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A propósito
da exposição “Peregrinação”, que se encontra no CNBDI inserida no tema –
Autobiografia – do Festival Amadora BD 2012…
Fernão Mendes Pinto "Peregrinação"
1ª página, 1ª edição
É muito
conhecida a expressão “Fernão mentes? Minto” que durante muitos anos acompanhou
a obra “Peregrinação”, depreciando-a.
A
Peregrinação é, hoje, considerada por estudiosos e investigadores uma obra-prima
da literatura portuguesa do século XVI, ombreando com “Os Lusíadas”.
“Os Lusíadas”
é uma obra clássica, uma epopeia que celebra e enaltece o povo português, isenta
de críticas, contemplando, também, a ficção.
Fernão
Mendes Pinto criou outro género de literatura, mais realista, talvez com menos
técnica. Ele relata a sua história, o que sentia na pele, o que via com os seus
próprios olhos, denuncia intrigas, corrupção, analisa os comportamentos dos
homens, a possível intervenção divina, sempre na primeira pessoa.
Segundo
alguns analistas a “Peregrinação” não poderá ser lida no sentido restrito de
uma viagem pois os símbolos de fé e acontecimentos nela contidos conduzem também,
a uma leitura de jornada missionária. Outros, ainda, admitem que poderá ser considerado
o primeiro livro de viagens da literatura portuguesa, sendo, no entanto,
superior como obra.
As suas
descrições sobre animais e paisagens exóticas e situações difíceis de conceber
eram extraordinárias e um desafio à imaginação dos leitores da época, que
desconheciam completamente o mundo asiático.
Existem
dúvidas de que todas as descrições tenham sido, realmente, vivenciadas por
Fernão Mendes Pinto, calculando-se que ele utilizou relatos de outras pessoas,
que soube incorporar muitíssimo bem, e que utilizou alguma ficção. Contudo,
cotejando a “Peregrinação” com obras de autores eruditos e reconhecidos como João
de Barros, Fernão Lopes de Castanheda ou Gaspar da Cruz, e, ainda, com base em
estudos de documentos asiáticos, foi ficando confirmado que todas as
informações estavam certas, que Fernão Mendes Pinto relatou a realidade e que todo
o texto é considerado fiável e uma inestimável fonte de informação para se
conhecer tudo por que passavam os navegadores e aventureiros que embarcavam nas
caravelas portugueses a caminho do oriente.
Foi no
contexto a seguir à assinatura do Tratado de Tordesilhas, quando Espanha e
Portugal dividiram as terras descobertas e a descobrir, numa época de navegação
no auge, Portugal apostando na expansão do comércio e da fé, no oriente, que
Fernão Mendes Pinto resolveu embarcar para a Índia. Tinha então 28 ou 30 anos. Durante
21 anos, exerceu funções diplomáticas entre outros cargos, foi 13 vezes cativo
e 17 vendido e entre muitas mais coisas protagonizou a entrega da primeira
espingarda ao “Daimio” japonês, episódio que ainda hoje é celebrado e perdura
na memória cultural japonesa.
Encontrou
paz ao conhecer São Francisco Xavier e resolveu ingressar como noviço, na ordem
religiosa dos jesuítas. Por fim, em 1558, desiludido, regressou à pátria,
instalou-se no Pragal-Almada onde escreveu a sua epopeia realista.
A
“Peregrinação” só viria a ser publicada em 1614, 31 anos após a sua morte, não
sendo talvez alheios a esse facto o “Santo Ofício” e a própria Companhia de
Jesus a que pertencera. Apesar das omissões, cortes ou alterações que o
original poderá
ter sofrido
a edição obteve de imediato um enorme sucesso. Dezanove edições em 6 línguas.
Fontes:- Documentário sobre a Peregrinação de Fernão Mendes
Pinto da Série da RTP “Os Grandes Livros”-2009. Neste documentário foram
incluídas páginas e vinhetas da BD de José Ruy.
-Wikipédia
Tita Fan