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sexta-feira, 15 de outubro de 2010

A não-apresentação do orçamento na AR


Por sorte ou azar eu estava em serviço. Se estivesse sozinha não teria tido tamanha paciência para aturar uma sessão de nada na Assembleia da República. Show triste do primeiro-ministro-Armani-de-gravata-laranja. Era suposto apresentar o orçamento. Tal não aconteceu. O ministro das Finanças nem sequer lá apareceu, talvez pressentindo bordoadas. Isabelita das Aventuras apareceu ensonada com uma escassa hora e cinco minutos de atraso - pas mal du tout para uma senhora que se maquilha e usa jóias, carteira a condizer com o tailleur!

Passou-se uma manhã de sessão parlamentar, mais uma, entre a dezena de vezes em que foram discutidos apenas os aspectos gerais do orçamento. De consequências terríveis, diga-se de passagem. O que não parece incomodar muito, ou mesmo nada, o governo. Pelo contrário, o PM quer, como sempre, que tenham pena dele:

- "As famílias não sabem o que hádem fazer , sr. primeiro-ministro!", afligia-se Jerónimo.
- "O sr. primeiro-ministro não responde a nada!", lamentava-se Miguel.
- "O senhor só desconversa!" impacientava-se José.
- "Para onde foi o dinheiro, sr. primeiro-ministro?", inquiria Paulo.
- "Ninguém se importa com o primeiro-ministro!", choramingava José.
- "Ó sr. primeiro-ministro, deixe de se armar em Calimero!", replicava, irritado, Paulo.
- "O sr. primeiro-ministro mentiu! Indignado, levantou-se, olhou para o país e disse: «não mexemos em nada nas deduções fiscais»", acusava, impiedoso, Francisco.
- "Quem mentiu foi o sr. deputado. É um Professor de Economia e ainda não sabe o que deve e o que não deve ser dedutível!" contra-atacava José.
- "Vou com todo o gosto, sr. primeiro-ministro, explicar-lhe coisas que são óbvias.", satirizava Francisco.

E assim, de sorriso amarelo persistente, sem saber para onde se virar, mas sempre de indicador em riste, como é do seu figurino, pedindo copos de água atrás de copos de água, o PM nunca deu contas, nunca explicou para onde foi o nosso dinheiro e o que efectivamente correu mal para chegarmos onde chegámos (e onde nunca deveríamos ter chegado).

Quando confrontado, o PM não hesita em acusar os opositores de "ressentimento, vingançazinha, hipocrisia política, quadro mental de sectarismo histórico para com o PS, cegueira, baixa e básica demagogia"(cit.)

Mais uma vez, para nosso descontentamento, vimos desfilar o espectáculo de um Sócrates que não faz jus ao nome que carrega, ou, dito de outro modo, em vez de um closet cheio de griffes, precisava de um banho de responsabilidade ética, para variar... 

2 comentários:

  1. Olá Lélé!

    Boa análise do que se passou oje na AR, mas o pior é que o povo português continua burro e ignorante. Depois de todas estas desgraças as sondagens dizem que o povo votava nele de novo. Será que não aprendem nunca!

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