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sábado, 30 de outubro de 2010

Últimas sobre a ADD ou o prenúncio do abismo


Alguém colocou aqui fragmentos do comunicado de Sua Exa. o Secretário de Estado Alexandre Ventura, sobre as decisões do ME, presente na reunião plenária do Conselho de Escolas do dia 27 de Outubro.
Reproduzo-os tal e qual os encontrei:

"BREVE RESUMO DOS PRINCIPAIS ASSUNTOS TRATADOS NO PLENÁRIO DO CONSELHO DAS ESCOLAS REALIZADO HOJE, DIA 27 DE OUTUBRO DE 2010

“Coordenadores de Departamento Curricular + Relatores: Para ter Excelente ou Muito Bom têm que ter aulas observadas. A observação será feita em todas as dimensões, excepto na dimensão científica específica.”

“Avaliação de Professores Bibliotecários: Se quiserem ter aulas observadas para acederem às menções de excelência, devem articular com a direcção da escola/agrupamento a possibilidade de terem aulas observadas. Para o efeito, o Professor Bibliotecário lecciona duas aulas na Biblioteca que tenham a ver com a didáctica específica do seu grupo de recrutamento e a sua prática de biblioteca relativa à pesquisa e organização da informação.
Um outro docente leva a sua turma à Biblioteca, onde serão ministradas as aulas pelo Professor Bibliotecário. Obter uma solução de “compromisso”. O Professor Bibliotecário terá um Relator que o avalia. No próximo ano prevê-se uma situação diferente, uma vez que o Professor Bibliotecário já terá uma turma atribuída.”

Avaliação do Desempenho Docente dos Docentes Contratados: Por decisão do Governo, não alteração à anterior abordagem à avaliação do desempenho docente dos docentes contratados, ou seja, a ADD é um dos elementos a ponderar na graduação profissional.”

Secretário de Estado da Administração Educativa – Alexandre Ventura


Nem sequer valeria muito a pena dizer muito sobre isto, mas não resisto a comentar algumas coisas que me parecem evidentes asneiras. Um regime de Avaliação cheio de buracos e falho de coerência, só pode ser coisa pouco séria. Para tapar os ditos buracos arranjam-se soluções a martelo, nada justas e nada transparentes.

Desde logo, uma questão que para mim é básica: como se avalia um professor de outra área curricular?
Como se pode dissociar a componente pedagógica da científica?
Não está a pedagogia intrinsecamente ligada à didáctica? E esta não é específica?
Não terão os procedimentos pedagógicos de ser sempre adequados à área científica em questão, e, consequentemente, dependentes dela?

Pode a "dimensão discursiva do trabalho filosófico" ser abordada do mesmo modo que as "derivadas" em Matemática ou o "photoshop" nas disciplinas ligadas ao domínio das Artes?
Pode uma aula ser avaliada independentemente do vocabulário específico em que é dada? Como?

Haverá algum director que seja capaz de se abstrair daquilo que é, pela sua natureza, inseparável  e separar a forma do conteúdo? Eu não acredito nisto. Se não se avalia a dimensão científica para os relatores e para os coordenadores, porque não é assim também para todos os outros que vão ser observados? Porque estes são apenas "zecos" sem cargos? Ou porque os primeiros podem dizer coisas erradas e ainda assim sair com um MB ou EXC, enquanto os segundos não podem?

E sujeitar o Bibliotecário a dar aulas a turmas que não são suas? Alguma vez se viu tal coisa? Mas aqui, tendo em conta "a didáctica específica do seu grupo", diz-se. E assim, avalia-se o conteúdo ou a forma? Se for só a forma, para quê situar as ditas aulas na didáctica específica? Nada disto tem pés nem cabeça. Mas mesmo assim, há pessoas que não vão abdicar da sua corrida às menções de excelência.

Está mesmo tudo doido, ou esta avaliação é só para cumprir os desideratos do legado da Maria de Lurdes de má memória? Ao que se vislumbra, a equipa que lhe sucedeu é ainda mais escorregadia, já que retira da cartola coisas que nem sequer foram colocadas na letra da lei.

Ainda nem começou a festa e já a barraca se anuncia e as injustiças gritantes também. Mas isto ainda não é nada. À medida que a coisa se for operacionalizando, o que de pior houver nalgumas pessoas e instituições irá paulatinamente vindo ao de cima e será um salve-se quem puder.

A falta de objectividade e de isenção de que se prenuncia neste ciclo de avaliação, mais uma vez, não me deixa minimamente confiante. Não há objectividade nem seriedade nestes governantes, o que é igual a dizer que não têm competência. Só pessoas que não sabem do que estão a falar podem para mandar fazer algo de um modo tão atabalhoado e cheio de erros. Estamos realmente a bater no fundo e não é só economicamente.

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