, jornalista libanesa é um exemplo a seguir. Veja aqui.
segunda-feira, 12 de janeiro de 2015
Do horror em Paris e algumas boas suspresas
Já foi dito e escrito quase tudo sobre os trágicos acontecimentos dos últimos dias em Paris.
A intolerância e o racismo, a violência e obscurantismo, a liberdade de imprensa ou os seus limites, o retrocesso civilizacional de quem quer reinstaurar a pena de morte, o circo mediático em torno de dezenas de chefes de Estado, uns mais sinceros, outros mais hipócritas, e uns que mais valia terem ficado em casa, já que, direitos humanos são coisa com a qual não costumam propriamente tomar o pequeno almoço.
De qualquer modo saliento duas ou três notas positivas a respeito do desempenho de alguns políticos:
1ª) a comparência (quase imediata) junto do escritório do Charlie Hebdo, vandalizado e objeto de uma carnificina, do presidente da república François Hollande.
2ª) a assunção (quase imediata) das responsabilidades pela falha na segurança nacional que permitiu a ocorrência de atentados perpetrados por criminosos já referenciados, por parte do primeiro-ministro Manuel Vals.
3ª) a participação na manifestação de Pedro Passos Coelho e Assunção Esteves, em representação de do Estado português. Não simpatizo com nenhum dos dois, mas gostei de vê-los por lá nesta ocasião.
4º) a participação do casal real da Jordânia, do qual já tinha boa impressão, em particular de Rânia, sobre quem já tinha escrito aqui em 2009 por ocasião da sua visita a Portugal.
Ao contrário das tradicionais rainhas árabes, que sempre vivem à sombra dos maridos e submetidas à tradição, Rânia da Jordânia continua a surpreender-me pela positiva.
Foi a primeira vez que vi uma rainha a desfilar numa manifestação, ainda mais sendo uma mulher árabe. A sua posição permite-lhe, felizmente, lutar e defender alguns direitos das mulheres no mundo árabe, como o direito à instrução e a uma participação ativa no mundo do trabalho.
Ficam aqui as suas palavras na página oficial do Facebook:
A intolerância e o racismo, a violência e obscurantismo, a liberdade de imprensa ou os seus limites, o retrocesso civilizacional de quem quer reinstaurar a pena de morte, o circo mediático em torno de dezenas de chefes de Estado, uns mais sinceros, outros mais hipócritas, e uns que mais valia terem ficado em casa, já que, direitos humanos são coisa com a qual não costumam propriamente tomar o pequeno almoço.
De qualquer modo saliento duas ou três notas positivas a respeito do desempenho de alguns políticos:
1ª) a comparência (quase imediata) junto do escritório do Charlie Hebdo, vandalizado e objeto de uma carnificina, do presidente da república François Hollande.
2ª) a assunção (quase imediata) das responsabilidades pela falha na segurança nacional que permitiu a ocorrência de atentados perpetrados por criminosos já referenciados, por parte do primeiro-ministro Manuel Vals.
3ª) a participação na manifestação de Pedro Passos Coelho e Assunção Esteves, em representação de do Estado português. Não simpatizo com nenhum dos dois, mas gostei de vê-los por lá nesta ocasião.
4º) a participação do casal real da Jordânia, do qual já tinha boa impressão, em particular de Rânia, sobre quem já tinha escrito aqui em 2009 por ocasião da sua visita a Portugal.
Ao contrário das tradicionais rainhas árabes, que sempre vivem à sombra dos maridos e submetidas à tradição, Rânia da Jordânia continua a surpreender-me pela positiva.
Foi a primeira vez que vi uma rainha a desfilar numa manifestação, ainda mais sendo uma mulher árabe. A sua posição permite-lhe, felizmente, lutar e defender alguns direitos das mulheres no mundo árabe, como o direito à instrução e a uma participação ativa no mundo do trabalho.
Ficam aqui as suas palavras na página oficial do Facebook:
"As a Muslim, it pains me when someone derides Islam and my religious beliefs. It also pains me when someone derides other religions and other people’s religious beliefs. But what offends me more, much more, are the actions of the criminals who, this week, dared to use Islam to justify the cold-blooded murder of innocent civilians. This is not about Islam or being offended by the Charlie Hebdo magazine. This is about a handful of extremists who wanted to slaughter people for any reason and at any cost.Islam is a religion of peace, tolerance and mercy. It is a source of comfort and strength for more than 1.6 billion Muslims – the same people who are shocked, saddened and appalled by the events in Paris this week.
Today, I join His Majesty King Abdullah in Paris to stand in solidarity with the people of France in their darkest hour... To stand in unity against extremism in all its forms and to stand up for our cherished faith, Islam. And so that the lasting image of these terrible events is an unprecedented outpouring of sympathy and support between people of all faiths and cultures."
Subscrever:
Mensagens (Atom)