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quinta-feira, 14 de março de 2013

Rejubilar e regurgitar ou o fumo branco da Capela Sistina

(Cartoon cujo autor não foi possível identificar)

Fátima Campos Ferreira dizia, embevecida e em direto na RTP1, que os católicos presentes na Praça de S. Pedro regurgitavam quando, após a saída do fumo branco da chaminé da Capela Sistina, um cardeal anunciou à janela "Habemus Papam".
Poucas horas mais tarde a SIC Notícias, difundia que os homossexuais católicos emitiram uma comunicado a dar conta do seu "desalento pela escolha do cardeal Bergoglio para Papa". 
Este jesuíta considera a homossexualidade e o casamento gay como "um plano de  Satanás para enganar os filhos de Deus" e a "destruição do plano de Deus".
A esta seguiram-se dezenas de notícias nas redes sociais a dar conta do passado do cardeal Bergoglio, associando-o ao general Videla, que fez milhares de vítimas na Argentina durante a ditadura militar.
Enquanto isso, uma parte das pessoas, sobretudo as católicas, rejubilavam com esta nomeação, enchendo-se de alegria e esperança por a Igreja Católica ter pela primeira vez um Papa da América Latina, vendo nisso uma esperança de mudança e progresso. 
Outras houve que se encantaram com a escolha do nome Francisco, associando-o, de imediato e na sua boa-fé, a S. Francisco de Assis, o religioso que renunciou à riqueza e se despojou de todos os bens materiais para se unir aos pobres e aos animais, vivendo em comunhão com a Natureza.
Com maior probabilidade o cardeal escolheu, na minha opinião, o nome igual a S. Francisco Xavier, o co-fundador da Companhia de Jesus, à qual pertence.
Por acaso, este Papa nasceu a 17 de dezembro como eu, e também como eu, se licenciou em Filosofia. Por aí, poderia ser-me, à priori, uma figura simpática. Mas bastaram poucas horas para que por todo o lado se pusessem a descoberto notícias que, a serem confirmadas, mais uma vez vêm demonstrar que o Vaticano não tem remédio, é sempre mais do mesmo, a "evolução na continuidade", como dizia o Professor Marcello Caetano.
Este cardeal tinha ficado em segundo lugar na eleição que escolheu Joseph Ratzinger para Papa. Agora, com a resignação daquele, este subiu a primeiro lugar. Apenas a dança das cadeiras, nada mais. O aparelho retrógrado do Estado mais rico e mais tradicionalista do mundo no seu melhor. 

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Mulheres com deficiência: a desigualdade

