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quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Professores, carne para canhão (2)



O primeiro comentário do post abaixo é de um frequentador habitual deste Blogue e brilhante ex-aluno da sua editora.


O seu comentário coloca questões pertinentes e que não podem ser respondidas na caixa de comentários. As inquietações deste jovem amigo deixam entrever uma legítima perplexidade, normal em quem contactou recentemente com equipas de professores sérios e empenhados, alguns mesmo, posso dizê-lo, amantes da função docente.


Quando amamos aquilo que fazemos, a paixão transpira-nos das palavras e dos gestos; e no brilho dos olhos vê-se a autenticidade daquilo em que acreditamos. P.D. teve a felicidade de trabalhar com alguns destes professores, o que certamente contribuiu também para a sua entrada na Universidade com que sempre sonhou.


Ele interroga-se: "Se há uma profissão que este país respeita, são os professores.  (...) Como é possível que se veja um professor esgotado física e mentalmente? Como é possível que aqueles que outrora adoraram dar aulas, estejam hoje a odiar a profissão? Como é possível?!" 


Sabemos que a profissão de professor é respeitada pela população como uma das mais nobres. Somente em casos felizmente excepcionais isso não acontece. A explicação é outra.


O que se passa é que as sucessivas tutelas, de há mais ou menos seis anos a esta parte, têm vindo a castigar a classe docente com cada vez mais exigências, mais horas de trabalho, mais burocracia e supressão constante de direitos adquiridos. Para já não falar no completo defraudar das expectativas de carreira, que hoje já não o é. 


Os professores hoje são tratados com funcionários públicos "manga-de-alpaca", uma espécie de pau para toda a obra. O professor é um Faz-Tudo. Nas recentes tomadas de decisão dos governos face à carreira docente não se atende às especificidades da profissão, como seja o número de alunos com que se trabalha, o desgaste que implicam as aulas de 90 minutos, a sobrecarga com tarefas extra letivas e toda uma parafernália de invenções para nos prender ao estabelecimento, retirando-nos tempo para correção de trabalhos e testes, preparação de aulas, tempo para estudar e fazer as necessárias atualizações.


Ou seja, exige-se tudo e não se dá nada em troca. Espreme-se o limão até não dar mais sumo. E depois vem o desencanto. Isso abre caminho aos esgotamentos, às depressões e outras doenças ainda piores.


Duvido muito que haja volta atrás, ou que os desfiles na Avenida da Liberdade só por si, possam inverter esta tendência; ela está a verificar-se por todo o lado. Professores a encherem as ruas de Londres, Paris e Madrid em protestos de uma semana, em que alunos e encarregados de educação se solidarizam com eles, nunca tinha visto. Isto quererá certamente dizer alguma coisa, que deveria ser seriamente repensada por parte dos agentes tutelares das políticas educativas. 

2 comentários:

  1. Lelé,
    conto-lhe que essa situação é muito conhecida e vivida pelos professores brasileiros há mais de 4 décadas e sem perspectivas de melhoras a cada nova gestão que sobe ao comando da área da educação.a pertinente colocação feita pelo estudante ressoa na mente de muitos professores brasileiros que apesar de esforço e comprometimento não sustem mais forças físicas p/ a pulverização que sofrem no desempenho da profissão.
    Todas as obrigações e dificuldades que vc listou não são menores por aqui, juntando-se à elas o clima de insegurança em alguns logradouros.
    Compreendo a data brasileira do dia 15/10__ Dia do Professor, como chacota propositada.
    Me solidarizo com todos os colegas de profissão.
    Bjos,
    Calu

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  2. A mais nobre profissão que existe são os professores! Quem mais contribui para a formação dos jovens, não só a nível intelectual, mas também cívico? Hoje, mais do que nunca, os professores tornaram-se educadores, encarregues de todo o processo de construção dos alunos. Quereremos nós docentes a transmitir frustração, desgaste e facilitismo, em vez de rigor, exigência e empenho?!

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