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quarta-feira, 24 de junho de 2009

Aprender?...isso custa muito!


"É maravilhoso quando ensino, especialmente a pessoas que querem aprender.

Isto torna-se ainda mais gratificante quando tenho alunos com 60 ou 70 anos, que nunca tocaram num computador e ao fim de um ano, embora com as limitações naturais de todos os factores envolventes a esta situação, já dominam a sua utilização.

Até aquela coisa esquisita a que lhe dão o nome de rato e que mais parece coisa do demo pois, no início “nunca vai para onde quero” e “nunca carrego no botão ou no local certo”, nem com a rapidez necessária, já se encontra dominado.

O sucesso é tão grande que, estas pessoas, ao fim de dois, três anos, tal como as crianças e os adolescentes, ficam viciados no computador e na Internet. Estão sempre a encher as caixas de correio electrónico uns dos outros e também as dos professores.
Esta é a maravilha da nossa essência humana... quando queremos, repito, só quando queremos, podemos aprender e evoluir na nossa pequena caminhada que é a vida... citando palavras do Ministério da Educação numa das suas divulgações sobre as novas oportunidades, "aprender até à cova"...

A diferença entre quem quer aprender e a maioria dos que vão para as novas oportunidades, é abismal, já que estes querem uma certificação, não pretendem aprender, até porque isso custa muito e dá trabalho...

No entanto isto até dá "jeitinho" a todos os que fazem a certificação nos centros de RVCC - Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências :

- os formandos ficam com um certificado de habilitação literária, que pode ir até ao 12º ano;

- o Centro recebe subsídios;

- os formadores são pagos;

- foi criado um novo técnico, também pago, para validar o formando;
- e, por fim, o governo mostra as estatísticas provando que temos menos pessoas iletradas.

Eu interpreto isto de outra forma: antes existiam muitos incultos, agora existem os mesmos incultos mas certificados.

Existe um problema de fundo no nosso ensino que, a quem de direito, deveria investigar. É um facto que, uma percentagem significativa dos alunos que chegam ao segundo ou terceiro ciclo do ensino básico, estão com problemas. Não estão motivados para a escola, não gastam de aprender, tudo “é uma seca e dá muito trabalho”, não levam o material escolar para a aula, não respeitam ninguém, etc.

Claro que isto se transforma num problema nacional de que se tem falado muito: o abandono escolar e a falta de aproveitamento.
Solução actual para esta situação: Cursos de Educação e Formação de Jovens. Os jovens frequentam estes cursos que, devido à sua natureza enquanto alunos, são muito simplificados; ficam com a habilitação do 9º ano mas não com as suas competências.

De todos os que vêm destes cursos e continuam a estudar no 10º ano, mais de 80% abandona os estudos antes do fim do ano lectivo. Entretanto, os alunos que já têm o 9º ano e mais de 18 anos, já podem ir trabalhar. É incrível, mas para o governo isto é um sucesso. Não sou perito na área, mas é fácil ver que estamos a remediar o mal que existe em vez de se efectuar um estudo profundo, desde o primeiro ano, para apurar as suas razões e, assim, criar um plano que ultrapasse verdadeiramente esta situação.

Além disto, os alunos que já tenham 18 anos e não tenham conseguido terminar o CEF ou tenham abandonado o 10º ano, podem ir a um centro de RVCC e, em 3 ou 6 meses certificarem-se, respectivamente, com o 9º ou 12º ano. Atenção que esta certificação baseia-se na experiência de vida pessoal e profissional. Estão a ver que tipo de experiência de vida pode ter um "miúdo" destes..."


O que não sabe pensar

1 comentário:

  1. Tocam-se aqui vários aspectos...
    Ensinar a idosos, é gratificante. Mesmo muito!
    Certificar pela experiência de vida quem nunca nada fez!!!??? Nem sei que diga!Neste País combatem-se as más estatísticas à paulada,ou às resmas....é como der mais jeito!!!!!!

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