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quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Já professor não sou!


«A docência, aquela docência que me trouxe para os trilhos vitalícios da Escola, está completamente esfrangalhada. Da docência que fazia dos professores mestres, apenas restam alguns resquícios que já não chegam para enganar uma vocação. Tal como o poeta, também eu estou tentado a dizer:

«Já Bocage não sou!... À cova escura
Meu estro vai parar desfeito em vento...».

Ser professor, hoje, é viver um frustrante paradoxo: é ter a profissão às costas, a tempo inteiro, como um caracol, e sentir que não há tempo para pensar na espinal medula da nossa missão. Ser professor, hoje, é ter um dia-a-dia quadriculado, uma essência fragmentada em centenas de folhas de papel, de registos vesgos que nada sabem de pedagogia e que detestam os alunos. Ser professor, hoje, é… uma vertigem.

A um ritmo alucinante — louco — tudo muda constantemente, diariamente, como um vulcão ansioso, em constante rodopio, prestes a eclodir: são as leis, os decretos, os despachos, as circulares, as escolas, os agrupamentos, os cursos, os programas, as terminologias, os regulamentos, os projectos, as actas, as grelhas, os grelhados, os assados, os cozidos… Tudo muda, tudo se complexifica, tudo se complica, como uma bola de neve que rola e engorda, enquanto desce, sem saber porquê. A Escola de hoje é um impossível vulcão de neve!

A docência, aquela docência que me trouxe para os trilhos vitalícios da Escola, está completamente esfrangalhada. Já professor não sou!»

Publicada por Luís Costa em Da Nação

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