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quinta-feira, 28 de outubro de 2010

O que me faz correr? Não é seguramente a ADD


Ao aproximar-se o termo da data calendarizada para a entrega do Requerimento a pedir aulas assistidas, impõe-se esclarecer o seguinte:

Se me arranjassem uma máquina do tempo, não me importava de transplantar-me para o Lyceu de Aristóteles e adoptar o seu modelo de aulas ao ar livre. O modelo περιπατητικός seria para mim, não só interessante como adequado: dar aulas caminhando, lendo em voz alta por entre as árvores ou colunas, citando os grandes mestres do passado, colhendo da Natureza os exemplares que ela oferece à nossa reflexão e depois fazer com os discípulos a recolha das observações, registo escrito das conclusões e teorização das mesmas. Misto de empirista e especulativa me confesso.

Por estas paragens, hoje sombrias, de um outro tempo e lugar, de um outro e bem diferente Sócrates, continuo, na herança daquele mais antigo, a privilegiar a verdade e a transparência nos procedimentos, tanto profissionais, como pessoais.  

Por isso mesmo continuo a não me identificar com uma ADD que de verdadeira a transparente nada tem. Vou portanto passar ao lado dos requerimentos para a avaliação através de aulas assistidas. Não tendo truques na cartola, dou muitas vezes aulas de porta escancarada, pelo que não faço delas segredo. Se preciso for, vou de bom grado com os jovens para os jardins ou para a escadaria da Escola, para facilitar a tarefa a quem se deseja avaliador.

Sei que é muito moderno e fica bem usar muitas e boas TIC, mas não sou dependente delas para dar uma boa aula: as minhas ferramentas fundamentais continuam a ser a voz, o olhar, a expressão de convicção naquilo que digo e a coerência das palavras com as atitudes.

Os frutos da "excelência", se alguma vez a houver, acabam por aparecer nos anos subsequentes, na boca dos jovens a quem o meu empenhamento e a minha autenticidade como professora porventura marcam.

Ecos de alunos como a Mini, a Filipa, o P.D. e tantos outros, são exemplo disso mesmo; e é por causa de gente como esta que continuarei a trabalhar, sem correr atrás de menções de Muito Bom ou Excelente.

Vou pois manter-me como espectadora lateral de alguns requisitos do processo de avaliação cujos moldes para mim, não são sérios nem desejáveis; infelizmente eles constituem um imperativo para alguns colegas que se vêem compelidos a adoptar o pacote completo. Desejo-lhes sorte, mas não os invejo.

6 comentários:

  1. Pena é que a excelência na educação ande arredada do Excelente!

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  2. A qualidade de um professor não pode ser vista somente através de um papel com uma nota parcial e pouco exigente. Nem do nível de conhecimento do mesmo! Um verdadeiro Professor(a caixa alta é intencional) tem de ter uma componente humana enorme e isso, não pode ser medido nem colocado num gráfico. Um verdadeiro Professor sabe apaixonar os alunos! Um verdadeiro Professor sabe fazê-los ter vontade de aprender e ansiar pela próxima aula. Um verdadeiro Professor não desiste perante casos problemáticos; ensina-nos, alunos, mais do que o programa dita, isto é, transmite-nos uma componente cívica fundamental para viver em Sociedade! Um verdadeiro Professor adora chegar à escola todos os dias e ver o fruto do seu trabalho, nem que seja em apenas uma mão cheia de alunos...
    P.D.

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  3. Não percebo se está a criticar apenas uma forma errada de avaliar os professores ou se critica qualquer avaliação de professores.
    Na minha opinião, os professores devem ser avaliados. Infelizmente, o modo como os governos de Sócrates (com a desastrosa colaboração dos sindicatos) conduziram o processo da ADD desacreditou a própria ideia de avaliação.

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  4. Não partilho dos pressupostos deste modelo de avaliação docente, que foi concebido pela equipa de Maria de Lurdes Rodrigues e que, na minha opinião, com Isabel Alçada ainda piorou.
    Sou favorável a uma avaliação séria feita por especialistas com formação adequada, coisa que não existe neste modelo.
    Além disso, a avaliação interna feita pelos pares enferma desde logo de grandes dificuldades pela falta de neutralidade e pela competição que vai gerar, o que impede a isenção.
    Depois, os Directores, só por inerência do cargo, irem avaliar as aulas dos coordenadores é um absurdo que mostra bem a falta de seriedade de todo este processo. A formação para avaliar aulas não é igual à formação para gerir uma escola e a formação na área disciplinar de quem avalia não pode estar nos antípodas da formação científica de quem é avaliado.
    Espero ter esclarecido as suas dúvidas.

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  5. Helena:
    A teu lado terás uma colega igualmente empenhada no essencial, mas que nunca na vida fez "flores".

    Conceição Sampaio

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  6. Querida Concha

    Muito obrigada pela solidariedade.

    Conheço há décadas a coerência e seriedade de algumas das pessoas como tu, a Teresa, etc.
    Pessoas a quem o amor à profissão se faz todos os dias, ano após ano, sem flores, mas com a competência de quem abraçou ideais que jamais atraiçoará. É também nessa linha que me revejo.

    Um beijo e obrigada por comentares num Blogue com uma vertente crítica. E parabéns pela coragem de usares o teu nome verdadeiro.

    Um beijo amigo.

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