sábado, 16 de maio de 2009
Até eu já estou a ficar muito cansado
Vivo e trabalho como cão de guarda numa Escola.
Tenho muitos anos e ultimamente tenho visto os professores muito cansados e abatidos.
Meteram-se numa luta desigual contra um governo prepotente, sem saber se tinham condições de a levar até às últimas consequências.
Uns andam a chorar pelos cantos e a tomar diazepinas; outros vão para o exterior da escola fumar cigarros atrás de cigarros, como se procurassem a solução dos problemas no fundo do maço; outros ainda, com tendências intelectuais, põem-se a escrever blogues em vez de dormir, ou compõem obras poéticas; outros, ainda um pouco entusiastas, fazem caminhadas ao fim de semana de manhã cedo por Monsanto.
Todos procuram um escape ou uma terapia para combater os fantasmas do medo e reduzir a angústia.
De um modo geral andam olheirentos e com um aspecto muito cansado.
Já ouvi alguns dizerem que iam depor as armas; outros, pelo contrário, dizem que vão resistir até ao fim às imposições injustas que sobre eles se vêm abatendo e que, ainda por cima, têm vindo a desuni-los.
Não sei o que isto irá dar: ouvi dizer que há uma manifestação nacional dia 30, promovida pela Plataforma Sindical, mas também uma frente jurídica que não dorme, inspirada por um tipo que tem um “Umbigo”.
Percebo pouco do que é que isto tudo quer dizer, pois quando quero ir espreitar a televisão, expulsam-me da sala de professores. Afinal, eu sou apenas um cão. O que sei, é o que os vou ouvindo dizer enquanto estou no meu posto.
Já lhes tenho dito que não deviam entrar em stress, que os governos vêm e vão, que têm oportunidade de correr com este nas próximas eleições, mas… quem é que vai ouvir os conselhos de um velho cão de guarda cansado?
Foto de Pérola de Cultura
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Aqui em Belém do Pará, Amazônia, Brasil, também estamos passando por momentos de negociações com um governo cujo adjetivo não difere do proposto pelo "cão". Estamos em greve! E sem perspectivas de sucesso.
ResponderEliminarGostei muito do seu blog. Parabéns!
Profª Léa Paraense Serra
Sociologia nas Escolas Públicas.
Muito obrigada Lea.
ResponderEliminarDeixe o seu contacto ou endereço de blog.
É importante sabermos o que se passa com os nossos colegas, irmãos de língua, desse lado do mundo.
Espero que as negociações corram bem por aí, pois as nossas nunca dão em nada.
Este governo não é negocial.
Volte sempre e escreva para nós.
Um abraço para esse lado do mar.
Infelizmente muitos preferem continuar a tomar aspirinas em vez de tomar atitudes.
ResponderEliminarTivessemos todos, tomado atitudes, talvez outro gao cantasse...
Sem dúvida.
ResponderEliminarEm determinada altura tínhamos tudo na mão.
Parabéns. Mais um blogue excepcional dos professores.
ResponderEliminarJoão Serra
Obrigada, João!
ResponderEliminarVolte sempre, será muito bem-vindo!
Cão amigo, não estejas deprimido.
ResponderEliminarNão é depressão, colega cão.
ResponderEliminarEstou mesmo é cansado de ver estes professores cansados e desanimados.
Às vezes apetecia-me dizer-lhes "se têm medo comprem um cão!"
Mas iria parecer que estava a fazer propaganda à minha raça, quando na verdade, há milénios que os humanos andam convencidos que são os seres superiores da cadeia evolutiva.
Agora então, com exposição do Darwin, o que é que um pobre cão pode fazer?
As baratas são os seres superiores da cadeia evolutiva! Mesmo sem cérebro conseguem sobreviver, com os políticos acontece a mesma coisa. Que nojo.
ResponderEliminarLembram-se da canção do José Barata-Moura?
ResponderEliminar"Eu sou o Dom Pantaleão" e o outro: "e eu sou o cão apenas cão..."!
Hoje, passados 30 anos, ainda é assim: ou "uns" e os "outros".
O cão desta escola convive diariamente com os "cães apenas cães", enquanto os D. Pantaleões se pavoneiam nos gabinetes do ME sem qualquer noção do que passa na realidade.
Tão simples e tão tristemente genuíno...e por isso a força que ele imana. Parabêns!
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