terça-feira, 5 de maio de 2009
As Aventuras do Capitão Granja no Mundo da Banda Desenhada
"Há menos de 24 horas, na madrugada de ontem, faleceu Vasco Granja.
Vasco Granja faria, no próximo dia 10 de Julho, 84 anos. Para tanta gente neste país, de um modo ou de outro, fica a sua memória e aquilo que ele fez pelos seus semelhantes e pelo seu país. Para mim também; fica sobretudo a sua imagem, na memória de tempos em que o Mundo da Banda Desenhada era um paraíso cristalino, em que tudo iria correr bem, conforme o desejado, de um modo simples e sereno. Vasco ainda lá está, nessa minha adormecida adolescência, lá onde habitam as emoções mais profundas.
Como disse Manuela Paraíso, na rádio Europa-Lisboa, esta tarde, dedicando-lhe a música da “Pantera Cor de Rosa”: Obrigado, Vasco. Até sempre!
Em Maio de 2003 as Edições ASA publicaram um álbum de homenagem a Vasco Granja, coordenado por Jorge Magalhães e Maria José Pereira. Nele participei com uma BD de 8 pranchas, precedido do texto que se segue (quase na íntegra), reeditado em renovada homenagem a esse homem amável e prestável como raros.
Para mim, Vasco Granja ficará sempre e sobretudo relacionado com a revista Tintin – a edição portuguesa dessa revista que, a partir de Junho de 1968, abriu ao adolescente que eu era as portas de um novo mundo, com a promessa semanal de renovadas e palpitantes aventuras. A revista, com a diversidade que progressivamente apresentou, foi fundamental para fortalecer a decisão daquele adolescente de se tornar autor de BD. Ofereceu-lhe também amplo material que serviu de base para a aprendizagem autodidacta, a única possível, desse meio de expressão. Naquela época, era irrisório o número de álbuns publicados em Portugal ou importados.
Nesta descoberta, o trabalho de Vasco Granja foi para mim de notável relevância. Seja através de textos próprios ou traduzidos de fontes diversas, Granja mostrou o que se passava, para além do palco, No Mundo da Banda Desenhada: nos bastidores, com entrevistas aos autores e, do lado da plateia, com reportagens e opiniões críticas sobre produções que não se restringiam, muito pelo contrário, à revista Tintin. Assim, quando no verso de uma capa se publicou uma entrevista com William Vance, seguida nos números seguintes de outras com Albert Weinberg, Joël Azara, Hermann, etc., foi uma revelação! Finalmente os autores ganhavam um rosto! Vasco Granja teve, ele mesmo, oportunidade de fazer algumas entrevistas.
Especialmente importante para mim foi a que realizou com Edgar P. Jacobs, por motivos óbvios: foi Jacobs, mais do que qualquer outro, que fez (e ainda continua a fazer) aquele adolescente desejar ser autor de BD. Essa entrevista, refiro-a expressamente na banda desenhada que se segue.
Foi assim que, agora, me ocorreu e ganhou corpo a ideia de inserir a homenagem a Vasco Granja no quadro mais vasto de uma revista e de uma época retratada nas suas crónicas, e de relacionar tudo isso com a minha própria obra - nomeadamente “As Aventuras de Herb Krox”, que constituem uma referência directa ao modelo franco-belga. Assinale-se, aliás, que Granja promoveu, no Festival de Banda Desenhada da Amadora de 1992, um colóquio sobre “O Homem de Neandertal”.
Destes pressupostos nasceu a BD “Corina Alpina Bonina (...)”, a preto e branco, como eram as crónicas de Granja numa revista quase integralmente a cores. Propositadas e creio que evidentes são as reminiscências de episódios das Aventuras de Tintin ou de Blake e Mortimer. Justa é também a homenagem, vejamo-la assim, ao amigo José Ruy que, à sua maneira gentil, retratou o grupo de gente que, em Portugal, nos tornou possível a revista Tintin: ele próprio, Vasco Granja e Diniz Machado, entre outros.
Fica aqui a minha homenagem e o meu agradecimento a esse homem singular. Obrigado, Vasco!"
Luís Filipe Diferr
Imagem: copyright by Luís Diferr, in "Vasco Granja - Uma vida... 1000 imagens", Edições Asa, 2003
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