Os alunos mais irritados e tristes moram no Alentejo Sara R. Oliveira | 2012-03-16
"Os jovens estão a fumar e a beber menos, praticam mais atividade física e são mais precavidos nas relações sexuais. O gosto pela escola tem vindo a diminuir e a pressão com os trabalhos de casa a aumentar. Os dados são revelados num estudo da OMS."
Desde há muito que os estudos efetuados demonstravam ser o Alentejo a província de Portugal com taxas mais elevadas de suicídio. Pensava eu que isso era coisa do passado salazarista e cinzento em que cresci. De uma portugalidade fatalista e conformista, em que a tragédia era parte de uma cultura de pobreza, miséria e medo.
Nasci num tempo em que em quase todas as famílias do Alentejo havia alguma história de suicídio. A repressão e o isolamento tinham certamente a sua quota parte de responsabilidade nesses números. Mas também uma herança cultural, reproduzida ou cultivada, segundo a qual as questões de honra se resolviam com o suicídio.
Por exemplo, a respeito das infidelidades das mulheres, um árabe mataria mulher, mas um alentejano, não. "Se sou cabrão, não tenho cara de enfrentar o povo todo olhando para mim". Assim, em vez de matar o "bandido" que lhe desgraçou a vida, como faria o nortenho, o alentejano apagaria a sua dor pendurando-se no sobreiro mais próximo. O mesmo era válido para situações de falência ou dívidas insolúveis.
Assim, essa espécie de fuga para a frente que é o suicídio, aparece não só como forma de salvação, mas também para repor a dignidade social, "limpando o nome".
"Tristeza" + "irritação" = depressão. São 11,3%, a maior percentagem do país!
Num adulto é grave. Se não for tratado, pode tornar-se crónico. Em crianças ou adolescentes, a depressão ainda é pior do que nos adultos, pois os jovens têm menos poder de reflexão e podem facilmente cair na tentação do suicídio.
Ter uma população estudantil cronicamente deprimida é um caso de Saúde Pública, que ultrapassa os agentes em presença na Escola.
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