(Foto de Beatriz Batarda, mulher de Bernardo Sassetti)
A Basílica da Estrela foi pequena para todos os que quiseram despedir-se de Bernardo Sassetti.
Vazio só ficou um corredor imenso, atapetado a vermelho, que a custo os muitos amigos deixaram, para o caixão passar, transportado em ombros até junto à nave central.
A atmosfera da Basílica, já de si muito pacificadora, ganhou um silêncio reverencial, só quebrado pelos primeiros acordes do piano, onde Mário Laginha e Pedro Burmester fizeram questão de tocar algumas das mais belas composições de Bernardo Sassetti. Um coro angelical entoou Hossanas e Ave Marias em latim; o saxofone e os violinos fizeram o resto daquela hora sublime.
Se Bernardo pudesse ouvir, ficaria certamente deliciado com o magnífico concerto ali tocado e sorriria, como tantas vezes o vi fazer, em alturas em que parecia arrancar do piano sons vindos do infinito.
Ontem à noite Bernardo não subiu ao palco, não tocou o seu piano, era apenas um possível ouvinte, a quem muitas pessoas honraram com o mais forte e mais longo aplauso em pé a que alguma vez assisti. Esta foi provavelmente a maior ovação de toda a carreira do Bernardo. É que este era o último e definitivo aplauso. Pelo muito que deu à Arte e à Cultura portuguesa. Pelo muito que ficou ainda por dar. Pela inevitabilidade revoltante desta despedida tão contrariada, tão repentina e tão brutal.
No seu derradeiro voo em busca do azul, Bernardo sobe ao céu, pois esse é o único lugar onde podem viver as estrelas.
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