“A
mania de escrever acarreta por si só muitos enfados, muitos desgostos, e até
muitas desgraças. Eu tenho passado a vida a rabiscar coisas. Que tenho ganho
com isso? Nada!”
W.M.
Estas linhas podem ler-se antes do
prefácio à 2ª edição -1946, de “Traços do Extremo Oriente”, o primeiro livro de
Wenceslau de Moraes a ser publicado. Alguns dos textos já tinham saído anteriormente
no Correio da Manhã, sob o pseudónimo de A. Da Silva.
No prefácio à 1ª edição – 1895, escreve
Vicente Almeida d’Eça:
“…merecendo o qualificativo de bom
oficial é ao mesmo tempo um coração de ouro e um cavalheiro da mais alta
distinção. É um triste, magro, loiro, de olhos azuis e cismadores, retraído na
mais concentrada modéstia. A publicação do seu nome à frente dos Traços foi uma
luta…”.
Continuou a escrever para jornais e
a publicar livros, numa escrita elegante e impressionista, onde transparece a
sua grande paixão pelo Oriente. É, sem dúvida, o grande orientalista da
literatura portuguesa, dos finais do Séc. XIX - princípios de XX.
Wenceslau
José de Sousa de Moraes nasceu em Lisboa, a 30 de Maio de
1854, filho de pais cultos e
com gostos literários. Existem provas da sua precocidade para a escrita: um diário
infantil de poucas páginas, que escreveu aos 11 anos; uma peça de teatro e uma coleção
de poemas, ambas breves, que escreveu aos 15 anos.
Completou
o curso da Escola Naval em 1875. A bordo de diversos navios da Marinha de
Guerra Portuguesa, visitou a América, a África, e vários países asiáticos. Os
primeiros escritos da China datam de 1888.
Em
1891 em Macau, desempenha as funções de imediato do capitão do porto, e, em
1894, logo após a sua fundação, começa a lecionar matemática no liceu, onde foi
colega de Camilo Pessanha com quem manteve uma forte e duradoura amizade.
Casou à maneira legal da China com
Atchan, jovem chinesa propriedade de outra chinesa, mais tarde Sra. Mo Wong Shi
Moraes de quem teve os seus dois únicos filhos: José Moraes, que viria a ser
negociante na Califórnia e João Mores, engenheiro civil.
Wenceslau
de Moraes sempre se interessou por tudo o que se passava em Portugal, tendo
mantido sempre uma grande ligação com sua irmã mais nova, Francisca, a quem enviava
presentes e recordações e até sementes de plantas para o jardim. Existe muita
correspondência, entre a qual mais de 400 postais, o que permite acompanhar as suas
múltiplas viagens.
Durante
a sua estadia em Macau, visitou, em serviço, por diversas ocasiões a China. Deslocou-se,
também, várias vezes ao Japão, entre 1893 e 1896. Na sua opinião, entre estes
dois países existiam diferenças profundas. Descreve a China referindo-se "à imundície dos seus povoados, onde chafurda um cardume de gente
feia por excelência...".
Também
não é muito benevolente com Macau, que tardou em perdoar-lhe. Aceitam que, na sua
permanência na China, prevaleceu a saudade de Portugal e da família, pelo que
não se teria deixado tocar pela cultura.
Mas,
segundo ele, é o Japão que o fascina desde logo: "esse país atraente entre todos, pela sua paisagem ameníssima, pelo
puro azul do céu privilegiado, pelo seu povo interessante...".
Esta preferência e também
o ter sido preterido na sua carreira, em Macau, leva-o, em 1896, a deixar
mulher e filhos (o sentido de paternidade não se fazia sentir muito naquela
época), e a partir para o Japão, onde viverá perto de 31 anos.
Fontes:
Filme
de Paulo Rocha, “A Ilha de Moraes”
Dicionário
Cronológico de Autores Portugueses, vol. II
Dicionário
Ilustrado da História de Portugal, Vol. II
Livros
de Wenceslau de Moraes – biblioteca pessoal
Texto de Tita Fan
Fotos de José Ruy e Associação Wenceslau de Moraes