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domingo, 13 de março de 2011

Somewhere may be a rainbow


Ao eventual e simbólico ronco do Porsche negro de Johnny Marco, o actor de Hollywood celebrado por todos menos por si próprio, na verdade cada vez menos, vamos de uma pista algures, no início do filme, para uma estrada algures no deserto do Nevada, no final.
O ronco viril e animalesco do automóvel contrasta fortemente com o alheamento, a apatia e o desinteresse do seu proprietário, cujo quotidiano é ditado por compromissos que não decidiu… até que recebe a visita da sua filha de 11 anos, Cleo, de cuja vida sempre esteve ausente. E na estrada algures, no final, Johnny parece ter finalmente tomado um rumo. Aparentemente, terá decidido resgatar o passado, no que isso for possível, e justificar o presente.


“ALGURES” (“SOMEWHERE”), de Sofia Coppola, é um filme singular, que ao ritmo lento da narrativa nos leva do exterior ao interior, como o foi “O amor é um lugar estranho” (“Lost In Translation”); é um filme intimista, feito de silêncios, gestos e olhares. A este respeito, a actuação de Elle Fanning – que interpreta Cleo – é francamente notável. A de Stephen Dorff –Johnny, perdido algures – é também excelente, pela consistência e contenção. E a escrita e direcção “cool” de Sofia é segura e muito pessoal, captando a relação de pai e filha, por exemplo na magnífica cena da piscina.


Ganhou o Leão de Ouro, em Veneza. Ainda bem que o cinema, por vezes, é um lugar estranho!

 




Luís Diferr

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