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segunda-feira, 27 de junho de 2011

007 casa-se com Hypatia



James Bond e Hypatia de Alexandria!
Como?
Ok, Daniel Craig e Rachel Weisz.
Até não vai mal, um casamento entre um herói contemporâneo com uma filósofa da Antiguidade!
Isto pode ser explicado na medida em que este herói, ultimamente, anda a ficar demasiado parecido com os heróis trágicos gregos de que falava Nietzsche.

O herói 007, agente secreto dos serviços de sua Majestade britânica, outrora era duro, imbatível e conservava uma espécie de aura de invencibilidade, que o tornava praticamente invulnerável a desgostos de amor e era fisicamente indestrutível.


Nunca se via, na época dos primeiros 007, um Bond triste ou deprimido. E menos ainda ferido, preso, humilhado ou objecto de suspensões por parte dos seus superiores.



Quem não se lembra do 007 de Sean Connery, sempre penteado e sem um arranhão, mesmo depois de passar pelas maiores tropelias, saindo incólume e ainda a compor o smoking? Ou a sorrir matreiro, de cada vez que beijava furtivamente uma das suas Bond-girls, ao mesmo tempo que desarmava um qualquer artefacto montado para o liquidar?


A era de Daniel Craig vem numa sequência já delineada no tempo de Pierce Brosnan, quando o herói começa a humanizar-se, a sofrer, apanhar uma pancadaria monumental, aparecendo humilhado e desfigurado. Nunca no tempo de Connery isto havia acontecido e muitos fãs da série começaram a ficar decepcionados com esta nova faceta de um herói que vai deixando de o ser. A começar por sofrer desgostos de amor.


Nas últimas semanas tive oportunidade de ver Casino Royale e Quantum of Solace. (Um dia explico aos leitores da Pérola de Cultura porque tenho atraso de meses ou anos na visualização dos filmes...)
Achei que 007 já não era um herói com as características iniciais da série imaginada por Ian Fleming.

(James Bond imaginado pelo criador da série Ian Fleming)

Daniel Craig vai ficar bem casado com Rachel Weisz, já que James Bond se tornou num herói compatível com Hypatia de Alexandria. Um herói trágico, que aceita o sofrimento como uma inevitabilidade imposta pelos deuses e continua a sua via sacra de missões que o deixam esfrangalhado, mas mais humanizado do que nunca.

(Hypatia de Alexandria, imaginada por Rafael Sanzio no mural "Escola de Atenas")

Para este James Bond, nada como a mártir Hypatia, tão vulnerável como ele, sujeita aos maus-tratos que os deuses permitem nesta terra, mas com a consciência tranquila de quem cumpriu a sua missão.    

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