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quarta-feira, 18 de abril de 2012

Antero de Quental poeta e filósofo

Pintura de Domingos Rebêlo (1891-1975)
Logos
Tu, que eu não vejo, e estás ao pé de mim 
E, o que é mais, dentro de mim — que me rodeias 
Com um nimbo de afectos e de idéias, 
Que são o meu princípio, meio e fim... 

Que estranho ser és tu (se és ser) que assim 
Me arrebatas contigo e me passeias 
Em regiões inominadas, cheias 
De encanto e de pavor... de não e sim... 

És um reflexo apenas da minha alma, 
E em vez de te encarar com fronte calma, 
Sobressalto-me ao ver-te, e tremo e exorto-te... 

Falo-te, calas... calo, e vens atento... 
És um pai, um irmão, e é um tormento 
Ter-te a meu lado... és um tirano, e adoro-te! 


Voz Interior(A João de Deus) 

Embebido n'um sonho doloroso, 
Que atravessam fantásticos clarões, 
Tropeçando n'um povo de visões, 
Se agita meu pensar tumultuoso... 

Com um bramir de mar tempestuoso 
Que até aos céus arroja os seus cachões, 
Através d'uma luz de exalações, 
Rodeia-me o Universo monstruoso... 

Um ai sem termo, um trágico gemido 
Ecoa sem cessar ao meu ouvido, 
Com horrível, monótono vaivém... 

Só no meu coração, que sondo e meço, 
Não sei que voz, que eu mesmo desconheço, 
Em segredo protesta e afirma o Bem! 





































Antero de Quental, in "Sonetos"


Esta é a minha singela homenagem a um dos maiores pensadores do século XIX em Portugal. 

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