Fernando António Nogueira Pessoa
Lisboa, 13 de Junho de 1888 - 30 de Novembro de 1935.
Morreu com apenas 47 anos, vítima de cirrose hepática fulminante por abuso de absinto e outras bebidas super-alcoólicas.
Havia nele muitas pessoas, todas elas de muito talento. Recordemos aqui uma delas:
Encostei-me
Encostei-me para trás na cadeira de convés e fechei os olhos,
E o meu destino apareceu-me na alma como um precipício.
A minha vida passada misturou-se com a futura,
E houve no meio um ruído do salão de fumo,
Onde, aos meus ouvidos, acabara a partida de xadrez.
Ah, balouçado
Na sensação das ondas,
Ah, embalado
Na idéia tão confortável de hoje ainda não ser amanhã,
De pelo menos neste momento não ter responsabilidades nenhumas,
De não ter personalidade propriamente, mas sentir-me ali,
Em cima da cadeira como um livro que a sueca ali deixasse.
Ah, afundado
Num torpor da imaginação, sem dúvida um pouco sono,
Irrequieto tão sossegadamente,
Tão análogo de repente à criança que fui outrora
Quando brincava na quinta e não sabia álgebra,
Nem as outras álgebras com x e y's de sentimento.
Ah, todo eu anseio
Por esse momento sem importância nenhuma
Na minha vida,
Ah, todo eu anseio por esse momento, como por outros análogos
Aqueles momentos em que não tive importância nenhuma,
Aqueles em que compreendi todo o vácuo da existência sem inteligência para o compreender
E havia luar e mar e a solidão, ó Álvaro.
Álvaro de Campos
Pintura: Ernâni Oliveira
(Poema enviado por Ana C. Silva)
Deep and lovely thoughts. Is this the poet who sits outside A Brisileria?
ResponderEliminarYes, he is seated outside "A Brasileira", enjoying the sun and looking at the tourists... ;-)
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