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quarta-feira, 22 de junho de 2011

Mulheres com deficiência: a desigualdade

Foto: Pérola de Cultura

Eu comparo a situação das mulheres com deficiência ao fosso entre pobres e ricos: se por um lado há mulheres que são vítimas de múltiplas discriminações e com baixas habilitações, também é verdade que há cada vez mais mulheres com deficiência a conseguir vencer na vida e a tirar um curso superior, constituir família, etc. Como apresentar as mulheres com deficiência, que sempre foram vistas como duplamente discriminadas? Como falar das mulheres que têm sucesso, sem esquecer as restantes - que continuam a ser a maioria – que são altamente discriminadas. Até porque estas realidades se cruzam – não é por terem mais habilitações que as mulheres com deficiência deixam de ser discriminadas e ameaçadas.
O que é importante é dizer que sim, é possível, as mulheres com deficiência terem sucesso na vida – quer a nível pessoal, quer a nível profissional – porque isso é importante para as gerações vindouras (adolescentes e crianças). É importante que essas crianças e adolescentes tenham exemplos de sucesso, para também elas serem mulheres de sucesso.
No que diz respeito à Educação, a maioria das mulheres com deficiência têm baixas habilitações e só cerca de 1% das mesmas são escolarizadas. E para aquelas que têm mais habilitações e que conseguem por exemplo tirar um curso superior que as habilita para a docência, não há qualquer incentivo legal que discrimine positivamente e lhes permita terem acesso à profissão e trabalhar perto de casa, uma vez que na sua maioria são pessoas com problemas de mobilidade. A quota de emprego para cidadãos com deficiência é totalmente ineficaz, no que à Educação diz respeito, por isso há mulheres com deficiência a desistir do Ensino porque não conseguem colocação.
Já para não falar das mulheres e homens com deficiência professores que têm que calcorrear o país para poder trabalhar. Se já é difícil para quem não tem deficiência nenhuma, o que será para os professores com deficiência e com problemas de mobilidade?
Ainda na área da Educação: o Governo PS formou as unidades especializadas colocando as crianças com deficiência à parte das restantes. Que integração e que futuro haverá para essas crianças?
Mas há mais: O Governo definiu na Estratégia Nacional para a Deficiência 2011-2013 (ENDEF) na medida 59, 10 profissões que, segundo eles, se adequam ao perfil e incapacidades dos cidadãos com deficiência, a saber: Assistente Administrativo; Cozinheiro; Empregado de Andares (que eu nem sei o que é); Empregado de Mesa; Mecânico de automóveis ligeiros; Operador Agrícola; Horticultura/Fruticultura; Operador de Acabamentos de Madeira e Mobiliário; Operador de Jardinagem. Isto tudo integrado no programa Novas Oportunidades. Para o Governo os cidadãos com deficiência são uns atrasados mentais que só podem exercer estas profissões (com todo o respeito pelas mesmas, pois todo o trabalho é digno), enquanto outros entram para Medicina pela porta do cavalo das Novas Oportunidades sem nunca terem estudado Química e Biologia. Para o Governo não pode haver cidadãos com deficiência Licenciados, Mestres ou Doutorados. São uns desgraçadinhos que, vejam bem, não conseguem fazer uma carreira superior.
No meio disto tudo, como ficam as mulheres com deficiência que são violadas ou esterilizadas, em particular as mulheres com deficiência mental?
As mulheres com deficiência representam mais de metade dos cidadãos com deficiência, a nível mundial que são cerca de 10%. Em situações de conflito essas mulheres chegam a atingir os 20%. Como combater esta enorme desigualdade a que estas mulheres estão sujeitas?
Ficam as perguntas.

Clara Belo
Bibliotecária
Ex-professora de Biologia e Geologia

2 comentários:

  1. Óptimo texto, Clara! Que bom é haver uma voz que seja capaz de denunciar esta situação! E que bom é existir um Blogue preocupado que o pubique...

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  2. É nossa obrigação, num Blogue preocupado com os direitos humanos, contemplar os direitos das mulheres e das pessoas com deficiência, das crianças, dos idosos, e todas as minorias, sobretudo aquelas mais vulneráveis e que estão sujeitas a maiores discriminações.
    Obrigada por vir aqui e dar força a que continuemos.

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