Foto: Pérola de Cultura

Eu comparo a situação das mulheres com deficiência ao fosso entre pobres e ricos: se por um lado há mulheres que são vítimas de múltiplas discriminações e com baixas habilitações, também é verdade que há cada vez mais mulheres com deficiência a conseguir vencer na vida e a tirar um curso superior, constituir família, etc. Como apresentar as mulheres com deficiência, que sempre foram vistas como duplamente discriminadas? Como falar das mulheres que têm sucesso, sem esquecer as restantes - que continuam a ser a maioria – que são altamente discriminadas. Até porque estas realidades se cruzam – não é por terem mais habilitações que as mulheres com deficiência deixam de ser discriminadas e ameaçadas.
O que é importante é dizer que sim, é possível, as mulheres com deficiência terem sucesso na vida – quer a nível pessoal, quer a nível profissional – porque isso é importante para as gerações vindouras (adolescentes e crianças). É importante que essas crianças e adolescentes tenham exemplos de sucesso, para também elas serem mulheres de sucesso.
No que diz respeito à Educação, a maioria das mulheres com deficiência têm baixas habilitações e só cerca de 1% das mesmas são escolarizadas. E para aquelas que têm mais habilitações e que conseguem por exemplo tirar um curso superior que as habilita para a docência, não há qualquer incentivo legal que discrimine positivamente e lhes permita terem acesso à profissão e trabalhar perto de casa, uma vez que na sua maioria são pessoas com problemas de mobilidade. A quota de emprego para cidadãos com deficiência é totalmente ineficaz, no que à Educação diz respeito, por isso há mulheres com deficiência a desistir do Ensino porque não conseguem colocação.
Já para não falar das mulheres e homens com deficiência professores que têm que calcorrear o país para poder trabalhar. Se já é difícil para quem não tem deficiência nenhuma, o que será para os professores com deficiência e com problemas de mobilidade?
Ainda na área da Educação: o Governo PS formou as unidades especializadas colocando as crianças com deficiência à parte das restantes. Que integração e que futuro haverá para essas crianças?
Mas há mais: O Governo definiu na Estratégia Nacional para a Deficiência 2011-2013 (ENDEF) na medida 59, 10 profissões que, segundo eles, se adequam ao perfil e incapacidades dos cidadãos com deficiência, a saber: Assistente Administrativo; Cozinheiro; Empregado de Andares (que eu nem sei o que é); Empregado de Mesa; Mecânico de automóveis ligeiros; Operador Agrícola; Horticultura/Fruticultura; Operador de Acabamentos de Madeira e Mobiliário; Operador de Jardinagem. Isto tudo integrado no programa Novas Oportunidades. Para o Governo os cidadãos com deficiência são uns atrasados mentais que só podem exercer estas profissões (com todo o respeito pelas mesmas, pois todo o trabalho é digno), enquanto outros entram para Medicina pela porta do cavalo das Novas Oportunidades sem nunca terem estudado Química e Biologia. Para o Governo não pode haver cidadãos com deficiência Licenciados, Mestres ou Doutorados. São uns desgraçadinhos que, vejam bem, não conseguem fazer uma carreira superior.
No meio disto tudo, como ficam as mulheres com deficiência que são violadas ou esterilizadas, em particular as mulheres com deficiência mental?
As mulheres com deficiência representam mais de metade dos cidadãos com deficiência, a nível mundial que são cerca de 10%. Em situações de conflito essas mulheres chegam a atingir os 20%. Como combater esta enorme desigualdade a que estas mulheres estão sujeitas?
Ficam as perguntas.

Clara Belo
Bibliotecária
Ex-professora de Biologia e Geologia

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Homofobia (também) na adolescência


Sendo que me caiu em cima a delicada tarefa de leccionar Educação Sexual, naturalmente orientei-a para a minha área disciplinar, fazendo integrar esses conteúdos nas rubricas relacionadas com valores e cultura, ética e responsabilidade, liberdade e respeito pelo outro, violência no namoro e prevenção dos conflitos; também as questões de género e os estereótipos sexistas vieram a lume nesta abordagem.

tolerância e inclusão são valores de cidadania para mim inegociáveis. Por isso mesmo, não pude deixar de espantar-me e ficar seriamente preocupada com a homofobia violenta e repugnada de muitos adolescentes do secundário face à questão - sugerida aliás no documento que serve de guião - da aceitação e não-discriminação das minorias sexuais.

Passar o filme "Milk" (cujo subtítulo é "A voz da Igualdade") torna-se por isso impraticável e "Filadélfia" (com Tom Hanks) só do 11º ano para diante, e, mesmo assim, com restrições às turmas de cientifico-naturais, em que a maioria dos alunos está a orientar os seus estudos para áreas da saúde.

Conheço bem atitudes discriminatórias e homofóbicas em pessoas seniores, mas em jovens é um pouco assustador; faz pensar em que tipo de mundo e com que tipo de cidadania vamos conviver no futuro.


 
• Milk é um filme americano, dirigido por Gus Van Sant e baseado na vida do político e activista gay Harvey Milk, que foi o primeiro homossexual declarado a ser eleito para um cargo público na Califórnia como membro da Câmara de Supervisores de S. Francisco.

