Era bom demais para ser verdade, que alguma coisa se pudesse fazer sem a respetiva guerrinha. Tudo gera polémicas, oposições e inimigos figadais. O Acordo Ortográfico não é exceção. Como quase todo o resto, transformou-se numa batalha com contornos políticos.
Neste país está a tornar-se moda os governos dizerem uma coisa e depois vir alguma coisa que os desautoriza. Não está em causa a justeza ou a pertinência dessas ordens, mas que sistematicamente as decisões se façam e desfaçam, faz lembrar uma teia de Penélope.
Desculpem os opositores ao A.O. mas depois de ações de formação obrigatórias nas escolas, manuais editados e instruções de como ensinar aos alunos a nova grafia, parece um nadinha atrasada a polemização de uma medida que já tinha sido implementada (e, para alguns, a muito custo). Porque não se discutiu a questão há um ano? Ou mais para trás ainda, antes da assinatura do Acordo?
Não será isto, por acaso, andar a gozar com a cara dos professores? Cá a mim parece-me. Mas também me parece que é para o lado que o secretário de estado Viegas dorme melhor. Deve estar mais preocupado em não contrariar o seu amigo Graça Moura, a quem empossou como diretor do CCB, desde o princípio um dos maiores opositores ao A.O. A notícia ridícula é esta:
Francisco José Viegas afirmou ontem que o Governo se prepara para alterar o Acordo Ortográfico até 2015 e que cada português é livre para escrever como entender. (EXPRESSO)Como vai o secretário Viegas articular esta decisão de alterar o A.O., uma coisa que o MEC já mandou implementar nas escolas há meio ano? Não são agentes do mesmo governo? Em que ficamos?
Tenho vindo a utilizar minúsculas e a suprimir consoantes mudas nos textos do Blogue desde o dia 1 de setembro, data em que, no meu local de trabalho fui compelida a fazê-lo em todos os textos escritos, qualquer que fosse o seu teor. Até ordem expressa em contrário, escreverei assim. A maior parte dos colaboradores do Blogue também está a usar a nova ortografia nos textos, antes mesmo de eu ter decidido implementá-la.
Por favor, entendam-se de uma vez as cabecinhas pensadoras. Mas sem fazer disto uma questão política ou guerrinhas de poderes, cada uma no seu quintal.
A questão deve ser devolvida a quem de direito: aos especialistas em Linguística, à Academia das Ciências, mas não aos políticos, que só por mero acaso, às vezes, são também escritores.
Cada um fazer como quer não é nada. A ortografia deve ter uma norma comum aos falantes da mesma língua, ou, no mínimo, aos habitantes da mesma comunidade territorial. Ou não???
A Associação de Professores de Português reagiu assim a esta declaração do secretário de estado.
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