quarta-feira, 15 de abril de 2009
Testemunho do Magalhães
"Perante uma família que tem 3 filhos, todos no ensino básico e, encontrando-se dois deles no segundo e no quarto ano (antigas segunda e quarta classes), presenciei algo que considero muito grave, tanto do ponto de vista de segurança como do ponto de vista acesso a conteúdos para idades mais avançadas. Têm um Magalhães que é partilhado pelos três.
A Internet já se encontra "aberta", sem restrições, e tem instalado o jogo Counter-Strike, que é para maiores de 16 anos. O grave é que, após ter alertado os pais para esta situação, estes responderam que não percebem nada do que se está a passar e que isso era problema deles. Não percebi quem eram "eles" mas pareceu-me que estavam a falar de quem tratava destes assuntos na escola ou, muito mais grave, dos próprios filhos.
Algumas considerações, inclusive técnicas, sobre este testemunho:
O perfil, vulgo utilizador ou user, do aluno tem poderes totais de administração sobre o portátil. Para quem não tem conhecimentos nesta área nem se apercebe que o aluno ou os seus amigos mais velhos que já sabem "dar a volta à situação", podem desbloquear a Internet e instalar programas, sejam eles quais forem. No exemplo atrás descrito, a instalação do jogo foi feito por um primo que também ainda não tem idade para o jogar. Leva-me a pensar que a ou as equipas que desenvolveram este projecto não são competentes para o levar a cabo.
Já sabemos do escândalo das frases mal escritas. Agora vejo que do ponto de vista técnico também existem falhas graves. O computador devia estar limitado para que os alunos não pudessem instalar qualquer tipo de aplicações nem desbloquear a Internet. Alguém adulto teria de gerir e preparar o portátil para o aluno em vez de ser o próprio a configurá-lo. Este adulto deveria criar um utilizador com limitações de administração e assim, o aluno não poderia instalar programas ou jogos. Deveria também gerir a referida aplicação para que o aluno pudesse aceder apenas aos sites necessários. Essa pessoa teria que interagir com o ou os professores para tomarem decisões sobre quais os sites que ficariam desbloqueados.
Como o Magalhães é um computador que, do ponto de vista de software, é igual a todos os outros, e vem com o Windows XP instalado sem restrições, estas configurações não estão feitas. Do ponto de vista do utilizador, o Magalhães apenas vem com a restrição do acesso à Internet, que facilmente é ultrapassada por não estar devidamente protegida. Além do software específico instalado, é um computador igual aos que compramos nas lojas.
Então, ainda falta saber quem faria a supracitada gestão!
Os pais? Julgo que não, não têm competências nesta área que, apesar da gestão não ser demasiada complexa, é do foro técnico e muitos dos pais teriam dificuldades em compreendê-las. Então quem a faria? Os professores dos alunos, os ex-coordenadores de TIC que foram substituídos pela ou a actual equipa PTE – Plano Tecnológico Educativo? Penso que não teriam capacidade de resposta.
Então quem?
Apesar da extrema importância, nada disto foi previsto. Por outro lado, a aplicação permite uma real protecção? Isto é, estará preparada para que, após a configuração, o aluno não a possa alterar, mesmo que seja através de uma simples password de acesso? Como não conheço a aplicação não me posso pronunciar.
Como se pode ver, para um político tudo isto é muito giro, mandar para as escolas milhares de portáteis dentro do âmbito de um projecto e não se ter tomado em conta a sua segurança. É absurdo, mas já não é o primeiro pai que, todo orgulhoso, disse que o Magalhães do filho já está desbloqueado e que finalmente consegue navegar na Internet sem restrições. Estes pais nem se apercebem dos perigos que estão a expor os seus filhos e que podem estar a contribuir para algo de cruel que lhes possa acontecer. Felizmente que é uma situação rara, mas já aconteceram raptos em que o catalisador foi a própria criança através da Internet."
"O que não sabe pensar"
(Recebido por e-mail de um colega Professor de Informática)
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