• SINOPSE:
Cansado de se esconder de si próprio, Harvey abandona o seu bem remunerado emprego em Wall Street e decide "sair do armário", mudando-se para o distrito Castro em São Francisco com o seu amante de longa data, Scott Smith. Na comunidade colorida de Castro, pequenas vitórias conduzem a outras maiores e Harvey ao falar abertamente para uma maioria silenciosa, acaba por ser o primeiro politico assumidamente homossexual a ganhar umas eleições. Quando Harvey Milk foi assassinado em 1978, o mundo perdeu um dos seus líderes mais visionários e uma voz que se elevou corajosamente pela igualdade de direitos.

Estados Unidos Ano: 2008
Género: Biografia, Drama
Duração: 128m
Classificação etária: 16 anos

Sean Penn foi premiado com um Óscar de melhor actor em 2009 pela sua interpretação de Harvey Milk e Tom Hanks já tinha obtido o mesmo prémio em 1994 pela interpretação de um advogado homossexual em "Filadélfia". 

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

"Os pretos e os gays"


Conversa com Daniel Oliveira sobre os direitos das minorias.
Dia 1 de Outubro, sexta-feira, às 21 horas na LX Factory, Livaria Ler Devagar.
(Rua Rodrigues de Faria, 103, Alcântara, Lisboa).

sábado, 18 de julho de 2009

Homossexuais impedidos de doar sangue?



Não queria acreditar na notícia. Parece absurdo, mas é verdade.

A medida não se justifica por razões de segurança contra a SIDA e hepatite B, uma vez que os homossexuais deixaram de ser considerados, como no início, um grupo de risco. O conceito de grupo de risco foi substituído pelo de "comportamento de risco", que quaisquer pessoas, menos conscientes e responsáveis, podem assumir, quer sejam homossexuais ou não.

Pelas estatísticas recentes, em que Portugal ocupa um lugar tristemente cimeiro no alastrar do VIH, essa infecção aumentou enormemente entre as pessoas heterossexuais.

A acreditar em estudos comportamentais, haverá actualmente mais heterossexuais com comportamentos de risco do que homossexuais, já que essa comunidade aprendeu a proteger-se e tende a formar casais tendencialmente tão estáveis como os heterossexuais.

Os fundamentos desta medida não têm qualquer razão de ser. Senão vejamos:
- Para que servem as análises de sangue?
- Que garantias existem de que um chefe de família, supostamente exemplar, que vá doar sangue, não esteja carregado de comportamentos de risco para a sua saúde e da sua mulher, assim como daqueles a quem hipoteticamente iria doar o seu sangue?
- Não pode um dador, se questionado, declarar-se heterossexual e não o ser de facto?
- Não pode o mesmo dador dizer uma série de mentiras sobre a sua orientação sexual, práticas e hábitos?
- O que é, na realidade, um homem casado e pai de filhos, que dorme sempre na cama com a sua mulher e vai, de quando em vez, pela calada da noite, ao abrigo de supostas reuniões de trabalho fora-de-horas, para encontros sexuais com travestis por esses bairros das grandes cidades como Lisboa e Porto? É um homossexual ou um heterossexual? Tem ou não comportamentos de risco à noite e uma conduta exemplar de dia?

Facilmente se percebe que não se trata de grupos, mas sim de indivíduos e das suas práticas. Não há verdadeiramente nenhuma razão para discriminar os homossexuais, nem mesmo evocando razões de saúde pública.

Daqui a pouco, e com a onda de neo-puritanismo que por aí anda, eis-nos regressados ao século XIX, em que a homossexualidade estava na lista das perversões nos compêndios dos psiquiatras e era punida com pena de prisão!

A solução de segurança deve passar, a meu ver, pelo tipo de testes, que deverão ser sempre rigorosíssimos, independentemente da orientação sexual dos dadores de sangue.

Urge que esta medida discriminatória e atentatória da igualdade entre os cidadãos seja revogada, a bem da garantia de salvaguarda de direitos constitucionais fundamentais.


Ver a notícia no Público.