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sábado, 9 de janeiro de 2010

Hannah e Martin ou a paixão impossível



Hannah Arendt e Martin Heidegger, ela aluna, ele professor, apaixonam-se física e intelectualmente numa Alemanha pré-nazi. Em 1924, tinha ela 18 anos, o fascínio pelo brilhantismo filosófico do mestre toma conta desta jovem judia, que ultrapassa o facto de Heidegger ser casado e pai de dois filhos. Os encontros dão-se entre os livros, as conversas, as traduções e o cottage que ele tem no campo - para trabalhar isolado - que se torna num ninho de amor e paixão.

Os problemas começam quando o partido nazi toma conta do poder, Heidegger assume a Reitoria da Universidade onde lecciona e perfilha dos ideais do nacional-socialismo.
Ela judia, ele pró nazi, a relação torna-se impossível e Hannah foge da Alemanha primeiro para Paris e depois para os Estados Unidos da América, via Lisboa.

Entretanto, Karl Jaspers e a sua mulher tornam-se amigos e confidentes de Hannah, que com eles desabafa as suas mágoas em relação às opções de Martin.

Mais tarde o reencontro é necessariamente amargo para os dois; mas Hannah acaba por redigir cartas à Universidade a pedir a reintegração de Heidegger, que, segundo ela, merece uma segunda oportunidade, já que, efectivamente ele era contra a violência e não esteve directamente envolvido nos crimes contra a humanidade cometidos pelos nazis.

A minha leitura desta peça baseada na correspondência trocada ao longo de décadas entre os dois filósofos, é que Heidegger, como provavelmente muitos intelectuais alemães daquela época, terá mesmo acreditado nos ideais do nacional-socialismo como sendo valores positivos e defensáveis, não podendo antever as consequências terríveis que eles vieram a acarretar.

Pelo que se vê na peça acerca do perfil da sua mulher, ela sim, seria anti-semita e xenófoba; e, dado o seu carácter autoritário e dominador, poderá ter influenciado negativamente Heidegger, a quem Hannah Arendt, no final, pretendeu reabilitar.

Brilhantes interpretações de Rui Mendes (Heidegger), Ana Padrão (Hannah Arendt), Irene Cruz (mulher de Heidegger) e Luís Alberto (Karl Jaspers).

Recomendo às pessoas da Filosofia e não só.
No Teatro Aberto, em Lisboa, até finais de Fevereiro.

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